Odontofobia: Entenda a fobia de dentista que atinge 2% dos brasileiros

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A odontofobia, ou a fobia de dentista, é um fenômeno que afeta uma parcela significativa da população brasileira, transcendendo o simples desconforto ou ansiedade que muitos sentem em consultórios odontológicos. Para o administrador de empresas Gabriel Limaverde, hoje com 42 anos, essa condição enraizou-se em sua infância, aos seis, após uma vivência dolorosa. Ele relembra: “Eu chorava na cadeira e dizia que estava doendo, mas achavam que era exagero. Senti muita dor. Desde então, só de sentar na cadeira já fico tenso, começo a suar, mesmo sabendo que não vai doer.”

O que inicialmente se manifestou como um temor infantil transformou-se em um padrão persistente de ansiedade relacionada à odontologia, evoluindo em diversos casos para a odontofobia. Este é um transtorno plenamente reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), categorizado na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) sob o código F40.2, inserindo-se no grupo das fobias específicas.

Odontofobia: Entenda a fobia de dentista que atinge 2% dos brasileiros

A psicóloga Fabiana Tintori Shoji, especialista em terapia cognitivo-comportamental pela Universidade de São Paulo (USP), elucidou a diferença fundamental entre o medo comum e a fobia. Ela explica que o medo é uma reação natural, tipicamente transitória, a uma ameaça percebida. Em contrapartida, na odontofobia, a aversão se apresenta de forma crônica, excessiva e desproporcional. A ansiedade extrema se manifesta não apenas na presença do profissional, mas também diante da mera cogitação da visita ao consultório. Os sintomas são variados e intensos, incluindo taquicardia, sudorese, tremores, crises de choro e pensamentos acelerados.

Esta condição frequentemente tem suas raízes na infância, desencadeada por tratamentos percebidos como dolorosos ou por narrativas parentais que, inadvertidamente, associam a figura do dentista a punições. Contudo, a odontofobia também pode surgir na fase adulta, após interações odontológicas desagradáveis. De acordo com informações do **Conselho Federal de Odontologia** (CFO), 15% da população brasileira lida com ansiedade odontológica, e, especificamente, cerca de 2% desenvolvem a odontofobia.

Um levantamento da Oral Health Foundation, conduzido no Reino Unido, apontou que 36% dos indivíduos evitam procurar o dentista por receio. Eduardo Favilla, conselheiro do CFO, adverte para as severas consequências de postergar as consultas. Pacientes que evitam o atendimento por anos, mesmo em quadros de dor, acabam apresentando infecções avançadas, lesões pré-cancerígenas e até mesmo riscos para a saúde sistêmica. A esquiva do consultório também compromete aspectos psicossociais, como a autoestima e a interação social. Muitos indivíduos passam a disfarçar o sorriso, evitam conversas em público e podem se isolar, demonstrando que o sofrimento se estende muito além da saúde bucal.

Para a dentista Susana Tomazella Hendel, especializada em odontopediatria pela Columbia University, a base para um tratamento eficaz reside na escuta empática. É crucial compreender as apreensões do paciente e conceder-lhe um senso de controle sobre o processo. A especialista sugere táticas como detalhar os procedimentos, oferecer a possibilidade de pausas levantando a mão e exibir os instrumentos, o que colabora significativamente para atenuar o medo. Hendel enfatiza que, em adultos, o medo é frequentemente minimizado e subestimado. Muitos sentem vergonha de confessar e, por vezes, são tratados como frágeis, negligenciando uma condição emocional legítima e oficialmente reconhecida pelo CID.

Além da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que busca recondicionar as reações ao medo, a odontologia moderna dispõe de recursos que proporcionam maior conforto ao paciente. Entre as opções, estão o óxido nitroso, conhecido como “gás do riso”, a sedação venosa e, para situações mais complexas, a anestesia geral. Susana detalha que o óxido nitroso é seguro, promove relaxamento e um leve alívio da dor, permitindo que o paciente retome suas atividades, inclusive dirigir, logo após o procedimento. Apesar de cerca de 3% dos casos não apresentarem resposta, o método é considerado uma ferramenta “fantástica” para manejar a ansiedade.

Favilla complementa que o uso do gás do riso é devidamente regulamentado no Brasil desde 2004, exigindo um curso específico de 96 horas. Em clínicas particulares, esta prática já se encontra bem estabelecida. No entanto, no sistema público, sua utilização é menos frequente. Nessas circunstâncias, caso haja necessidade, o paciente pode ser encaminhado para sedação via anestesia geral.

O caso do gerente de TI Marcello Grizzaffi, de 58 anos, ilustra a dificuldade e a superação da fobia de dentista. Por grande parte de sua vida, Marcello adiava consultas, paralisado pelo som do motorzinho odontológico. “Só de ouvir o barulho, meu corpo trava. Seguro forte na cadeira e só quero que acabe logo”, relata. Sua recordação mais vívida remonta à infância, quando uma longa e dolorosa extração de dois sisos o deixou com a boca inchada por semanas. “Aquilo ficou gravado na memória. Depois disso, sempre que sento na cadeira, meu corpo reage como se fosse reviver aquilo tudo”, explica. Esse trauma o levou a negligenciar consultas rotineiras por muitos anos, resultando no acúmulo de problemas sérios. “Perdi um molar porque deixei o canal infeccionar. Fui empurrando com medo e acabei tendo que encarar algo muito mais difícil”, lamenta.

Em uma tentativa de manejar a ansiedade, Marcello aceitou experimentar a sedação consciente com óxido nitroso. A experiência foi transformadora. “Foi uma experiência completamente diferente. Eu achei que nunca conseguiria relaxar num consultório, mas fiquei tranquilo, até cochilei”, descreve, demonstrando que a fobia pode ser enfrentada com sucesso.

Superar o medo exacerbado do dentista não é apenas factível, mas um percurso que demanda acolhimento, empatia e acesso a informações corretas. O conselheiro Eduardo Favilla, do CFO, enfatiza a necessidade de o paciente com odontofobia ser acolhido, e jamais julgado. A dentista Susana Tomazella Hendel reafirma que, em diversos casos, a confiança estabelecida é o pilar para o êxito do tratamento. É imperativo que o paciente sinta que detém o controle, que pode solicitar uma pausa e que não será coagido a nada. Esse é um trabalho que une empatia e princípios psicológicos com as técnicas odontológicas. A psicóloga Fabiana Tintori Shoji, da USP, ressalta o papel crucial do acompanhamento psicológico. A terapia cognitivo-comportamental, em particular, auxilia o indivíduo a reinterpretar o medo, capacitando-o a reconhecer e substituir pensamentos que instigam o pânico por visões mais realistas. É, essencialmente, um processo de reeducação emocional.

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Entender a odontofobia, desde suas origens na infância até as mais recentes abordagens terapêuticas, é crucial para combater um problema que afeta milhões de brasileiros. Com o devido acolhimento e técnicas eficazes, é possível quebrar o ciclo de medo e restabelecer a saúde bucal e a qualidade de vida. Para continuar se informando sobre tópicos de saúde e outros temas relevantes, não deixe de acompanhar as publicações em nossa editoria: https://horadecomecar.com.br/blog.

Crédito da Imagem: Arquivo Pessoal / AdobeStock / Acervo

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