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Padre Júlio Lancellotti Lança Academia e Produtos Antifascistas

Em um avanço contínuo de suas ações sociais, o Padre Júlio Lancellotti, figura proeminente na defesa das pessoas em situação de rua, expande suas iniciativas no Belenzinho, zona leste de São Paulo. Dentre as novidades, destacam-se a criação de um ateliê para a produção de itens com mensagens antifascistas, comercializados online, e a iminente inauguração […]

Em um avanço contínuo de suas ações sociais, o Padre Júlio Lancellotti, figura proeminente na defesa das pessoas em situação de rua, expande suas iniciativas no Belenzinho, zona leste de São Paulo. Dentre as novidades, destacam-se a criação de um ateliê para a produção de itens com mensagens antifascistas, comercializados online, e a iminente inauguração de uma academia projetada para auxiliar na recuperação e convivência de indivíduos que lutam contra vícios. Estas ações complementam o trabalho já consolidado do sacerdote na Paróquia São Miguel Arcanjo, buscando oferecer mais dignidade e oportunidades.

O sacerdote, com 76 anos de idade, continua sua missão, que diariamente inclui a coordenação do programa “Café do Padre”, que distribui refeições a mais de 300 pessoas de segunda a sexta-feira. Esse esforço é o pilar de uma rede de apoio que agora se ramifica em projetos inovadores. Os cães que aguardam pacientemente do lado de fora da paróquia enquanto ele celebra a missa, e o encontro matinal com pessoas como “Bahia”, um homem de 43 anos em situação de rua há oito e dependente químico, ilustram o contexto e a urgência do trabalho de Lancellotti.

Padre Júlio Lancellotti Lança Academia e Produtos Antifascistas

A concepção do “Ateliê Santa Rosa de Lima” surgiu da interação direta com as pessoas na “fila do pão”. Três indivíduos em situação de rua expressaram interesse em aprender novas habilidades, e foram convidados a participar do projeto, uma colaboração entre Lancellotti e o Instituto Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia. Neste espaço, no mesmo bairro do Belenzinho, os participantes não apenas recebem alimentação, mas também são capacitados para diagramar e estampar logos e imagens em canecas que são posteriormente vendidas no Mercado Livre, a um valor de R$ 40 cada. A iniciativa oferece uma bolsa de estudos, e os recursos obtidos com as vendas contribuem para a manutenção do próprio projeto, gerando um ciclo virtuoso de apoio.

A produção das canecas faz parte da “campanha antifascista” do Padre Júlio. Essa campanha é uma homenagem a Giorgio Frassati, ativista social e defensor dos mais pobres, que foi canonizado em 7 de setembro, ao lado de Carlo Acutis. Lancellotti sublinha a importância de um posicionamento firme em um momento global de ascensão de ondas neofascistas. Para ele, assumir esta posição não é apenas um dever, mas uma necessidade frente aos desafios sociais e políticos contemporâneos. A relevância histórica de Frassati como um militante em favor da justiça social ressoa profundamente com os ideais que guiam as novas atividades do ateliê.

Paralelamente ao ateliê, uma das grandes apostas do sacerdote é a instalação de uma academia destinada exclusivamente a pessoas em situação de rua. Este projeto ambicioso conta com a valiosa colaboração do Serviço Social da Indústria (Sesi), do Instituto Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia e da Prefeitura de São Paulo. A parceria com a prefeitura foca na extensão dos serviços do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), garantindo que usuários em tratamento para dependência química sejam direcionados à academia, integrando a atividade física ao processo terapêutico.

A previsão é que a academia seja inaugurada até o final de outubro, com a capacidade de atender até 300 alunos. O espaço será fundamental como suporte ao tratamento dos vícios e também como um local de convivência e integração social. O Padre Júlio Lancellotti ressalta a natureza do projeto como um programa de convivência semanal. Além disso, uma universidade está em negociação para conduzir um estudo que investigue como a prática da musculação pode efetivamente contribuir para o combate à dependência química. Embora o local físico já esteja preparado, aguarda-se apenas a entrega dos equipamentos, que serão providos por instituições apoiadoras, completando a estrutura necessária para o funcionamento da academia.

