As **negociações de tarifas entre China e EUA** ganham um novo capítulo com a determinação recente da China de implementar um controle de exportação rigoroso sobre terras raras. A medida provocou uma resposta imediata do presidente Donald Trump, que retaliou impondo tarifas adicionais de 100% sobre uma série de produtos oriundos do gigante asiático. Essa escalada surge pouco antes de um encontro crucial entre os líderes das duas maiores economias globais, indicando a complexidade e a volatilidade das atuais disputas comerciais.
Este mais recente desenvolvimento ocorre às vésperas de uma reunião esperada entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping. O encontro está previsto para o final deste mês, durante a cúpula da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), que será realizada na Coreia do Sul. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, confirmou, no domingo, dia 12, que Washington e Pequim têm mantido “comunicações substanciais”, reforçando a expectativa de que os dois líderes irão de fato se encontrar neste importante evento.
Negociação de tarifas: China e EUA revisam pautas comerciais
Desde o início da acirrada guerra comercial, em abril, diversos setores e produtos que não estavam originalmente atrelados à disputa foram incorporados, tornando-se moedas de troca essenciais nas mesas de negociação. Além das discussões tradicionais sobre produtos manufaturados e setores estratégicos, há uma gama de outros elementos que podem moldar um possível acordo entre as lideranças. Abaixo, detalhamos os principais pontos que provavelmente farão parte do diálogo decisivo para as futuras relações econômicas entre os países.
Controles de Exportação no Contexto da Guerra Comercial
A política chinesa relacionada às terras raras tem sido um ponto central de tensão. A decisão de Pequim exige uma licença de exportação para qualquer item produzido no exterior que contenha terras raras de origem chinesa. Na prática, essa regulamentação estabelece um regime extraterritorial, obrigando empresas de diversos países a buscarem autorização de Pequim para vender bens que utilizem esses minerais cruciais. Donald Trump qualificou a medida como extremamente agressiva, o que serviu de catalisador para sua resposta tarifária de 100% sobre produtos chineses, com vigência a partir de 1º de novembro.
No embate envolvendo a Boeing, o presidente americano ameaçou implementar controles de exportação sobre componentes da aeronave. Essa tática visava impactar a economia chinesa diretamente após a determinação chinesa sobre as terras raras. O presidente Trump declarou, na Casa Branca, na semana passada, que os EUA detêm diversos meios de pressão, e que a aviação, especialmente os aviões da Boeing, é um deles, dada a dependência chinesa de peças e outros elementos. Informações da Cirium, especialista em análise do setor de aviação, revelam que as companhias aéreas da China têm pelo menos 222 jatos Boeing sob encomenda, além de uma frota já operacional de 1.855 aviões da fabricante americana, ressaltando a relevância da Boeing nesse contexto.
Os chamados softwares críticos também foram alvo de determinação presidencial americana. Novas regras de exportação serão aplicadas a esses programas a partir de 1º de novembro, data em que as tarifas adicionais de 100% também entram em vigor. Tais softwares englobam sistemas projetados para operar com privilégios elevados, acessando diretamente ou de forma privilegiada recursos de redes de computadores, além de controlar o acesso a dados e executar funções críticas de segurança e confiança, conforme definição do governo dos EUA. Analistas do setor avaliam que estas restrições representam um duro golpe para a indústria de tecnologia da China, incluindo o crescente segmento de inteligência artificial do país, impactando a capacidade chinesa de avançar em áreas estratégicas.
