TÍTULO: Operação contra garimpo no AM afeta 9,5 mil alunos, aponta DPE
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META DESCRIÇÃO: Descubra como a operação contra garimpo ilegal no Amazonas deixou 9,5 mil alunos de Humaitá sem aulas e gerou danos psicológicos, segundo a Defensoria. Entenda os impactos.
A operação contra garimpo ilegal realizada pela Polícia Federal no interior do Amazonas resultou em um cenário alarmante para a educação local. Conforme levantamento detalhado da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), aproximadamente 9,5 mil estudantes da rede municipal na cidade de Humaitá foram impedidos de frequentar as aulas. Essa paralisação gerou críticas severas e expôs os impactos profundos nas comunidades ribeirinhas, que relatam tanto prejuízos acadêmicos quanto abalos emocionais em crianças e adolescentes.
As ações repressivas, que contaram com o apoio de diversas entidades ambientais, concentraram-se na semana anterior na região do rio Madeira. Durante a investida, uma série de equipamentos essenciais para o sustento de famílias envolvidas com o garimpo foram destruídos, incluindo flutuantes, balsas e dragas. A comunidade, majoritariamente composta por famílias garimpeiras, vivenciou momentos de grande tensão e temor, conforme relatado pelos moradores.
Operação contra garimpo no AM afeta 9,5 mil alunos, aponta DPE
Na zona rural do município de Humaitá, os efeitos da interrupção das atividades escolares foram mais acentuados. Do total de 52 instituições de ensino, 43 permaneceram com as portas fechadas por um período de uma semana completa. Na sede da cidade, as 19 unidades escolares municipais também suspenderam suas operações por, no mínimo, dois dias. A senhora Anne Mendonça, residente da Comunidade Paraisinho, testemunhou o impacto diretamente, pois suas duas filhas, de 5 e 12 anos, ficaram afastadas da escola por três dias consecutivos.
“O medo toma conta dos pais. Sendo mãe, eu também sinto muito medo, porque a Polícia Federal age com explosões nas balsas e faz queimas. Tudo isso deixa marcas profundas na memória das crianças”, desabafou Anne, reiterando a apreensão geral.
Abalos Psicológicos e Perda no Rendimento Escolar
O defensor público Theo Costa ressaltou que as consequências da operação ultrapassam o simples adiamento do calendário letivo. Ele explicou que diversos estudantes continuam a se ausentar das aulas dias após os eventos, manifestando sérios danos psicológicos e uma notável diminuição em seu desempenho acadêmico. Este cenário é especialmente preocupante, uma vez que coincidiu com o período de aplicação do ‘Avalia’, uma preparação vital para o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Arnaldina Chagas, secretária de Educação de Humaitá, partilha da mesma inquietude. “Nossos alunos já enfrentam desafios no rendimento escolar. E essa situação, tão próxima da realização do Saeb, agendado para outubro, tem potencial para comprometer os resultados esperados”, declarou Chagas, evidenciando a dimensão do problema para a avaliação nacional.
Profissionais da área da educação têm sido unânimes em apontar os evidentes impactos emocionais entre os alunos. Martha Núbia, que atua como diretora da Escola Martha Macedo, afirmou que, embora a rede de ensino esteja envidando esforços para oferecer suporte, as limitações são reconhecidas. “O tempo perdido é irrecuperável. Mesmo com todo o apoio que podemos oferecer na escola e que as famílias buscam proporcionar, o impacto é extremamente profundo”, ponderou.
A professora Aline Buzaglo narrou um caso emblemático de uma de suas alunas. Uma criança de apenas cinco anos começou a manifestar sintomas físicos alarmantes – dor de cabeça, sonolência excessiva e episódios de vômito persistentes – após presenciar uma das operações. “Era uma criança extraordinariamente desenvolvida para sua idade, já demonstrava habilidades de leitura no pré-2, mas após os incidentes, observa-se uma regressão significativa em seu aprendizado”, detalhou Aline, revelando a extensão do trauma.
