O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, marcou presença na Assembleia Geral da ONU em meio a um auditório com significativa esvaziamento de representantes, onde fez críticas diretas a líderes internacionais que optaram por reconhecer o Estado da Palestina. Durante sua intervenção nesta quinta-feira, o mandatário israelense delineou a posição de seu país frente à recente escalada do conflito na Faixa de Gaza.
Netanyahu afirmou que o suporte de diversas nações a Israel, particularmente após o incidente de 7 de outubro, “evaporou” no momento em que a nação passou a “contra-atacar”. Ele declarou que, nos últimos dois anos, Israel tem “travado uma batalha contra bárbaros, enquanto muitas nações se opõem” ao seu país. Em sua fala, garantiu que Israel irá “finalizar o serviço” contra o grupo Hamas e expressou agradecimento ao apoio recebido de Donald Trump contra as investidas terroristas.
Netanyahu na ONU: Promete Ação Firme em Gaza Apesar de Críticas
Ainda em seu discurso, o primeiro-ministro referiu-se a um ataque realizado por Israel contra uma base no Irã, qualificando-o como um “ato de bravura”. Conectando eventos recentes a pautas de segurança regional e internacional, ele também mencionou tentativas de assassinato contra Donald Trump, ligando-as a “inimigos em comum” enfrentados por Israel e os Estados Unidos.
Assegurando que Israel não comete genocídio, Netanyahu classificou tais acusações como “sem base”. Ele declarou que seu governo se esforça para “retirar a população de Gaza” da área de conflito. Em contraste com relatos da Organização das Nações Unidas, que indicam mais de 400 mortes por fome na região desde o início da guerra, o premiê israelense apresentou dados sobre a distribuição de alimentos em Gaza, rechaçando a ideia de que estivesse implementando uma “política de fome”. O premiê defendeu a operação humanitária de Israel e contestou a percepção mundial, dizendo: “A maioria do mundo não lembra do 7 de outubro, mas Israel lembra do dia sete de outubro”, em contradição com muitos líderes que mencionaram o ataque em suas próprias declarações na ONU.
Esvaziamento da Sala e Críticas Internacionais
O discurso de Benjamin Netanyahu foi marcado por uma série de reações diplomáticas em tempo real. Diplomatas de diversos países, incluindo o Brasil, Quirguistão e Irã, deixaram o parlamento das Nações Unidas quando o primeiro-ministro israelense iniciou sua fala. Essa não foi a primeira vez que o Brasil se manifestou dessa forma, tendo boicotado o discurso de Israel em 2024 também. A significativa quantidade de cadeiras vazias no local evidenciou o distanciamento de várias nações em relação às políticas de Israel e à presença de seu líder na Assembleia Geral.
Durante sua apresentação, Netanyahu empregou métodos incomuns para reforçar sua narrativa. Ele utilizou um código QR em sua vestimenta, que, segundo ele, levava a um site detalhando “todas as atrocidades” cometidas pelo Hamas contra israelenses. Além disso, exibiu quadros e conduziu um “quiz” com os poucos presentes no plenário, questionando-os sobre os responsáveis por atos terroristas contra Israel e os Estados Unidos, buscando evidenciar as ameaças enfrentadas por ambos os países.
Comunicação Direta com Gaza e Encontros Paralelos
Em um movimento estratégico de comunicação, a fala de Netanyahu na Assembleia Geral foi transmitida simultaneamente para a população da Faixa de Gaza. Auto falantes foram posicionados na fronteira, e celulares de habitantes de Gaza teriam recebido a transmissão ao vivo do discurso. A justificativa apresentada pelo primeiro-ministro foi a tentativa de se comunicar diretamente com os reféns que estariam vivos na região. Durante a transmissão, ele fez um apelo para que os extremistas do Hamas se rendessem, afirmando: “Se o Hamas aceitar nossas demandas, a guerra acaba agora”.
