A **pesca no AM** capturou a atenção de milhares de internautas em outubro com a viralização de um vídeo extraordinário. Nas imagens, um barco pesqueiro no Rio Purus, localizado no interior do Amazonas, é visto transformado em uma verdadeira “piscina” transbordando com uma vasta quantidade de peixes, revelando a impressionante abundância da vida aquática na região.
O autor da gravação, o experiente pescador Ediel Maciel, compartilhou com o g1 que este espetáculo de fartura é uma ocorrência habitual durante o período que antecede o defeso. Esta é a fase crucial em que a captura de diversas espécies é temporariamente suspensa, visando a proteção dos estoques pesqueiros e a garantia de sua reprodução saudável.
Pescadores no AM Filmam Impressionante Fartura de Peixes
Maciel, que reside na região há 45 anos, explica que o Rio Purus é reconhecido por sua rica biodiversidade. “Todo ano é assim. A diferença é que desta vez resolvemos filmar e publicar o vídeo”, afirmou. O registro audiovisual foi realizado entre meados de setembro e o início de outubro, precisamente quando espécies como o pacu, a sardinha e o caracu se agrupam em grandiosos cardumes. Segundo o pescador, esse fenômeno natural não apenas assegura a continuidade da vida selvagem, mas também é vital para o sustento de inúmeras famílias que dependem do rio.
A prática da pesca no Rio Purus, conforme Ediel Maciel, é sustentável e planejada. Ele detalhou que o grupo utiliza redes específicas, conhecidas como “malha 20”, que possuem espaçamentos calculados para permitir a fuga de peixes menores, preservando os juvenis. A seleção é feita a bordo: “Um cardume desses pode ter de 300 mil a 400 mil peixes. Depois a gente passa na catadeira, que solta os pequenos e fica só o que o mercado compra”, explicou. Essa técnica auxilia a garantir que apenas os peixes com tamanho comercialmente viável sejam mantidos.
Regulação do Defeso e Sustentabilidade Local
O período de defeso, que abrange de 15 de novembro a 15 de março, é crucial para a recuperação e preservação das espécies aquáticas no Amazonas. Durante esses meses, a pesca de pacu e sardinha é totalmente proibida, pois os peixes estão “ovados”, ou seja, em fase de reprodução. Ediel defendeu a prática local, contestando as críticas sobre o esgotamento dos peixes: “Muita gente fala que a gente vai acabar com o peixe, mas cada ano tem mais”. Ele reitera que o respeito a esses períodos de restrição é o que permite o constante retorno e até o aumento da população de peixes.
A publicação do vídeo nas redes sociais superou 400 mil visualizações, surpreendendo o próprio Maciel pela vasta repercussão. Apesar do sucesso, ele reforçou a mensagem de que a abundância não é uma anomalia, mas sim o resultado de um ciclo respeitado: “Primeiro que a gente preserva na época da ova, que é esse período agora, de 15 de novembro até 15 de março, a gente para de pescar essa espécie, que é a época da ova. Ninguém pesca ele na época da ova.”
Comercialização da Pesca e Alerta de Especialistas
A vasta quantidade de peixes capturada pelas comunidades do Purus é, em parte, consumida localmente, onde há fartura de diversas espécies. O excedente da produção, no entanto, é essencialmente encaminhado para a capital, Manaus. Nos “barcos geleiros”, o pescado é transportado até a movimentada feira da Panair, um dos principais pontos de comercialização de produtos frescos na cidade, de onde segue para mercados e frigoríficos.

Imagem: g1.globo.com
Enquanto a fartura alegra os pescadores, o Dr. Edinbergh Oliveira, especialista em Ecologia Aquática, emite um alerta. Segundo o pesquisador, o tipo de pescaria em grande volume, observada no vídeo e que ocorre imediatamente antes do defeso estadual, pode acarretar riscos significativos à reprodução das espécies migratórias. Em suas análises, Oliveira aponta que “esse tipo de pescaria, um pouco antes do defeso, prejudica a saída dos peixes que irão desovar.” A época de chuvas e o subsequente aumento do nível dos rios induzem os peixes a migrar rio acima, buscando áreas específicas para desova onde os ovos e larvas podem alcançar as várzeas e lagos, essenciais para seu desenvolvimento. Portanto, a sobrepesca neste momento crítico pode ter impactos duradouros nas futuras gerações de peixes como jaraquis e pacus. Regulamentações, como as emitidas pelo Ibama, estipulam cotas de pesca e proibições em áreas sensíveis, mas a falta de fiscalização adequada pode comprometer a sustentabilidade dos estoques pesqueiros na região.
A Resiliência de Ediel Maciel e o Ciclo da Natureza
A vida de Ediel Maciel no Amazonas é marcada não apenas pela rotina da pesca, mas também por desafios pessoais profundos. Ele é um dos afetados pela tragédia do deslizamento de terra que devastou uma vila em Beruri (AM) em 2023, onde perdeu sua casa e seu filho de 16 anos. “Foi a maior dor da minha vida. Perdemos tudo, mas estamos reconstruindo”, relatou o pescador, mencionando que recursos federais já estão sendo aplicados nas obras de recuperação. Hoje, vivendo em Beruri, ele ainda retorna ao Purus para garantir o sustento através da pesca, reiterando que a comunidade local depende intrinsecamente do ciclo natural do rio, onde cada estação traz uma nova fase de abundância. “Depois dessa época da piracema, a gente começa o manejo do pirarucu e do tambaqui nos lagos. Cada período tem o seu peixe. O que o pessoal viu no vídeo é só um pedacinho da riqueza do nosso rio”, concluiu Maciel.
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A notável fartura de peixes no Rio Purus, no interior do Amazonas, como demonstrada no vídeo que viralizou, sublinha a profunda conexão e dependência entre as comunidades ribeirinhas e o ecossistema fluvial. O fenômeno, embora habitual antes do período de defeso, ressalta a importância de práticas de pesca sustentáveis e do cumprimento das regulamentações para garantir a perenidade dos recursos naturais. Para explorar mais a fundo as questões ambientais e o impacto da vida local em outras regiões brasileiras, convidamos você a continuar a leitura em nossa editoria de Cidades.
Crédito da imagem: Reprodução/Redes Sociais