Intervenção do Senado e Denúncias de Abusos
As narrativas de possíveis abusos cometidos durante a operação alcançaram a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal. Diante da gravidade das informações, a comissão iniciou uma diligência nos municípios de Humaitá e Manicoré, com o intuito de colher depoimentos diretamente das comunidades afetadas e das autoridades locais. O pedido de investigação foi proposto pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM) e contou com o forte apoio da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que preside a CDH. Para aprofundar a compreensão sobre como o Senado lida com questões de meio ambiente e direitos humanos, informações adicionais podem ser consultadas em Agência Senado.
Em sua explanação, o senador Plínio Valério denunciou veementemente a maneira como a operação foi executada, argumentando que colocou inúmeras famílias em risco. “As imagens que vimos são aterrorizantes. Bombas, explosões e uma cidade inteira imersa em pânico. Pessoas que dependem do pouco que conseguem extrair da terra e dos rios sendo tratadas como verdadeiros criminosos. Isso não pode, em hipótese alguma, se repetir”, frisou Plínio, expressando sua indignação.

Imagem: g1.globo.com
Por sua vez, Damares Alves relatou ter recebido comunicações preliminares de conselheiros tutelares que apontavam violações flagrantes de direitos de crianças, adolescentes e outros cidadãos. “Os relatos são horríveis. Os direitos fundamentais dessas crianças, dos adolescentes e de outros habitantes não foram respeitados. Nosso compromisso é levantar todos os casos de abuso, elaborar um relatório minucioso da comissão e enviá-lo para a análise de organismos internacionais”, afirmou a senadora, destacando a seriedade do compromisso parlamentar.
O relatório final da CDH está previsto para ser concluído até esta sexta-feira, dia 26, e será encaminhado não apenas aos órgãos federais competentes, mas também a entidades internacionais, contendo uma série de recomendações destinadas a prevenir a recorrência de novas violações no futuro.
Ações da Defensoria e Buscando Reparação
Paralelamente às investigações legislativas, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas intensificou seus serviços de atendimento e acolhimento às famílias prejudicadas. Entre os dias 22 e 24, a DPE-AM dedicou-se à coleta de vasto material probatório, que inclui vídeos, fotografias e depoimentos de aproximadamente 300 pessoas somente em Humaitá. Equipes da Defensoria também visitaram localidades distantes como Ilha do Tambaqui, Santa Rosa e Laranjeiras para documentar a realidade.
No Lago do Uruapiara, uma área crítica, a equipe da Defensoria Pública conseguiu identificar cerca de 600 famílias que foram diretamente impactadas pelas operações, distribuídas em um total de dez diferentes comunidades.
De acordo com o defensor Ricardo Paiva, todo o material coletado será crucial para a construção de um relatório técnico abrangente. Este documento, segundo ele, servirá de base sólida para a formulação de futuras políticas públicas eficazes e, se necessário, para a interposição de ações judiciais visando à reparação de danos contra a União. “A partir deste relatório, poderemos apresentar recomendações fundamentadas aos órgãos públicos e, caso se mostre indispensável, iniciar ações na Justiça pleiteando a devida reparação. Além disso, desejamos persuadir o Poder Judiciário de que futuras operações precisam ser conduzidas sem o emprego de explosivos e sem provocar prejuízos adicionais ao meio ambiente e, sobretudo, à população local”, pontuou Ricardo Paiva, enfatizando o objetivo de um tratamento mais humano e menos destrutivo nas operações.
Espera-se que o documento elaborado pela Defensoria também sirva como diretriz para a criação e implementação de programas sociais pela prefeitura, além de balizar políticas de sustentabilidade e geração de renda na região, visando a uma recuperação e desenvolvimento a longo prazo. Em julho, a DPE já havia instituído o grupo de trabalho ‘Teko Porã – Vida Digna’, especificamente para abordar e debater os complexos impactos das operações destinadas ao combate ao garimpo que afetam o rio Madeira.
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Os desafios impostos pela operação contra garimpo ilegal no Amazonas vão muito além das cifras. O drama vivido pelas famílias, especialmente pelas crianças e adolescentes em Humaitá, destaca a urgência de uma abordagem mais humanizada e planejada nas ações repressivas. É imperativo que os resultados deste e de outros relatórios sirvam para orientar novas estratégias que equilibrem a necessidade de coibir crimes ambientais com a garantia dos direitos fundamentais das populações vulneráveis. Continue acompanhando as novidades e análises aprofundadas sobre Cidades em nosso portal.
Crédito da imagem: Foto: Reprodução
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