Uma modelo brasileira denunciou necrose após procedimento estético em Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina, o que culminou na interdição de uma clínica e no início de uma investigação policial contra a profissional responsável. Karim Kamada, de 51 anos, enfrenta graves consequências em sua saúde, incluindo dores intensas, febre local e celulite infecciosa, que persistem meses após as intervenções.
Os procedimentos estéticos, que envolviam o uso de uma caneta pressurizada, foram realizados em maio deste ano. Desde então, Karim tem convivido com dores contínuas e episódios de sangramento na coxa direita, o que ela relata ter paralisado sua vida por “três meses”. A Vigilância Sanitária de Jaraguá do Sul agiu após a denúncia, constatando que a profissional, Vanderléia de Fátima Andrade Santos, de 46 anos, não possuía a formação técnica e a documentação exigidas para operar. A Polícia Civil também confirmou a abertura de um inquérito policial para apurar os fatos. O g1 tentou contato com Vanderléia desde 28 de agosto, mas não obteve retorno.
Karim Kamada já precisou se submeter a duas cirurgias e tem diversas consultas médicas agendadas para a retirada de pontos e acompanhamento de sua recuperação. Ela ressalta não apenas o sofrimento físico, mas também o profundo impacto psicológico causado pela situação. A preocupação com a segurança e a qualificação em procedimentos estéticos é reforçada pelo seu caso.
Modelo denuncia necrose após estética: clínica é interditada em SC
Para sua carreira como modelo, Karim buscava métodos para reduzir celulite e gordura localizada nas regiões dos glúteos e pernas. Ela optou por um tratamento com caneta pressurizada utilizando enzimas, vendido como uma opção “segura e sem riscos”, e encontrou a profissional através de um anúncio patrocinado em uma rede social. As sessões foram iniciadas em maio, com frequência de duas vezes por semana.
A modelo relatou que, após algumas sessões, começaram a surgir sintomas como dores intensas, vermelhidão e febre localizada. Apesar de comunicar esses problemas, a profissional insistia que as reações eram “normais”. Com o tempo, as lesões evoluíram para inflamações severas e nódulos, um dos quais se transformou em abscesso necrosado – uma condição onde o pus se expande e causa a morte do tecido circundante. Atualmente, Karim segue em tratamento contínuo com antibióticos e outros medicamentos, além do acompanhamento médico.
A conduta da profissional também gerou desconfiança. Karim relatou que, embora inicialmente solícita, a esteticista parecia não saber como lidar com as complicações. Além disso, a modelo alegou que a profissional tentou desencorajá-la a procurar atendimento médico e não apresentou nota fiscal ou informações detalhadas sobre a substância aplicada durante o procedimento. Situações como essa, onde pacientes são induzidos a realizar procedimentos por não habilitados ou sem informações claras, já foram reportadas em outros contextos em Santa Catarina, envolvendo desde falhas em procedimentos a cirurgias estéticas e uso inadequado de substâncias.
Interdição da Clínica e Recomendações Profissionais
Após a denúncia de Karim, a Vigilância Sanitária de Jaraguá do Sul realizou uma fiscalização na clínica em 29 de julho. Foram constatadas irregularidades graves, como a ausência de alvará sanitário e outros documentos mandatórios para o funcionamento. Diante disso, a clínica foi interditada. Uma nova denúncia em 8 de setembro indicou que as atividades ilegais prosseguiam, levando a uma segunda intervenção da Vigilância, agora com o auxílio da Polícia Militar, e à lavratura de um auto de infração. Será instaurado um processo administrativo sanitário, que poderá resultar em multas e outras sanções conforme a legislação vigente.
Nas redes sociais, a profissional anunciava uma vasta gama de serviços, incluindo drenagem tailandesa, massagem modeladora, drenagem linfática, massagem relaxante, tratamento facial, lipocavitação e aplicação de injetáveis como colágeno, enzimas e bioestimuladores corporais.
Qualificação e Segurança em Procedimentos Estéticos
Sobre a aplicação da caneta pressurizada com enzimas, o Conselho Federal de Medicina (CFM) esclarece que a intradermoterapia, técnica de aplicação de substâncias na derme ou hipoderme com efeito medicinal, exige prescrição médica, conhecimento técnico para evitar e tratar complicações, e responsabilidade legal, civil, penal e ética. Portanto, de acordo com o CFM, apenas médicos são qualificados para realizar tais procedimentos. A prática por não habilitados constitui exercício ilegal da medicina e expõe a população a sérios riscos à saúde pública.
Mariana Sens, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia em Santa Catarina, complementou que a caneta pressurizada é um aparelho que impulsiona substâncias pela pele sob pressão, sem o uso de agulha. Contudo, esse dispositivo não permite o controle preciso da dose, profundidade ou local exato de depósito da substância – fatores essenciais em qualquer procedimento injetável. Ela alerta que o termo “enzimas” muitas vezes se refere a coquetéis para gordura localizada, como ácido deoxicólico, ou misturas manipuladas. Esses agentes devem ser aplicados exclusivamente por médicos especialistas, no plano subcutâneo, com técnicas padronizadas e produtos regularizados, em ambientes que ofereçam suporte para eventuais complicações. O uso superficial ou inadequado pode ocasionar ulcerações e necrose.
Recomendações da Anvisa para um Procedimento Estético Seguro
Para quem busca realizar procedimentos estéticos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emite recomendações cruciais para garantir a segurança:
- Local autorizado: Verifique se o estabelecimento possui licença ou alvará sanitário junto à vigilância sanitária local.
- Produto aprovado: Certifique-se de que os produtos utilizados são autorizados pela Anvisa. Peça sempre ao profissional que esclareça o nome do produto, ingredientes, data de validade, cuidados pós-aplicação e possíveis riscos. É possível verificar a aprovação no site da Anvisa.
- Profissional qualificado: Confirme a habilitação do profissional por meio de certificados, cursos técnicos, graduação ou especialização. A Anvisa ressalta que não regulamenta o exercício profissional, que é de responsabilidade dos conselhos federais e regionais (como CFM, CFO, Cofen). Esteticistas, por exemplo, não podem usar medicamentos em suas atividades, restringindo-se a cosméticos de uso externo.
A Anvisa também oferece dicas importantes para os consumidores: pesquise avaliações online e converse com outros clientes. Desconfie de:
- Reclamações frequentes.
- Promessas de tratamentos revolucionários, milagrosos, sem riscos e com resultados 100% garantidos.
- Procedimentos e produtos com preços muito abaixo do mercado.
- Dificuldade em agendar uma avaliação prévia ou em conhecer o local.
- Profissional que não esclarece dúvidas ou não transmite segurança nas respostas.
É fundamental lembrar que a Anvisa regulamenta os produtos e aspectos sanitários dos procedimentos, e não quais são ou não permitidos no Brasil.
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O caso da modelo Karim Kamada em Jaraguá do Sul serve como um alerta crucial sobre os perigos e as ilegalidades que podem envolver certos procedimentos estéticos. Ao buscar qualquer intervenção, priorizar a segurança, a qualificação dos profissionais e a legalidade dos estabelecimentos é fundamental. Para mais notícias e análises sobre questões urbanas e casos relevantes em sua cidade, continue acompanhando nossa editoria de Cidades.
Crédito da imagem: g1
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