O cotidiano no entorno da paróquia de Lancellotti, no Belenzinho, é frequentemente marcado por cenas de vulnerabilidade e resiliência. Antes mesmo da chegada do padre para a distribuição diária de pão e café, longas filas já se formam. O ambiente também abriga uma biblioteca inaugurada há dois meses, onde as pessoas buscam computadores para acesso a redes sociais, comunicação com familiares, ou assistência de voluntários para emitir segundas vias de documentos governamentais.

Em meio às suas atividades diárias, Lancellotti também manifesta posicionamentos fortes em questões internacionais. Recentemente, ele foi visto segurando uma bandeira da Palestina e gritando “Palestina livre”, um coro respondido por alguns dos presentes. Ele estabeleceu um paralelo com a situação local, afirmando: “A rua também é uma guerra, os nossos não estão esqueléticos como os que estão na Faixa de Gaza, mas as dores se assemelham.” O ambiente de rua, porém, nem sempre é pacífico, evidenciado por episódios como a agressão sofrida por uma mulher e uma briga entre dois homens, nos quais o padre interveio.

Padre Júlio Lancellotti Lança Academia e Produtos Antifascistas - Imagem do artigo original

Imagem: noticias.uol.com.br

Ele reconhece que desentendimentos acontecem, mas não são a regra. Para Lancellotti, lidar com o diferente é um desafio. Ele argumenta: “Dificilmente a gente sabe lidar com o que não é semelhante. Conviver com quem não tem nem água para tomar. Quem está extremamente machucado, violentado, tem uma história de dores, nosso cérebro é programado para o que é semelhante e para aceitar aquilo que você sabe lidar. Meu papel nessa guerra é ser ferido e resistir.” Essa filosofia permeia seu trabalho.

No início de 2024, Padre Júlio Lancellotti enfrentou uma tentativa de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal, proposta pelo vereador Rubinho Nunes (União), com o intuito de investigar a atuação de ONGs na Cracolândia. Apesar de prever a convocação de entidades e lideranças sociais, a proposta perdeu o apoio de parte dos vereadores, culminando na perda de força e arquivamento do requerimento. Em seu próprio bairro de atuação, ele também convive com críticas e reclamações de alguns moradores sobre a presença de pessoas aguardando pelos programas que ele oferece. Em resposta, ele reforça sua crença: “Dar o pão não faz ninguém vir às ruas para comer pão, as pessoas comem o pão porque estão na rua. Acredito que estar entre os desprezados pela sociedade, me coloca nesse lugar de ser desprezado também.”

Com quatro décadas dedicadas às causas sociais, o Padre Lancellotti baseia sua inspiração nos ensinamentos do evangelho. Sua jornada foi moldada pela convivência com crianças soropositivas e com a população em situação de rua, aprofundando sua compreensão da fé e da missão. Ele compartilha uma perspectiva inspirada pelo missionário Carlos Mesters: “a Bíblia é uma flor sem defesa. Você pode ler qualquer texto, até Machado de Assis, e vai interpretá-lo de formas diferentes. A gente lê a palavra de Deus a partir de nós, não a partir de Deus.”

Entre as diversas histórias que guarda em sua memória, uma que se destaca é a de Daniel, uma criança de 9 anos da Casa Vida, que sofria com Aids. Em um momento de grande fraqueza, Daniel pediu para ser carregado até a igreja. Ao ver a imagem do coração de Jesus, ele perguntou ao padre por que o coração de Jesus estava para fora. A resposta do sacerdote – “porque ele ama muito, quando a gente ama, o coração é para fora” – levou Daniel a perguntar se doía. Lancellotti concluiu: “Não há amor sem dor”. Ele complementa que “O amor é assim: te torna vulnerável, te fragiliza. Estar em uma situação como a minha é correr risco o tempo todo. Racionalmente, a gente não estaria aqui.” Essa perspectiva resume a essência de sua dedicação e dos desafios que ele abraça diariamente em prol do próximo.

Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista

As novas iniciativas do Padre Júlio Lancellotti, focadas na educação, na recuperação e no fortalecimento de valores antifascistas, reforçam seu compromisso com a população mais vulnerável de São Paulo. Esses projetos demonstram a incessante busca por soluções que promovam a dignidade e a esperança, combatendo as raízes dos problemas sociais. Para aprofundar-se em mais notícias e análises sobre questões sociais e comunitárias em São Paulo, explore nossa editoria de Cidades.

Imagem: Giacomo Vicenzo/UOL

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