Nesta quarta-feira, 15 de outubro de 2025, a crucial Passagem de Rafah, localizada no sul da Faixa de Gaza, registrou a retomada da entrada de caminhões de ajuda humanitária. O cenário aponta para uma provável reabertura total da fronteira por parte de Israel, movimento que se segue à resolução de um complexo impasse no cessar-fogo com o grupo Hamas, centrado na delicada questão da devolução de corpos de reféns.
Anteriormente, Tel Aviv havia manifestado uma interrupção nos preparativos para a reabertura da passagem, ao mesmo tempo em que ameaçava diminuir significativamente o fluxo de suprimentos vitais para o território palestino. A postura israelense fundamentava-se na acusação de que o Hamas estaria falhando em cumprir sua parte do acordo de trégua, em particular, protelando a entrega dos corpos dos reféns que haviam sido feitos. Essa disputa ameaçou a fragilidade do cessar-fogo vigente, crucial para a distribuição de auxílio e a redução das hostilidades.
Passagem de Rafah: Israel Reabre após Impasse no Acordo
A tensão começou a ser aliviada quando o grupo Hamas, cedendo à pressão exercida por Israel e provavelmente por mediadores internacionais, realizou a devolução de quatro corpos na madrugada desta mesma quarta-feira. Conforme o relatório das Forças Armadas israelenses, desses quatro corpos, três foram identificados como reféns israelenses falecidos: Tamir Nimrodi, de 18 anos; Uriel Baruch, de 35 anos; e Eitan Levy, de 53 anos. O quarto corpo, contudo, foi identificado como sendo de um palestino. Essa parcial resolução do impasse com a entrega de grande parte dos corpos aguardados foi um fator determinante para a mudança na posição de Israel quanto à fronteira.
Fluxo de Ajuda Retomado e Abertura da Fronteira
Após a troca dos corpos, a emissora pública Kan divulgou que Israel procederá com a reabertura total da passagem fronteiriça de Rafah. A expectativa é que aproximadamente 600 caminhões de ajuda consigam ingressar na Faixa de Gaza, cumprindo o que havia sido acordado nos termos do cessar-fogo. A importância da Passagem de Rafah como rota principal para o abastecimento de Gaza é imensa, sendo essencial para mitigar a crise humanitária na região.
Imagens obtidas pela agência Reuters nesta manhã de quarta-feira evidenciaram caminhões carregados com combustível e uma variedade de suprimentos cruzando a fronteira do Egito em direção a Rafah. No entanto, o montante exato do comboio que conseguiu atravessar integralmente não foi imediatamente detalhado. As autoridades de Tel Aviv também confirmaram que o auxílio humanitário continua a chegar a Gaza por outras vias, como a passagem de Kerem Shalom, localizada no sul do território, após os necessários processos de inspeção de segurança. Enquanto a ajuda chegava, a Cidade de Gaza, o maior centro urbano da Faixa, já via suas equipes locais iniciarem o complexo trabalho de remoção dos escombros.
Troca Mútua de Corpos e Acusações
O acordo de trégua não exige apenas a devolução dos corpos dos reféns pelo Hamas, mas também impõe a Israel a obrigação de retornar os corpos de 360 palestinos mortos. Na terça-feira anterior, as forças israelenses cumpriram parte desse compromisso, entregando os restos mortais de 45 indivíduos. Dentre estes, acredita-se que alguns fossem membros do Hamas envolvidos nos ataques de 7 de outubro, mas a origem e o contexto de parte dos outros corpos ainda não foram plenamente esclarecidos.
Expectativas e Críticas sobre Evacuação e Ajuda
A Passagem de Rafah tem um papel duplo, sendo igualmente vital para a saída de palestinos do território, especialmente para casos de evacuação médica. Contudo, pacientes que aguardam por tal evacuação expressaram à Reuters que, até o momento, não receberam qualquer aviso da Organização Mundial da Saúde (OMS) para proceder com suas viagens. A urgência dessas evacuações é amplamente reconhecida pela comunidade internacional.
O fluxo de ajuda, ainda que retomado, não é consensual. O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, de linha política mais extremista, criticou abertamente a entrega de suprimentos em uma publicação na plataforma X, declarando: “Chega de desonra”. Ben-Gvir, conhecido por suas posturas duras e ceticismo em relação ao cessar-fogo, concluiu a mensagem afirmando que “O terrorismo nazista entende apenas a força”, reiterando seu descontentamento com as concessões feitas ao Hamas.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Ofensiva Interna do Hamas e Posição da Autoridade Palestina
Enquanto o cessar-fogo avançava, o Hamas também intensificou suas operações internas em uma tentativa de restabelecer controle total sobre a Faixa de Gaza. Essas ações resultaram em cenas de brutalidade, incluindo execuções públicas, com o objetivo de reprimir clãs locais que haviam procurado estabelecer uma posição territorial ou influência durante o recente conflito na região.
Diante desses eventos, o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, condenou veementemente os assassinatos filmados e divulgados pelo Hamas. Ele classificou-os como um “crime e violação flagrante dos direitos humanos”. Por sua vez, a Autoridade Palestina reforçou, nesta quarta-feira, sua disposição em “operar a passagem de Rafah”. A entidade, que goza do apoio de diversos países árabes na região, manifesta o desejo e a expectativa de desempenhar um papel crucial na gestão da Faixa de Gaza no período pós-guerra, em um esforço para estabilizar e governar o território.
Posição dos Estados Unidos sobre o Conflito
Embora uma das exigências primárias do acordo de trégua seja o desarmamento completo do Hamas — condição que a facção rejeita sem a garantia explícita da criação de um Estado palestino independente —, os Estados Unidos, atuando como um dos principais mediadores no processo de acordo, parecem ter concedido autorização para que o grupo patrulhe o território temporariamente. Quando questionado por um jornalista sobre os relatos da ofensiva do Hamas contra grupos rivais em Gaza, o presidente americano, Donald Trump, defendeu que o grupo estava “agindo dentro dos parâmetros do acordo”.
Em sua declaração, feita na segunda-feira, Trump acrescentou: “Eles querem acabar com os problemas e têm sido abertos sobre isso, e nós lhes demos aprovação por um período de tempo”. Ele ainda destacou os desafios humanitários e de segurança: “Temos quase 2 milhões de pessoas voltando para prédios que foram demolidos, e muitas coisas ruins podem acontecer. Então, queremos que seja seguro. Acho que vai ficar tudo bem. Quem sabe com certeza?”. Essa perspectiva sugere uma concessão tática para gerenciar a segurança e o retorno dos civis à suas casas, em um contexto pós-conflito caótico, apesar das reservas internacionais quanto ao papel contínuo do Hamas na governança de Gaza. Para mais informações sobre organizações de ajuda humanitária em regiões de conflito, consulte a página oficial da Organização Mundial da Saúde.
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A reabertura da Passagem de Rafah é um sinal complexo da tênue paz que permeia a região. Apesar dos avanços na entrega de ajuda e na troca de corpos, as dinâmicas políticas internas em Gaza, a necessidade de evacuações médicas urgentes e as visões divergentes de figuras políticas como Ben-Gvir continuam a demonstrar a fragilidade do cessar-fogo. Fique atento às últimas atualizações sobre a geopolítica na Faixa de Gaza e em todo o Oriente Médio acompanhando nossa editoria de Política para análises aprofundadas.
Crédito da imagem: Bashar Taleb – 15.out.25/AFP
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