Impacto das Listas de Entidades e Restrições Comerciais
Ambos os governos, EUA e China, utilizaram a ferramenta de “listas de entidades” para impor restrições à atuação de empresas. A China categorizou empresas americanas como “não confiáveis”, limitando ou impedindo suas operações. O Ministério do Comércio chinês pode, por exemplo, restringir importações e exportações, além de proibir investimentos para essas companhias. Similarmente, organizações incluídas na lista americana são submetidas a intenso escrutínio e necessitam de licenças especiais para exportar, reexportar ou alterar a finalidade e o usuário final de um item dentro do território nacional, o que demonstra a estratégia de ambos os lados em usar as listas para alavancar suas posições.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A Questão da Soja e Óleo de Cozinha no Comércio Sino-Americano
No setor agrícola, os importadores chineses suspenderam a compra de soja nova dos EUA durante a guerra comercial, resultando em bilhões de dólares de prejuízo para os produtores americanos, visto que a China era o principal destino da soja cultivada nos Estados Unidos. Para compensar essa lacuna, o país asiático redirecionou suas compras para a América do Sul, com o Brasil emergindo como um fornecedor fundamental. Tal cenário impulsionou o aumento da produção de soja brasileira para atender à demanda chinesa. No entanto, um eventual acordo entre Trump e Xi pode deixar os produtores brasileiros com um excedente de safra, o que, por sua vez, levaria à queda dos preços da colheita e à necessidade do Brasil explorar novas rotas e parceiros comerciais. A pressão sobre Trump é significativa por parte de sua base eleitoral de agricultores, e como contramedida, o presidente americano indicou sua intenção de cessar a compra de óleo de cozinha chinês.
Semicondutores: Ponto Sensível da Disputa Tecnológica
A disputa pelos semicondutores representa um dos focos mais delicados nas negociações, abrangendo questões cruciais de tecnologia, soberania nacional e segurança. Washington impôs rigorosas restrições à exportação de semicondutores para Pequim, argumentando riscos de uso militar e alegando uma tentativa chinesa de dominar áreas estratégicas, como a inteligência artificial. Por sua vez, a China acusa os Estados Unidos de buscarem conter seu avanço tecnológico, respondendo com medidas próprias, como o controle de uso de terras raras, elementos vitais para a produção desses mesmos componentes eletrônicos. Essa interdependência tecnológica e a tentativa de domínio geram uma dinâmica complexa na guerra comercial China EUA.
Taiwan na Pauta das Negociações
A China tem intensificado sua retórica em relação a iniciativas pró-soberania de Taiwan, território que o regime chinês reivindica como parte integrante de seu domínio. Pequim reitera que a questão é de cunho exclusivamente doméstico e condena qualquer interferência externa. É possível que este tópico seja levado à mesa de negociação, com Xi Jinping buscando que o presidente Trump se posicione formalmente contra a independência de Taiwan, conforme informações do jornal The Wall Street Journal. Fontes indicam que, dada a prioridade de Trump em finalizar um acordo rapidamente, ele poderia estar receptivo a essa possibilidade. Se o presidente americano aceitar tais termos, as implicações incluiriam o provável fim do apoio político e militar que os EUA atualmente fornecem a Taiwan. Para mais detalhes sobre fóruns de cooperação regional, consulte a página oficial da APEC.
Tarifas Portuárias e suas Consequências Recíprocas
Em um desdobramento das disputas comerciais, tanto os Estados Unidos quanto a China implementaram taxas portuárias adicionais sobre empresas de transporte marítimo, as quais entraram em vigor para ambos os lados na terça-feira, dia 14. O movimento inicial partiu dos EUA, que anunciou planos de tributar navios conectados à China com o objetivo de reduzir o controle chinês sobre o setor marítimo global e impulsionar a construção naval americana. Em resposta, Pequim estabeleceu taxas especiais para embarcações de propriedade, operadas, construídas ou que possuam bandeira dos EUA. Apenas as embarcações fabricadas no próprio país asiático estariam isentas destas novas tarifas, intensificando a **guerra comercial China EUA** no segmento de transporte marítimo.
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Em síntese, as **negociações de tarifas entre China e EUA** permanecem um campo de batalha multifacetado, com pontos que vão muito além dos bens manufaturados. Terras raras, controle de exportação, Boeing, soja, semicondutores, Taiwan e taxas portuárias são elementos chave que indicam a amplitude das demandas e retaliações mútuas, evidenciando que qualquer resolução exigirá compromissos complexos. Para continuar acompanhando as dinâmicas e análises econômicas globais, siga nossa editoria de Economia.
Kevin Lamarque – 10.out.2019/Reuters
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