Em um lançamento muito aguardado, o aclamado violonista e compositor Roberto Menescal une forças com a talentosa cantora Cris Delanno no álbum “O Lado B da Bossa“. O disco, que entra em circulação nesta quinta-feira, 17 de outubro, propõe uma jornada elegante pelas melodias menos exploradas do cancioneiro da bossa nova, reavivando verdadeiros tesouros musicais para as novas gerações e para os apaixonados pelo gênero.
O conceito central do trabalho é iluminar composições que, apesar da riqueza e sofisticação, acabaram por permanecer à sombra de clássicos mais difundidos. A premissa encontra seu ponto de partida na canção “Ah, se eu pudesse”, fruto da parceria entre Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli (1928 – 1994). Esta composição, lançada primeiramente em 1962 na interpretação de Maysa (1936 – 1977) e regravada no ano seguinte por ícones como Lúcio Alves (1927 – 1993), Pery Ribeiro (1937 – 2012) e Tito Madi (1929 – 2018), gradualmente recuou do palco principal, permanecendo apenas no radar de entendedores aprofundados da bossa nova, como Wanda Sá e, notadamente, Cris Delanno. Foi a própria Delanno quem sugeriu o resgate dessa pérola, que agora ganha uma leitura delicada e cativante.
O Lado B da Bossa: Menescal e Delanno Resgatam Clássicos
No coração de “O Lado B da Bossa”, reside uma sonoridade que mescla a intimidade do violão de Menescal com a sutileza da voz de Delanno. O álbum, cuidadosamente adornado pelos toques de instrumentistas talentosos como o pianista Adriano de Souza, reúne regravações de doze composições menos populares. Em um total de onze faixas, “Este seu olhar” e “Só em teus braços”, ambas de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) e originariamente gravadas em 1959, são apresentadas em um engenhoso medley que já havia sido lançado como single em 5 de setembro, servindo como uma amostra do que estaria por vir neste projeto.
O disco não busca revoluções ou reinvenções drásticas. Sua força reside na habilidade de realçar a beleza intrínseca e atemporal de uma parcela da música brasileira que soube como poucas flertar com a estética do jazz sem jamais perder sua essência e ginga nacionais. A harmonia é palpável, seja no dinamismo vocal presente nos ‘scats’ de “Chora tua tristeza” (Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini, 1960) ou nos vibrantes acordes de órgão que enriquecem “Deixa” (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963).
A sinergia musical entre Cris Delanno e Roberto Menescal permeia cada melodia. O álbum exala um tom de elegância que reverencia o legado da bossa nova. Canções como “E era Copacabana” (Carlos Lyra e Joyce Moreno, 2006) trazem à tona uma nostalgia melancólica que contrasta com o otimismo clássico de outras letras. A seleção das faixas é diversa: a valsa “Seu encanto” (Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Pingarilho, 1965) e “E nada mais” (Durval Ferreira e Lula Freire, 1966) são exemplos legítimos do “lado B” que o álbum propõe, esta última marcada pela leveza do solo de assovio de Delanno. Contudo, “O que é amar” (Johnny Alf, 1953) já não pode ser categorizada como uma música pouco conhecida, dada a sua notoriedade histórica no cenário. Apesar das variações de popularidade, as doze composições se entrelaçam perfeitamente na atmosfera acariciante e requintada que Menescal e Delanno constroem.
Diferentes interpretações conferem vida nova a cada tema. Em “Mentiras” (João Donato e Lysias Ênio, 1973), a gravação busca uma leveza mais próxima de Donato, tentando desvencilhar-se da sombra icônica da interpretação de Nana Caymmi (1941 – 2025). Já “O negócio é amar” (Carlos Lyra e Dolores Duran, 1984), parceria póstuma de Carlos Lyra (1933 – 2023) com Dolores Duran (1930 – 1959), ressurge com a suavidade que sua melodia sugere, tendo sido primeiramente lançada por Marisa Gata Mansa (1938 – 2003) no álbum “Leopardo” (1981) e depois amplamente popularizada por Nelson Gonçalves (1919 – 1998). Um toque de afetividade particular é introduzido por “O bondinho” (Roberto Menescal, Cris Delanno e Alex Moreira, 2022), uma composição recente coescrita por Menescal e Delanno com Alex Moreira (1965 – 2023), falecido há dois anos, cuja inclusão serve como uma homenagem emocionante ao amigo e parceiro.
Com sua abordagem sofisticada e repertório cuidadosamente selecionado, o gênero da Bossa Nova tem uma história rica e influente na música mundial, tornando-se um marco da cultura brasileira, como destacado na página dedicada à bossa nova na Wikipédia. A refinada conexão entre o canto de Cris Delanno e o violão de Roberto Menescal é o motor principal de “O Lado B da Bossa”. Este projeto não apenas reafirma a maestria dos artistas envolvidos, mas também cumpre a missão nobre e elegante de resgatar joias que, merecidamente, devem figurar com maior frequência nas playlists dedicadas a um estilo musical que prova ser verdadeiramente atemporal.
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Em suma, “O Lado B da Bossa” é um tributo musical à profundidade e à poesia da bossa nova, cuidadosamente orquestrado por dois de seus mais dedicados intérpretes. Este lançamento promete enriquecer o cenário musical com sua proposta de resgate e celebração. Para ficar por dentro de outros lançamentos, análises e as principais notícias da cena cultural, continue acompanhando a editoria de Cultura do nosso site e mergulhe no universo fascinante das artes, acessando a página inicial do nosso portal para mais novidades.
Foto: Marcos Hermes / Divulgação
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