As linhas de ônibus em Fortaleza que estavam suspensas retomaram a circulação na capital cearense, conforme anúncio que seguiu um acordo recente. Um entendimento estabelecido entre a Prefeitura de Fortaleza e o Sindicato das Empresas de Ônibus de Fortaleza (Sindiônibus) resultou na reintegração de 25 linhas do transporte coletivo que haviam sido paralisadas na última segunda-feira, 29 de janeiro. O restabelecimento completo ocorreu nesta segunda-feira, 1º de fevereiro.
A decisão veio após um período de impasse. Anteriormente, na terça-feira, 30 de janeiro, a administração municipal havia enviado uma notificação extrajudicial ao Sindiônibus, estabelecendo a condição de que qualquer mesa de negociação sobre os pleitos das empresas estaria condicionada ao retorno imediato das operações. Esta apuração foi veiculada pelo g1. Com o acerto, os coletivos já operam sob novos ou restaurados parâmetros.
Ônibus em Fortaleza: Linhas suspensas retomam operação
Em comunicado posterior ao anúncio do prefeito, o Sindiônibus detalhou que, a partir da quarta-feira seguinte à suspensão inicial, os serviços de ônibus voltariam a seguir rigorosamente as diretrizes e os parâmetros estabelecidos pela Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) para cada uma das linhas. Isso também significou o fim das reduções de horários e a restauração da frequência original para os veículos que haviam tido suas rotas ajustadas durante o período de suspensão. O movimento das empresas visa a um esforço conjunto para restabelecer o diálogo com o poder público municipal.
Acordo e Condições para o Retorno das Operações
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros justificou o retorno das operações como um “esforço adicional” frente às dificuldades financeiras que permeiam o setor. A entidade sublinhou a importância de retomar o diálogo, especialmente em um cenário que desafia o cumprimento de compromissos salariais com os colaboradores e pagamentos a fornecedores essenciais, como os de combustível. Neste contexto, o Sindiônibus expressou a urgência de que a prefeitura inicie discussões sobre medidas concretas de apoio financeiro ao sistema de transporte coletivo da cidade.
A paralisação das linhas foi uma estratégia dos empresários para intensificar a pressão sobre a Prefeitura de Fortaleza. O objetivo primordial era negociar um aumento nos subsídios que o poder público municipal repassa às empresas de transporte. Atualmente, a administração local destina cerca de R$ 16 milhões mensais ao Sindiônibus. Este montante é destinado a cobrir despesas operacionais, custear gratuidades e, crucialmente, evitar que o valor da passagem seja reajustado, protegendo o bolso do usuário final.
Subsídios, Dificuldades e Impactos na Mobilidade
Apesar dos repasses, a entidade sindical argumenta que os R$ 16 milhões são insuficientes para a sustentabilidade do sistema. O Sindiônibus alega que o valor mínimo necessário para equilibrar as contas e garantir a fluidez dos serviços seria de, pelo menos, R$ 23 milhões. Essa discrepância orçamentária entre o subsídio recebido e o montante pleiteado evidencia um desequilíbrio financeiro persistente que tem sido um ponto central nas negociações.
Segundo a entidade, o cancelamento inicial das linhas e as subsequentes reduções de frequência foram consideradas um “ajuste necessário”, respaldado por estudos técnicos minuciosos. A medida, de acordo com o Sindiônibus, seria indispensável para preservar a continuidade do sistema de transporte e assegurar a capacidade de honrar responsabilidades essenciais, incluindo o pagamento em dia dos salários dos funcionários. A crise financeira é um pano de fundo complexo que motiva tais ações e pleitos, visando a saúde econômica das operadoras de ônibus.
