A ascensão meteórica da Nvidia, impulsionada pelo boom da inteligência artificial, culminou em um marco histórico: a empresa se tornou a primeira da história a alcançar US$ 5 trilhões em valor de mercado. Esse feito notável, consolidado em 29 de maio, coloca o cofundador e CEO, Jensen Huang, uma figura que iniciou sua jornada profissional como lavador de pratos, entre os indivíduos mais ricos do planeta, com uma fortuna estimada em US$ 178 bilhões.
A façanha não apenas sublinha a proeminência da Nvidia no cenário global da tecnologia, mas também ressalta a trajetória inspiradora de seu líder. Huang, um imigrante taiwanês de 62 anos, viu sua empresa de chips decolar, solidificando sua posição não apenas como uma das mentes mais inovadoras, mas também como um “herói” em sua terra natal, como evidenciado pela “Jensanity”, uma comoção notada em feiras de tecnologia em Taiwan no final de maio.
Nvidia atinge US$ 5 trilhões e consagra ex-lavador de pratos
Este marco financeiro para a Nvidia é a materialização de um crescimento sem precedentes. Nos últimos três anos, o valor das ações da companhia multiplicou por impressionantes 12 vezes. A empresa consolidou sua posição central na disputa pela liderança da inteligência artificial, especialmente no embate tecnológico entre Estados Unidos e China. O desenvolvimento de sistemas avançados de IA, como ChatGPT e Claude, tem sido fortemente impulsionado pela tecnologia da Nvidia, evidenciando seu papel crucial na vanguarda da revolução digital. Segundo dados recentes da Forbes, a fortuna pessoal de Jensen Huang, avaliada em US$ 178 bilhões nesta quarta-feira (29), o posiciona como a oitava pessoa mais rica do mundo, refletindo diretamente o sucesso extraordinário de sua criação.
Quem é Jensen Huang?
Nascido Jen-Hsun Huang em Taiwan, mas conhecido como Jensen Huang, o fundador da Nvidia construiu sua empresa em 1993 ao lado de Chris Malachowsky e Curtis Priem. Antes disso, a trajetória de Huang foi marcada por desafios e oportunidades que moldaram sua resiliência. Sua infância dividiu-se entre Taiwan e Tailândia antes de seus pais tomarem a decisão de enviá-lo, juntamente com seu irmão, para os Estados Unidos. Nos EUA, ele frequentou um instituto que tinha características de um reformatório, onde era responsável por tarefas como lavar os banheiros, conforme reportado pela BBC em 2024.
Aos 15 anos, Huang encontrou seu primeiro emprego formal em uma lanchonete, onde desempenhava as funções de lavar pratos e servir mesas. Ele descreve essa experiência como uma “excelente” escolha trabalhista. “Recomendo encarecidamente a todos que tenham seu primeiro emprego no setor de restaurantes, que ensina a ser humilde e trabalhar duro”, afirmou o CEO da Nvidia, refletindo sobre a importância da base que adquiriu. Após essa experiência, ele ingressou na Universidade Estadual de Oregon, formando-se em engenharia elétrica em 1984. Lá, conheceu sua esposa, Lori. Mais tarde, obteve um mestrado em Stanford, Califórnia, e acumulou experiência em outras empresas de tecnologia antes da fundação da Nvidia, uma ideia que surgiu durante uma conversa casual em uma lanchonete – coincidentemente, de uma rede similar àquela onde havia trabalhado. Atualmente, Huang é dono de cerca de 3% da companhia, que se lançou na bolsa de valores de Nova York em 1999.
O que faz a Nvidia?
A essência dos negócios da Nvidia reside na fabricação de unidades de processamento gráfico (GPUs), chips de alta performance indispensáveis para o treinamento de modelos de inteligência artificial que exigem capacidade computacional massiva, como os utilizados pelo ChatGPT. Entre a vasta carteira de clientes da empresa, destacam-se praticamente todas as gigantes da tecnologia, incluindo Microsoft, Google, Amazon, Meta e Spotify. Os produtos mais emblemáticos da Nvidia neste setor são as GPUs H100 e A100. Recentemente, a empresa introduziu a geração mais avançada, o Blackwell (B100), concebido para superar o desempenho e a eficiência da H100.
Além da inteligência artificial, a Nvidia mantém uma forte presença no mercado de computadores pessoais, produzindo componentes gráficos cruciais para o funcionamento de jogos eletrônicos – setor que, inclusive, foi a porta de entrada para a fama global da empresa. O H100, considerado o principal produto da Nvidia atualmente, é o chip mais requisitado do setor e possui um custo que chega a dezenas de milhares de dólares por unidade. Um exemplo de sua demanda é o ChatGPT, que, segundo a empresa especializada TrendForce, necessita de aproximadamente 30 mil GPUs para operar. Elon Musk ironizou, em um evento organizado pelo “Wall Street Journal” em 2023, que “Os GPUs são mais difíceis de encontrar do que drogas”, ilustrando a escassez do componente.
