As negociações entre Estados Unidos e China foram iniciadas na Malásia com o objetivo de frear uma possível escalada da guerra comercial e assegurar um encontro crucial entre os presidentes Donald Trump, dos EUA, e Xi Jinping, da China. No sábado, dia 25, autoridades econômicas das duas maiores potências globais encerraram o primeiro dia de discussões em Kuala Lumpur, sendo descrito como “muito construtivas” por um porta-voz do Tesouro norte-americano.
As discussões ocorrem à margem da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático e buscam traçar um caminho pacífico após o presidente Trump ter ameaçado implementar novas tarifas de 100% sobre produtos chineses e outras restrições comerciais a partir de 1º de novembro. Essas ameaças surgem como retaliação direta aos extensos controles de exportação de ímãs de terras raras e outros minerais, expandidos recentemente pela China.
Negociações EUA China Buscam Acordo para Evitar Escalada
A tensão atual, marcada também pela ampliação de uma lista de exportações dos EUA que abrange milhares de empresas chinesas, interrompeu uma trégua comercial anteriormente estabelecida. Este cessar-fogo provisório foi construído e mantido através de quatro reuniões prévias desde maio, envolvendo o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, e o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng. O principal negociador comercial da China, Li Chenggang, também está presente nas atuais rodadas de negociação. Um repórter da Reuters confirmou a chegada de Li acompanhando He no início do dia. Um porta-voz do Tesouro resumiu o ambiente inicial: “Elas foram muito construtivas e esperamos que sejam retomadas pela manhã.” Os governos malaio, americano e chinês mantiveram detalhes sobre o progresso e os possíveis resultados da reunião em sigilo, sem previsão de comunicação à imprensa.
Caminhos para o Diálogo: Reunião de Cúpula na Coreia do Sul
Os três principais diplomatas e negociadores buscam abrir caminho para que os presidentes Trump e Xi se encontrem na próxima quinta-feira, durante a cúpula de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, que acontecerá na Coreia do Sul. Este encontro é visto como de alto risco, podendo resultar em alívios temporários de tarifas, discussões sobre controles de tecnologia e um acordo sobre compras chinesas de soja dos EUA.
Pouco antes de sua partida de Washington para a viagem asiática, Trump delineou diversos pontos a serem debatidos com Xi Jinping. Ele indicou que as preocupações dos agricultores americanos, afetados pela paralisação chinesa na compra de soja dos EUA, e o status da ilha democrática de Taiwan — reivindicada pela China como parte de seu território — estariam na pauta. O presidente americano, no entanto, afirmou não ter planos de visitar Taiwan. Ele também levantou a questão da libertação do magnata da mídia de Hong Kong, Jimmy Lai, cujo caso simboliza a repressão da China a direitos e liberdades na região financeira asiática. “Temos muito o que conversar com o presidente Xi, e ele tem muito o que conversar conosco. Acho que teremos uma boa reunião”, declarou Trump na ocasião.
A viagem de cinco dias de Trump, que o levou à Malásia, Japão e Coreia do Sul, marcou sua primeira visita à região e a mais extensa viagem internacional desde sua posse em janeiro. A bordo do Força Aérea Um, ele comentou a repórteres o desejo de que a China auxiliarasse Washington em suas conversações com a Rússia.
Equilíbrio Delicado na Guerra Comercial
Especialistas da área econômica global observam o cenário com atenção. Josh Lipsky, presidente de economia internacional no Atlantic Council, em Washington, apontou que Bessent, Greer e He Lifeng necessitam encontrar um terreno comum para atenuar as disputas em torno das restrições americanas à exportação de tecnologia e os controles chineses sobre terras raras. A reversão dessas restrições é um ponto central para Washington. “Não tenho certeza se os chineses podem concordar com isso. É a principal vantagem que eles têm”, afirmou Lipsky.
A expectativa de grandes anúncios pode recair sobre o presidente Trump, que, conforme o planejado, chegaria à capital da Malásia no domingo. Scott Kennedy, especialista em economia chinesa do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, ressaltou a incerteza: “Não saberemos se Pequim conseguiu contrabalançar com sucesso os controles de exportação dos EUA com suas próprias restrições ou se induziu a continuação de uma espiral de escalada até que Trump e Xi se encontrem.” Kennedy alertou para as consequências futuras: “Se eles fizerem um acordo, a jogada terá valido a pena. Se não houver acordo, todos precisarão se preparar para que as coisas fiquem muito mais feias.” A complexidade das relações econômicas globais e a necessidade de colaboração em diversas frentes são frequentemente discutidas por especialistas, como se pode verificar em relatórios de órgãos como a Reuters sobre o comércio internacional, que destacam a constante movimentação e os desafios do cenário econômico mundial.

Imagem: que os ímãs estão no centro da disput via g1.globo.com
Terras Raras e a Reescalada Tarifária
O foco principal das duas maiores economias mundiais é prevenir que a escalada tarifária retorne a patamares de três dígitos para ambos os lados. Um encontro anterior de Bessent e Greer com He, em Genebra, no mês de maio, havia estabelecido uma trégua de 90 dias, que resultou em uma redução significativa das tarifas para aproximadamente 55% no lado americano e 30% no lado chinês, reabrindo o fluxo de ímãs de terras raras. Essa trégua, inicialmente programada para expirar em 10 de novembro, foi prorrogada em negociações posteriores realizadas em Londres e Estocolmo.
Contudo, a delicada trégua se rompeu no final de setembro. O Departamento de Comércio dos EUA expandiu de forma considerável uma lista negra de exportações, passando a incluir automaticamente empresas com mais de 50% de participação acionária de outras já presentes na lista. Tal medida proibiu as exportações americanas para milhares de empresas chinesas adicionais. Em resposta, a China implementou novos controles globais de exportação de terras raras em 10 de outubro, com a intenção explícita de evitar o uso desses minerais em sistemas militares. Bessent e Greer condenaram a ação chinesa como uma “tomada de poder na cadeia de suprimentos global”, prometendo que os EUA e seus aliados não aceitariam as restrições.
Conforme informações da Reuters, o governo dos EUA considera um plano para intensificar a pressão com restrições a uma vasta gama de exportações de software para a China, que abrangem desde laptops até motores a jato. A tensão foi ainda mais ampliada na sexta-feira, quando o governo dos EUA anunciou uma nova investigação tarifária sobre o “aparente fracasso” da China em cumprir os termos do acordo comercial de “Fase Um” entre os países, firmado em 2020, que havia pausado a guerra comercial durante o primeiro mandato de Trump.
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Este cenário de negociações contínuas reflete a complexidade das relações comerciais entre EUA e China, com impactos globais evidentes. A busca por um consenso permanece central para evitar uma nova espiral de tensões. Mantenha-se informado sobre os desdobramentos dessa e outras importantes pautas econômicas e políticas globais em nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: AP Photo/Charlie Neibergall