O transporte público de Fortaleza enfrenta um declínio acentuado no número de usuários. Em um período de dez anos, o sistema registrou uma perda de aproximadamente 54,7% de seus passageiros. Em 2015, por exemplo, o transporte coletivo da cidade atendia uma média diária de 1,15 milhão de passageiros. Hoje, esse número drasticamente caiu para cerca de 520 mil usuários por dia. Essa retração na demanda, somada às dificuldades financeiras já mencionadas, foi um dos motivos para a suspensão das 25 linhas e a redução na frequência de outras 29.
Queda de Passageiros e Cenário do Setor em Fortaleza
O presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira, afirmou que as linhas temporariamente suspensas afetavam a locomoção de cerca de 9 mil passageiros. Contudo, a Etufor apresentou uma estimativa superior, indicando que mais de 10 mil usuários foram prejudicados diretamente pela paralisação. O debate sobre os números reflete a gravidade do impacto da interrupção para a população que depende do transporte público para suas atividades diárias na capital cearense.

Imagem: g1.globo.com
A fragilidade do setor é evidenciada por casos concretos, como o da empresa Santa Cecília. Uma das operadoras de ônibus que atendiam a cidade, a Santa Cecília encerrou suas atividades e solicitou recuperação judicial em agosto do ano corrente. A empresa era responsável pela gestão de 31 linhas, que foram subsequentemente assumidas por outras companhias que integram o consórcio de transporte público de Fortaleza. Essa reestruturação demonstra a volatilidade do ambiente de negócios no setor e a necessidade de medidas de apoio para as empresas remanescentes.
Para garantir a estabilidade financeira do sistema e evitar a interrupção de ainda mais linhas, o Sindiônibus justificou que os “ajustes na frota” foram fundamentais. A crise econômica demandou que as linhas com maiores déficits fossem ajustadas, ou até mesmo suprimidas, enquanto linhas de maior relevância, que servem um contingente expressivo de passageiros, receberam reforço com a incorporação de veículos adicionais. Essas decisões são frutos de estudos técnicos que consideram o dimensionamento da frota, a análise de rotas e a realocação estratégica para otimizar o atendimento, mas ainda não suprem o desequilíbrio existente. É crucial notar que discussões sobre modelos de custeio e subsídio do transporte público são frequentes no país, como aponta o Ministério dos Transportes.
A Etufor, por sua vez, ressaltou que a medida de suspensão das linhas não foi autorizada nem estava oficialmente prevista pela empresa. Reforçou que a Prefeitura garante, mensalmente, um aporte de aproximadamente R$ 16 milhões em subsídios para viabilizar a operação do sistema. Além disso, a Etufor reiterou a manutenção de um diálogo contínuo com o Sindiônibus, com o intuito de prevenir prejuízos não apenas para as empresas, mas, principalmente, para os cidadãos que utilizam o transporte público da cidade.
Dimas Barreira, o presidente do Sindiônibus, continua a salientar que os valores atualmente repassados não são suficientes para cobrir o déficit mensal, que já alcança cerca de R$ 9 milhões. Ele enfatiza que, em um cenário tão desafiador, algumas empresas não conseguiram se sustentar e acabaram por encerrar suas atividades. Barreira sublinha a urgência de uma solução articulada e conjunta, que contemple a participação não apenas do governo municipal, mas também de uma intervenção do governo federal para assegurar a sustentabilidade e qualidade do serviço. A crise exige atenção multidisciplinar e ações coordenadas entre diversas esferas governamentais e as empresas operadoras para se ter transporte público de qualidade e sustentável no longo prazo.
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Este restabelecimento das linhas em Fortaleza marca um ponto de virada crucial nas tensões entre o poder público e as operadoras de transporte, porém, os desafios financeiros do setor continuam sendo um tema premente para futuras discussões. Para acompanhar outras análises aprofundadas sobre os desdobramentos urbanos e econômicos em metrópoles brasileiras, convidamos você a explorar mais notícias em nossa editoria de Cidades e demais artigos relevantes.
Crédito da Imagem: TV Verdes Mares/SVM/Ismael Soares/Reprodução
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