As monumentais obras em Itapoá, Santa Catarina, estão redefinindo o futuro portuário e turístico da região. Dois dos principais portos catarinenses, Itapoá e São Francisco do Sul, localizados na estratégica Baía da Babitonga, passarão a ser os primeiros do país aptos a receber embarcações com até 366 metros de comprimento e capacidade de carga máxima. O grandioso projeto de aprofundamento do canal, iniciado recentemente, tem previsão de conclusão para o segundo semestre de 2026.
A ambição do empreendimento não se limita apenas ao aspecto logístico. Além de impulsionar a infraestrutura marítima, a intervenção projeta um significativo impacto na geração de empregos. A expectativa é criar até 45 mil postos de trabalho até o ano de 2035, um salto considerável em relação aos 8 mil empregos diretos e indiretos contabilizados atualmente na região. Uma faceta inovadora deste projeto reside na reutilização do sedimento dragado do leito marinho. Essa areia será empregada no alargamento de três praias no município de Itapoá, resultando em oito quilômetros de novas faixas de areia, consolidando-se como a maior área praial criada artificialmente no Brasil.
Obras em Itapoá (SC): Navios maiores e praias novas
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) teve um papel central na concepção ambiental deste projeto. A proposta de reaproveitamento dos sedimentos partiu do próprio órgão, que acompanha rigorosamente todo o processo. Atualmente, 22 programas de monitoramento ambiental estão em andamento, incluindo o uso de redes específicas para salvaguardar a vida marinha durante as operações de dragagem e aterramento. Esse controle reflete um compromisso com a sustentabilidade e a preservação do ecossistema local, fundamental para a biodiversidade da Baía da Babitonga.
Para os moradores de Itapoá, o avanço das obras representa a recuperação de um patrimônio natural em declínio. “Com o passar dos anos, o mar avançou sobre as praias de Itapoá, no Norte catarinense. Nós não tinha mais praia. Era só beira mesmo, porque praia já não tinha mais”, desabafou a pescadora aposentada Janete Nunes de Jesus, ilustrando a realidade enfrentada pela comunidade. Contudo, o cenário atual está em franca mudança. A velocidade e o volume das operações de dragagem têm impressionado os residentes, como a dona de casa Gisela Bier, que notou a transformação: “Surpreende porque, não faz muito tempo, a gente esteve aqui e não tinha nada. Era maré ali, nas pedras.”
A metodologia da dragagem envolve a retirada da areia de uma profundidade de 16 metros no fundo do mar. Este trabalho é executado por uma embarcação especializada, uma draga de 166,5 metros de comprimento, que opera de forma ininterrupta, 24 horas por dia. Em momentos específicos, a draga se aproxima da costa para realizar o despejo do material. Cada viagem do equipamento movimenta 18 mil metros cúbicos de areia, uma quantidade equivalente à capacidade de descarga de dois mil caminhões operando simultaneamente. Segundo Vinícius Delfim, gerente de contratos da empresa responsável, a areia é submetida a análises rigorosas: “A areia é limpa, é uma areia que já foi vastamente estudada e que é compatível com o ambiente que nós temos aqui”.
A requalificação das praias envolverá a extensão de três trechos ao longo de um total de oito quilômetros. Em áreas onde a faixa de areia praticamente desapareceu, a largura das novas praias poderá variar entre 35 e 200 metros. Essa diferenciação de largura é cuidadosamente planejada para “replicar o ambiente que existia antigamente”, conforme explicou Delfim, levando em conta as características ambientais específicas de cada trecho costeiro. O projeto busca, assim, não apenas restaurar, mas otimizar a funcionalidade e a estética do litoral de Itapoá, sempre com base em estudos técnicos aprofundados.
O acompanhamento do Ibama é intensivo, como atesta Paulo Maués Filho, superintendente do órgão em Santa Catarina. Os 22 programas de monitoramento são desenhados para capturar a dinâmica ambiental e o comportamento da fauna marinha durante e após as obras. “Se teve algum óbito de algum animal, como é que esses animais estão se comportando no local – tudo isso é importante pra gente entender a dinâmica do ambiente ao longo desse processo”, destacou Maués Filho, enfatizando a importância da vigilância constante para a mitigação de impactos. A atuação do Ibama é crucial para garantir a conformidade ambiental e a proteção da rica biodiversidade da região costeira, seguindo os preceitos do licenciamento ambiental brasileiro. Mais informações sobre os critérios para licenciamento ambiental podem ser encontradas no site oficial do Ibama.

Imagem: g1.globo.com
A areia utilizada para o alargamento das praias provém do canal de acesso à Baía da Babitonga, a maior baía navegável do estado de Santa Catarina. Com o projeto de aprofundamento, a profundidade do canal aumentará de 14 para 16 metros, uma alteração fundamental que possibilitará a recepção de navios de maior porte nos portos de Itapoá e São Francisco do Sul. Cleverton Vieira, presidente do Porto de São Francisco do Sul, salientou a importância estratégica: “Receberemos então pela primeira vez no Brasil navios de 366 metros com plena capacidade de carga. Isso é mais benefício pra toda a cadeia logística, diminui custos e aumenta a velocidade da operação”.
Os benefícios econômicos projetados são multifacetados. Felipe Kaufmann, diretor de Desenvolvimento de Negócios do Porto de Itapoá, detalhou o impacto direto da movimentação de carga: “Cada contêiner movimentado deixa na cadeia de abastecimento 15 mil reais – desde a receita que ele gera pro terminal, ao frete pro caminhoneiro, e potenciais despesas logísticas. Isso mostra a relevância do aprofundamento do canal de acesso da Baía da Babitonga pra economia nacional”. A otimização logística resultante deste projeto representa um impulsionador crucial para a economia local e, por extensão, para o comércio exterior do país. A conclusão das obras é aguardada com grande expectativa pela comunidade e pelos operadores portuários. “A gente nunca viu uma coisa disso, né? Tirar e botar tanta areia aqui, que a praia era baixa, agora tá alta até”, concluiu a pescadora Janete Nunes de Jesus, resumindo a grandiosidade e o impacto visível das transformações.
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As obras em Itapoá são um marco no desenvolvimento de Santa Catarina, transformando a infraestrutura portuária e renovando as praias locais. Este projeto não só garante um futuro mais próspero para os portos e para o turismo, mas também reafirma a capacidade de inovação e o compromisso ambiental em grandes empreendimentos. Continue acompanhando a cobertura completa sobre infraestrutura e economia na nossa editoria para ficar por dentro das últimas novidades e análises.
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