Em uma publicação antecipada em suas redes sociais, Netanyahu havia indicado que criticaria líderes mundiais. Ele declarou que condenaria “aqueles líderes que, em vez de condenarem os assassinos, estupradores e queimadores de crianças, querem dar a eles um estado no coração de Israel”, em um vídeo divulgado antes de embarcar para os Estados Unidos. A viagem para os EUA teve um trajeto atípico: o voo de Netanyahu desviou de países europeus, onde há uma ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional com base em acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Paralelamente à Assembleia Geral da ONU, havia uma expectativa de encontro entre Netanyahu e o ex-presidente americano Donald Trump. Os dois líderes tinham um compromisso marcado para uma reunião a portas fechadas no final do dia em Washington D.C., a aproximadamente 370 quilômetros de Nova York. A sintonia entre ambos, evidenciada pelos agradecimentos de Netanyahu na ONU, sugere uma aliança política em pautas estratégicas globais.
O Crescente Reconhecimento do Estado Palestino
A pauta do reconhecimento do Estado da Palestina dominou parte da agenda da Organização das Nações Unidas. Países que há tempos clamam por um cessar-fogo em Gaza já haviam sinalizado a intenção de reconhecer o Estado Palestino na ONU, cumprindo suas promessas ao longo da semana. Uma reunião específica para discutir a solução de dois Estados – que propõe a coexistência de um Estado palestino e outro israelense – foi realizada na segunda-feira, um dia antes da abertura oficial da Assembleia Geral. É fundamental acompanhar os desdobramentos de tais reuniões para entender as direções da diplomacia global, como pode ser visto em relatos e notícias da própria Organização das Nações Unidas.

Imagem: noticias.uol.com.br
Entre os países que formalizaram ou sinalizaram o reconhecimento recentemente, destaca-se a França, cujo presidente Emmanuel Macron afirmou que “os palestinos têm história e dignidade, e o reconhecimento de seu Estado não subtrai nada do povo de Israel”. Canadá, Reino Unido, Austrália e Portugal também se uniram ao movimento dias antes, reforçando uma tendência iniciada por Espanha, Irlanda, Noruega e Eslovênia no ano anterior.
Em meio a esses anúncios, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, fez um discurso de agradecimento aos países pelo reconhecimento de seu Estado. Sua participação ocorreu por videoconferência, pois não obteve visto para entrar nos Estados Unidos e participar do evento presencialmente.
A Intensificação do Conflito e Crise Humanitária em Gaza
A guerra na Faixa de Gaza tem ceifado a vida de mais de 65 mil pessoas. Alarmantemente, desse total, mais de 400 mortes foram atribuídas diretamente à fome, resultado de um bloqueio total de ajuda humanitária imposto por mais de dois meses no enclave. Embora a entrada de alimentos tenha sido retomada a conta-gotas posteriormente, a Organização das Nações Unidas continua a alertar que a distribuição ainda é insuficiente para atender às necessidades básicas da população.
Israel tem prosseguido com seus ataques, apesar dos reiterados apelos internacionais por um cessar-fogo. As forças israelenses têm mantido uma operação de “tomada total” na Cidade de Gaza, a área mais densamente povoada do enclave. Nas últimas semanas, avisos de evacuação foram emitidos para todo o território, levando ao deslocamento massivo da população civil.
O histórico de conflito entre Israel e Palestina, que já é extenso, intensificou-se dramaticamente após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro. Naquela ocasião, extremistas invadiram Israel, resultando na morte de cerca de 1.200 pessoas e no sequestro de aproximadamente 250 indivíduos. Atualmente, estima-se que cerca de 50 reféns israelenses ainda permaneçam em Gaza, com a maioria deles provavelmente morta. Dados da inteligência israelense sugerem que apenas 20 dos homens e mulheres levados pelo Hamas seguem vivos, quase dois anos após o início das hostilidades.
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A tensão na região permanece alta, com debates na ONU e movimentos diplomáticos sublinhando a complexidade e a urgência da situação. Acompanhe nossa editoria de Política para mais análises e notícias sobre este e outros temas que moldam o cenário global.
Crédito da imagem: UN/Reprodução de vídeo
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