O presidente de Camarões, Paul Biya, vence reeleição no Camarões aos 92 anos, foi declarado vitorioso nas recentes eleições do país, marcadas por questionamentos e denúncias de diversas irregularidades. Este novo triunfo significa que o líder mais longevo em exercício no cenário político mundial poderá comandar a nação da África Central até a notável idade de 99 anos, caso cumpra integralmente seu oitavo mandato.
O chefe de Estado, atualmente com 92 anos, angariou 53,7% dos sufrágios no pleito realizado em 12 de outubro. Seu principal adversário, Issa Tchiroma Bakary, que havia se desligado de seu cargo ministerial em junho, obteve 35,2% da preferência eleitoral. Os números foram oficialmente divulgados por Clement Atangana, presidente do Conselho Constitucional de Camarões, na última segunda-feira (27).
Paul Biya vence reeleição no Camarões aos 92 anos
Apesar da confirmação dos resultados, o processo eleitoral enfrentou sérias críticas. Na semana anterior ao anúncio, o Conselho Constitucional declinou de apreciar petições submetidas por setores da oposição e organizações civis. Estes grupos haviam alegado um leque de irregularidades significativas que, em sua visão, comprometiam a integridade do pleito. As denúncias incluíam episódios de assédio a eleitores, reordenamento questionável de seções eleitorais e uma contagem de votos inflacionada.
Resultados Contestados e a Reação da Oposição
Issa Tchiroma Bakary, um dos nomes que disputaram a presidência, antecipou-se ao veredicto oficial ao se declarar vencedor e instou seus apoiadores a organizarem manifestações pacíficas, ignorando a proibição de encontros públicos estabelecida pelas autoridades. A tensão escalou rapidamente, culminando em confrontos no domingo na cidade de Douala, a metrópole mais populosa de Camarões, onde, conforme informações da Agência France-Presse citando o governador regional Samuel Dieudonne Ivaha Diboua, pelo menos quatro indivíduos perderam a vida em embates entre as forças de segurança e manifestantes simpatizantes de Bakary.
A candidatura de Paul Biya foi impulsionada pelo Movimento Democrático do Povo de Camarões. Com a vitória garantida, sua posse está programada para o dia 6 de novembro, na capital, Yaoundé. Contudo, o ambiente pré-eleitoral não foi isento de controvérsias. Das 83 pessoas que expressaram a intenção de concorrer à presidência, apenas 12 foram de fato habilitadas. Essa restrição suscitou vigorosas críticas por parte da oposição e de entidades defensoras dos direitos civis, que consideraram que a disputa eleitoral não se desenvolveu em um ambiente livre e justo. Maurice Kamto, líder do principal partido de oposição e forte concorrente de Biya na eleição de 2018, foi um dos nomes vetados, sob a alegação de que sua legenda havia submetido candidaturas duplicadas, configurando uma suposta infração às regras eleitorais.
Liderança Estendida e Preocupações com a Governança
O extenso período de governo de Biya já totaliza 43 anos, uma marca que significa que a vasta maioria dos cidadãos camaroneses, cuja média de idade é de 18 anos, nunca experimentou um líder político diferente. Sua avançada idade e a periodicidade esporádica de suas aparições em público frequentemente geram apreensões sobre seu estado de saúde, alimentando indagações e especulações a respeito de quem assumiria o comando do país caso o presidente venha a falecer durante o exercício do cargo.
Conforme a legislação constitucional de Camarões, em caso de vacância presidencial por morte, o presidente do Senado automaticamente ascende à posição de líder interino. Ele teria a responsabilidade de organizar novas eleições dentro de um período máximo de 120 dias a partir da data de vacância. Contudo, Marcel Niat Njifenji, o atual presidente do Senado, também é nonagenário, com 91 anos, e enfrenta desafios de saúde, condição que tem sido corroborada por diversas declarações do próprio Senado, aprofundando as incertezas sobre a estabilidade institucional. Tais alegações e o ambiente de suspeita em torno das eleições sublinham a importância da observância de princípios democráticos e de transparência, conforme defendido por organizações como a Human Rights Watch em suas análises sobre situações de violação de direitos humanos e irregularidades eleitorais em diversos países.

Imagem: infomoney.com.br
Campanha Minimalista e Desafios Socioeconômicos do País
A campanha eleitoral do presidente Biya antes da votação foi notavelmente discreta, praticamente inexistente. Em setembro, por exemplo, o líder passou mais de uma semana na Suíça, país onde já havia buscado atendimento médico em ocasiões anteriores, sem que nenhuma explicação formal fosse apresentada publicamente sobre o motivo da estada ou as condições de saúde do mandatário. Seu único evento de campanha ocorreu em 7 de outubro, na cidade de Maroua, localizada no Extremo Norte, tradicional reduto político de Biya.
Nesse comício, com uma dicção que muitos observadores descreveram como trêmula, o presidente assumiu compromissos direcionados à população, prometendo iniciativas para a criação de vagas de trabalho, o fomento ao empreendedorismo e o fortalecimento da segurança. Essas promessas ecoam temáticas centrais e urgentes em um país onde alarmantes 40% da população vivem em situação de pobreza. Adicionalmente, o Norte de Camarões tem sido sistematicamente atingido por ações terroristas e sequestros, agravando o panorama de insegurança.
No Sudoeste e Noroeste do país, regiões predominantemente anglófonas, um conflito separatista se arrasta, tendo resultado na morte de aproximadamente 6.500 pessoas desde o ano de 2017, segundo dados do International Crisis Group. O professor Victor Julius Ngoh, especialista em história e ciência política da Universidade de Buea, localizada no sudoeste camaronês, assinalou que o governo de Biya também foi cenário de uma sucessão de escândalos de corrupção ao longo de sua gestão, os quais foram marcados por um notável silêncio da administração em relação às acusações, elevando questionamentos sobre a governança e a accountability no país.
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A reeleição de Paul Biya no Camarões, com a controversa vitória aos 92 anos e a possibilidade de se manter no poder até os 99 anos, realça um cenário complexo para a política do país. Enquanto as contestações sobre a lisura do pleito e as preocupações com a estabilidade futura persistem, é crucial acompanhar os desdobramentos deste oitavo mandato em um país que anseia por soluções para seus desafios sociais, econômicos e de segurança. Continue explorando as notícias e análises da política camaronesa e internacional em nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: 2025 Bloomberg L.P.

 
						 
						