As negociações comerciais entre China e EUA ganham um novo impulso após a República Popular da China anunciar, neste sábado (18), sua concordância para uma nova rodada de diálogos com os Estados Unidos, a ser iniciada o mais rápido possível. Essa iniciativa surge em um cenário onde líderes das duas potências buscam ativamente evitar uma nova intensificação da guerra comercial, seguindo o recente anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de imposição de tarifas de 100% sobre produtos chineses.
O anúncio de Pequim foi divulgado pela agência de notícias estatal Xinhua e é resultado de uma teleconferência entre o vice-premiê chinês, He Lifeng, principal negociador de Pequim, e Scott Bessent, o secretário do Tesouro norte-americano. Segundo a Xinhua, a conversa foi marcada por trocas francas, aprofundadas e construtivas, sinalizando um caminho para a resolução das crescentes tensões bilaterais.
Negociações Comerciais: China e EUA Acordam Nova Rodada
Horas antes da declaração chinesa, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos desde seu retorno à Casa Branca em janeiro de 2025, já havia expressado, na sexta-feira, que a aplicação de tarifas de 100% a produtos chineses não era sustentável a longo prazo, mas justificou a medida como uma resposta necessária à postura chinesa. O mandatário estadunidense acusa a China de sempre buscar vantagem em acordos comerciais e reforça o objetivo de estabelecer um novo pacto com a nação asiática, uma estratégia que ele vem adotando com diversos outros países desde o início de sua atual gestão. Inclusive, o Brasil já figura entre essas nações, com o chanceler Marco Vieira iniciando discussões com os EUA em encontro recente com o senador Marco Rubio.
Diálogos e Expectativas para um Acordo Equitativo
Em entrevista à Fox Business Network na sexta-feira, Trump reiterou a urgência de um acordo equitativo entre as duas maiores economias globais, mas admitiu incerteza quanto ao desfecho do conflito comercial. Ele confirmou um encontro programado com o presidente chinês Xi Jinping nas próximas duas semanas para discutir o comércio, afirmando: “Vamos ver o que acontece”. Segundo o secretário Scott Bessent, a reunião entre os dois líderes está prevista para ocorrer na Coreia do Sul, evidenciando o esforço em manter as linhas de comunicação abertas ao mais alto nível.
Questionamentos à OMC e Compromissos Multilaterais
Ainda na sexta-feira, a missão da China junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) fez severas críticas, alegando que os Estados Unidos têm sistematicamente enfraquecido o sistema de comércio multilateral baseado em regras desde que o novo governo estadunidense assumiu o cargo em 2025. O comunicado chinês apontou o uso persistente de políticas discriminatórias, tarifas de retaliação e sanções unilaterais que, conforme Pequim, violam diretamente os compromissos assumidos perante a OMC.
A delegação chinesa informou também que o Ministério do Comércio está elaborando um relatório detalhado para avaliar o cumprimento das normas da OMC pelos Estados Unidos em 11 áreas distintas. Este documento servirá para renovar os apelos a Washington para que respeite as regras da Organização Mundial do Comércio e colabore com as demais nações-membros na tarefa de fortalecer a governança econômica global, promovendo um ambiente de comércio justo e equilibrado.
Escalada de Tensões e Retaliações Recíprocas
As fricções comerciais entre China e Estados Unidos ganharam notável intensidade nesta semana, impulsionadas por uma série de críticas e imposições tarifárias de ambos os lados. Na sexta-feira (10), o presidente Trump criticou veementemente a decisão da China de restringir as exportações de elementos de terras raras e anunciou uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses, com vigência a partir de 1º de novembro. O presidente republicano chegou a ameaçar o encerramento de negócios com a China envolvendo produtos como óleo de cozinha e outros elementos essenciais para o comércio bilateral.
Segundo a visão de Trump, essas ações são uma resposta direta à decisão de Pequim, em maio, de suspender a aquisição de soja dos Estados Unidos, o que ele descreveu como um ato economicamente hostil contra os produtores americanos. Em uma publicação na plataforma Truth Social, Trump declarou: “Estamos considerando encerrar negócios com a China relacionados a óleo de cozinha e outros elementos do comércio, como retaliação. Por exemplo, podemos facilmente produzir óleo de cozinha nós mesmos, sem precisar comprá-lo da China.”
Em resposta, o Ministério do Comércio da China afirmou que os controles sobre elementos de terras raras — classificados por Trump como “surpreendentes e muito hostis” — são uma reação justificada às medidas adotadas pelos EUA após as últimas rodadas de negociações comerciais. A China deixou clara sua posição: “Ameaçar impor tarifas altas a qualquer momento não é a forma correta de lidar com a China. Nossa posição sobre guerras tarifárias é consistente: não queremos brigar, mas não temos medo de brigar.” O Ministério adicionou que, caso os Estados Unidos persistam em agir unilateralmente, a China adotará as contramedidas cabíveis para defender seus direitos e interesses legítimos.
Mudanças no Fluxo Comercial e Impacto Econômico
Com o aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos, exportadores chineses estão se reorientando, buscando novos mercados em regiões como Europa, América Latina e Oriente Médio. Empresas que anteriormente possuíam uma forte dependência do mercado norte-americano agora se esforçam para compensar as perdas por meio da conquista de novos compradores, conforme relatórios da agência de notícias Reuters. Apesar da diminuição das vendas para os EUA, as exportações totais da China demonstraram resiliência, crescendo 7,1% nos primeiros nove meses do ano, um indicativo da robustez da economia chinesa.
No entanto, a situação não é vista sem desafios. Muitos empresários chineses relatam um cenário de maior competitividade, com redução de preços e, em alguns casos, vendas com prejuízo para manter o volume de negócios. A Feira de Cantão, uma das maiores vitrines comerciais do mundo, registrou uma drástica diminuição na presença de compradores dos Estados Unidos, enquanto o interesse de países como o Brasil, por exemplo, demonstrou significativo aumento. Para os fabricantes chineses, a redução da demanda vinda dos EUA – o maior mercado consumidor global – representa uma perda do principal motor que historicamente impulsionou o setor.
O clima de instabilidade comercial também repercutiu nas bolsas asiáticas, que registraram uma semana de forte desvalorização. As bolsas da China e de Hong Kong apresentaram quedas acentuadas, configurando o pior desempenho desde abril. O nervosismo entre investidores intensificou-se não apenas pelas tensões comerciais com os Estados Unidos, mas também pela realização de lucros em ações de empresas ligadas à inteligência artificial. O índice de Xangai recuou cerca de 2%, o CSI300 perdeu pouco mais de 2%, e o Hang Seng, de Hong Kong, acumulou uma queda de aproximadamente 2,5% na semana.
Analistas do mercado financeiro afirmam que a volatilidade persistirá, e os investidores agora aguardam a próxima reunião do Partido Comunista Chinês, prevista para a próxima semana, ocasião em que será delineado e debatido o novo plano econômico do país, um evento crucial para a direção futura da política econômica e comercial chinesa.
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Em resumo, as relações comerciais entre China e EUA continuam em um delicado equilíbrio, com um passo adiante nas negociações contrastando com uma escalada contínua de retaliações. Para entender os desdobramentos desses eventos e suas implicações globais, explore mais análises sobre a economia global e geopolítica em nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Reuters/Kevin Lamarque