Um aspecto fundamental do modelo de negócios da Nvidia é que ela projeta seus processadores, mas não os fabrica em suas próprias instalações. Esse processo é terceirizado para empresas como a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), líder mundial na área. A infraestrutura necessária para o avanço da IA é vastamente dependente de centenas de empresas taiwanesas, que fornecem tanto componentes quanto o conhecimento de fabricação essencial para os sistemas complexos da Nvidia.
A fama da Nvidia nos games
Muito antes de se tornar sinônimo de chips de inteligência artificial, a Nvidia consolidou sua reputação e negócios no mundo dos jogos. A empresa era completamente dedicada ao desenvolvimento e fabricação de placas de vídeo, essenciais para otimizar a qualidade gráfica em videogames e conteúdos de vídeo. Em 1999, surfando na onda do boom da internet, a Nvidia lançou sua primeira GPU (Unidade de Processamento Gráfico), inaugurando uma era de inovações que transformaria a experiência visual em computadores pessoais.

Imagem: g1.globo.com
Com o tempo, a Nvidia expandiu sua atuação, desenvolvendo produtos e infraestruturas para data centers. Essa diversificação permitiu que a empresa oferecesse uma potência de processamento de dados que, antes, estava restrita a pesquisadores e grandes corporações tecnológicas. No mercado de placas gráficas, os principais concorrentes da Nvidia são duas outras companhias americanas de destaque: a AMD (Advanced Micro Devices) e a Intel, que também buscam inovar e capturar fatias desse lucrativo segmento.
Por que a Nvidia está crescendo?
Os resultados financeiros impressionantes da Nvidia são majoritariamente impulsionados pelos vastos investimentos que outras companhias estão realizando em sistemas de inteligência artificial. A Nvidia ocupa uma posição singular, sendo uma das poucas empresas que fornecem os chips essenciais para o treinamento de modelos de IA, cuja construção demanda milhares de chips como o aclamado H100. Esta exclusividade e alta demanda são fatores chave para sua valorização estratosférica.
A corrida tecnológica entre as superpotências globalmente impacta a atuação da empresa. Empresas chinesas como a Huawei tentam, há anos, alcançar a capacidade da Nvidia na produção de chips de ponta, capazes de rivalizar com os produtos norte-americanos no treinamento de IA. Uma política do governo de Joe Biden, que proibiu a Nvidia (assim como a AMD) de vender seus chips mais avançados para a China, tinha como objetivo conter os avanços asiáticos no campo da inteligência artificial. No entanto, o cenário se complicou com o lançamento do robô conversador (chatbot) Deepseek em janeiro deste ano. Este rapidamente se tornou um assunto global, levantando a questão de como a China conseguiu criar um chatbot similar ao ChatGPT, aparentemente sem depender dos chips de ponta da Nvidia e a um custo muito mais baixo, o que colocou a ideia em xeque.
O significado do nome Nvidia
De acordo com uma reportagem da BBC, o nome “Nvidia” é uma combinação intrigante de elementos. As letras “NV” seriam as iniciais de “nova/próxima visão” (“new vision”, em inglês), apontando para a capacidade de inovação da empresa. O “VID” faz uma clara referência a vídeo, conectando-se diretamente às placas gráficas que foram a base da fama da companhia. Curiosamente, o nome também guarda semelhança com a palavra “invidia”, que no latim significa inveja – talvez uma alusão ao poder e ambição da marca.
Jensen Huang, descrito pela agência France Presse como um empresário atípico, notabiliza-se por seus modos diretos e uma aparência descontraída. Similarmente às roupas pretas características de Steve Jobs, as vestimentas de couro que Huang frequentemente utiliza em suas apresentações tornaram-se uma assinatura pessoal. Sua filosofia empresarial abraça a “tolerância ao risco” e enfatiza a necessidade de uma empresa ser “suficientemente flexível para mudar de trajetória rapidamente”. Um exemplo dessa adaptabilidade ocorreu pouco depois da fundação da Nvidia, quando a empresa decidiu abandonar um contrato com fabricantes de videogames como a Sega para focar em um novo processador destinado a competir no mercado de computadores pessoais (PCs). Embora essa mudança quase tenha levado a empresa à falência, conforme a AFP, ela demonstrou a capacidade de Huang em pivotar strategicamente e arriscar por uma visão maior. Uma visão aprofundada sobre a ascensão da Nvidia e o futuro da IA pode ser lida no site da IEEE Spectrum.
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Em suma, a trajetória da Nvidia e de Jensen Huang exemplifica uma jornada de inovação, resiliência e adaptabilidade que culminou em um domínio sem precedentes no mercado global. Sua liderança no setor de chips para inteligência artificial não só redefiniu o valor de mercado, atingindo um marco histórico, mas também solidificou seu papel na próxima era tecnológica. Para continuar acompanhando as notícias mais relevantes sobre tecnologia e o cenário econômico global, não deixe de explorar outras análises sobre os desafios da inovação em IA em nossa editoria.
Crédito da Imagem: REUTERS/Ann Wang/File Photo




