As recentes investigações que resultaram na Operação Blasfêmia revelaram um esquema de charlatanismo e estelionato religioso liderado por Luiz Henrique dos Santos Ferreira, mais conhecido como Profeta Santini. Mesmo após ter um valor superior a R$ 1 milhão em suas contas bloqueado judicialmente e ser obrigado a usar tornozeleira eletrônica, o pastor continua a realizar transmissões ao vivo em seus canais de internet, solicitando doações em dinheiro. A ação do Ministério Público e da Polícia Civil desvendou a operação que envolveu Santini e outras 22 pessoas, culminando na formalização das acusações criminais.
Réu por uma série de oito crimes graves, que incluem charlatanismo, curandeirismo, estelionato e associação criminosa, Luiz Henrique dos Santos Ferreira permanece ativo. Ele tem se apresentado ao público, por vezes, como Pastor Henrique Santini. A persistência nas solicitações de fundos ocorre apesar das evidências financeiras coletadas pelas autoridades. As apurações apontam para uma estrutura sofisticada que visava lucrar indevidamente por meio de promessas de curas e milagres.
Pastor Santini: Acusado de Charlatanismo com R$1 Milhão Bloqueado
A Operação Blasfêmia, deflagrada na semana anterior, expôs o alcance financeiro do grupo. A Justiça, acionada pelo Ministério Público, conseguiu rastrear e bloquear mais de R$ 1 milhão. Essa quantia significativa foi encontrada não apenas em contas diretamente ligadas a Luiz Henrique dos Santos Ferreira, mas também em quatro outras contas de pessoas jurídicas sob sua influência. Entre essas entidades, destacam-se a Igreja Casa dos Milagres, localizada no bairro Laranjal, em São Gonçalo. As instalações dessa igreja foram identificadas como o local de uma das centrais telefônicas empregadas para a execução dos golpes, um detalhe crucial para as investigações. Embora tenha sido indiciado e enfrentando múltiplos processos, Santini não teve a prisão preventiva decretada, recebendo a imposição do uso de tornozeleira eletrônica como medida cautelar.
O Profeta Santini é acusado de liderar uma verdadeira organização dedicada à prática de estelionato religioso. As evidências colhidas durante a fase de investigação apontam que a organização estabelecia preços variados, que podiam atingir até R$ 1,5 mil, em troca de supostas curas e intervenções divinas. Em apenas três meses, o esquema criminoso movimentou mais de R$ 3 milhões, revelando a magnitude das operações e a grande capilaridade de sua atuação entre os fiéis.
As centrais telefônicas identificadas em locais como a Igreja Casa dos Milagres eram fundamentais para a execução das fraudes. De acordo com a denúncia, cerca de 70 funcionários eram recrutados pela internet e tinham como função atender aos pedidos de oração dos fiéis. O modelo de negócios era altamente focado na arrecadação financeira, estabelecendo metas rigorosas para os atendentes. Durante as entrevistas de contratação, os aspirantes a operadores eram instruídos a se passar pelo próprio Profeta Santini, gravando áudios de oração e solicitando valores específicos, descritos como “compra de serviço religioso”.
O promotor Bruno Humelino, responsável pela denúncia, detalhou a mecânica perversa do sistema de remuneração. Segundo ele, os empregados eram fortemente incentivados por meio de metas de arrecadação. “Nesse aspecto, estimulava-se aos empregados metas de valores, sendo certo que, quanto maior fosse o valor arrecadado pelo funcionário, maior seria a comissão recebida”, afirmou Humelino na denúncia. Este sistema fomentava a exploração e o abuso da fé alheia em prol do lucro da organização, exacerbando o caráter fraudulento das atividades.
As investigações também revelaram um padrão de vulnerabilidade entre as vítimas. Os depósitos, majoritariamente realizados via PIX, eram feitos por fiéis que acreditavam genuinamente estar recebendo orações diretas do pastor. Doadores foram identificados em pelo menos 18 estados brasileiros, além do Distrito Federal, muitos deles realizando múltiplas doações. Como exemplo, uma mulher de Roraima efetuou 17 depósitos, com um valor médio de R$ 47 por transação. Similarmente, uma vítima do Amazonas realizou 17 transferências via PIX, totalizando uma média de R$ 60 por depósito. Este cenário evidencia a disseminação da prática em diferentes regiões do país.

Imagem: g1.globo.com
Particularmente preocupante foi a identificação de numerosos idosos entre as vítimas. O Ministério Público destacou casos como o de uma mulher de 62 anos, que doou 85 vezes ao grupo, e um senhor de 82 anos, que efetuou 19 depósitos. Esses números sublinham a exploração da fé e da fragilidade de pessoas em idade avançada, caracterizando uma prática ainda mais reprovável aos olhos da lei.
Na denúncia, o Ministério Público enfatiza que os crimes cometidos pela organização ultrapassam o mero prejuízo patrimonial, atingindo a confiança dos fiéis. “As condutas foram autônomas e reiteradas, com dolo específico e objetivos distintos, configurando concurso material de crimes, com penas cumulativas. Os atos lesam não apenas o patrimônio das vítimas, mas também a confiança no exercício legítimo da fé e a segurança jurídica da liberdade religiosa”, pontuou o promotor Humelino. Ele salientou a distinção fundamental entre a arrecadação de dízimos e ofertas, amparada pela Constituição Federal (art. 5º, VI e VIII), e as ações fraudulentas perpetradas por Santini.
“No entanto, quando essa arrecadação ocorre por meio de fraude, ultrapassa o campo da fé, sendo considerada conduta criminosa”, explicou Humelino. Essa distinção legal é crucial para separar o legítimo exercício da liberdade religiosa das ações configuradas como crimes, evidenciando o ponto em que a fé é instrumentalizada para a obtenção de ganhos ilícitos. Para mais informações sobre a prevenção de crimes de fraude virtual, uma prática que, embora não idêntica, tem elementos de abuso de confiança e digitalização, confira o site oficial do Governo Federal sobre como registrar crimes de fraudes virtuais.
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Em sua defesa, no dia da operação, Santini declarou à TV Globo que se considera vítima de perseguição religiosa. Ele afirmou possuir formação em teologia e mais de dez anos de experiência como pastor, atuando em duas igrejas. “Sou surpreendido com um mandado de busca e apreensão, e até agora não encontraram nada que pudesse me incriminar. Colaborei, dei todas as coisas possíveis. Eu entendo isso como uma perseguição religiosa”, declarou o pastor, buscando reverter a narrativa das acusações contra ele. Acompanhe os desdobramentos deste caso e outras notícias relevantes sobre o cenário jurídico e policial em nossa editoria. Para mais informações sobre cidades e assuntos locais no Rio de Janeiro, continue navegando em horadecomecar.com.br/cidades.
Crédito da imagem: Foto: Reprodução/TV Globo
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