Mobilização Indígena na COP30 em Belém Atinge Marco Histórico

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A mobilização indígena na COP30 em Belém marca um evento sem precedentes no cenário global de debates sobre mudanças climáticas. Em uma articulação histórica que contou com o apoio decisivo do governo federal, o movimento indígena brasileiro consolidou sua presença na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ocorrida na capital paraense, estabelecendo um novo padrão de representatividade.

A força-tarefa possibilitou que cerca de 400 líderes dos povos originários participassem diretamente dos espaços oficiais de negociação do evento. Simultaneamente, a cidade de Belém transformou-se em um epicentro de ativismo, com a instalação de uma verdadeira “aldeia” que congregou 3 mil indígenas. Este coletivo não se limitou a etnias brasileiras, mas incluiu representações de povos tradicionais de diversas regiões da América Latina, África e Ásia, reforçando o caráter global da iniciativa.

Mobilização Indígena na COP30 em Belém Atinge Marco Histórico

Adicionalmente aos presentes na aldeia central, estima-se que aproximadamente 2 mil indígenas se espalharam por Belém ao longo do período da conferência, interagindo com a população local e delegados internacionais. Segundo a avaliação conjunta do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), essa foi a maior concentração e participação de povos originários já registrada em toda a série de conferências climáticas das Nações Unidas.

Durante a abertura da AldeiaCOP, na noite da terça-feira, 11 de novembro de 2025, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, proferiu um discurso contundente. “Muitas pessoas já ouviram falar da Amazônia, da maior floresta tropical do mundo, mas desconhecem que protegê-la custa vidas e que ela está sendo violada, violentada, destruída pelo uso predatório da terra e da natureza”, afirmou a ministra. Ela sublinhou a mensagem central da mobilização para a COP30 e para o mundo: “não haverá solução sem a presença indígena”, ressaltando a interconexão intrínseca entre os povos indígenas e a salvaguarda ambiental.

A AldeiaCOP, um dos pilares da presença indígena na conferência, esteve aberta ao público até o dia 21 de novembro de 2025. Erguida nas instalações do Colégio Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), no bairro Terra Firme, zona leste de Belém, o local foi submetido a uma série de aprimoramentos e adaptações. O espaço contou com infraestrutura completa, incluindo alojamento adequado, um palco dedicado a apresentações culturais, uma feira de bioeconomia para a valorização de produtos locais, um espaço em formato geodésico pensado para a realização de debates e, de maneira significativa, uma casa espiritual destinada à prática de rituais de cura e medicinas ancestrais indígenas.

Kléber Karipuna, que ocupa os cargos de coordenador executivo da Apib e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), em entrevista à Agência Brasil, compartilhou a visão por trás da AldeiaCOP. Ele destacou o desejo de criar um ambiente que espelhasse a dinâmica dos territórios indígenas, descrevendo o local como “arborizado, gostoso para o acolhimento, mas também um espaço de alojamento, alimentação, dormida e realização de debates e outras atividades”, garantindo assim o bem-estar e a funcionalidade para os participantes.

Este robusto processo de mobilização social indígena para a COP30 integra uma iniciativa mais ampla denominada Círculo de Povos. Lançada pela presidência brasileira da conferência, ela foi precedida por um extenso trabalho de formação. Este treinamento envolveu 2 mil indígenas, representando um impressionante universo de 361 etnias brasileiras, capacitando-os para os desafios e as oportunidades da conferência climática. Deste contingente, aproximadamente 400 indivíduos obtiveram credenciamento para engajar-se diretamente na zona azul, que é a área restrita e estratégica de negociações da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, vinculada à ONU. Mais informações sobre as convenções e metas podem ser encontradas no site oficial da UNFCCC.

Entre as expectativas mais salientes dos povos indígenas, considerando sua inédita participação recorde nas COPs, estão diversos pontos cruciais. Eles almejam o reconhecimento explícito da proteção das florestas como uma ação de mitigação fundamental e incontornável diante da crise climática global. Adicionalmente, buscam a inclusão oficial da demarcação de seus territórios ancestrais como metas climáticas específicas. Por fim, defendem a concretização de canais de financiamento direto que viabilizem a destinação de recursos financeiros diretamente às suas comunidades, assegurando a autonomia e efetividade de suas iniciativas de preservação.

Kléber Karipuna reiterou a profundidade dessas demandas, sublinhando a ambição de obter um legado concreto da COP30. “A gente vem com a demanda de arrancar um legado dessa COP, um legado de compromisso dos países, dos líderes com a demarcação e a proteção dos territórios indígenas”, afirmou. Ele enfatizou que este compromisso deveria estender-se não apenas aos territórios indígenas, mas também aos quilombolas e a outras comunidades tradicionais, reconhecendo-as como uma política eficaz de enfrentamento à emergência climática que afeta o planeta. “Esse é o principal legado [que queremos]”, pontuou Karipuna, demonstrando a centralidade da proteção territorial em sua agenda.

Em consonância com essa visão, a ministra Sônia Guajajara reiterou o objetivo maior da representatividade indígena: “Queremos mostrar ao mundo uma forma sustentável de relacionar com a natureza, com a Mãe Terra e de proteger todo o nosso planeta”, disse. Essa declaração encapsula a filosofia intrínseca dos povos originários, baseada no respeito e na harmonia com o meio ambiente.

A presença indígena na COP30 não se restringiu aos palcos de negociação oficiais ou à AldeiaCOP, mas também floresceu em diversas programações paralelas vibrantes e significativas. Um desses espaços foi a Casa Maraká, organizada pela Mídia Indígena, que promoveu uma série rica de atividades culturais, oficinas e rodas de conversa, oferecendo uma plataforma para a expressão artística e o intercâmbio de saberes dos povos originários.

Outra iniciativa cultural de destaque foi o Festival de Cinema Ecos da Terra. O evento, que aconteceu entre os dias 13 e 19 de novembro de 2025, em Belém, em paralelo à COP30, foi sediado no Museu da Imagem e do Som. Integrante da 10ª Mostra de Cinema da Amazônia, o festival foi concebido com o propósito de transformar o ambiente em um território de escuta, diálogo profundo e celebração dos conhecimentos ancestrais. Realizado em colaboração com o Museu Nacional dos Povos Indígenas (MNPI), Mekaron Filmes, Instituto Cultural Amazônia Brasil e o Museu da Pessoa, o festival buscou conceber o cinema como uma extensão vital do território. A ideia foi criar um espaço para “aldear o futuro”, onde a arte e a palavra se conectam intrinsecamente com a fundamental causa da justiça climática, reforçando o papel das narrativas audiovisuais na promoção da consciência ambiental.

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A massiva mobilização indígena na COP30 em Belém reflete uma guinada histórica na inclusão e protagonismo dos povos originários nos debates climáticos globais. Este movimento demonstrou, por meio da presença recorde e da eloquência de suas lideranças, que a proteção da Amazônia e o futuro sustentável do planeta dependem intrinsecamente da voz, do conhecimento e da ação das comunidades que historicamente guardam esses biomas. Continue explorando as reportagens sobre políticas ambientais e desenvolvimento sustentável em nossa editoria de Análises para ficar atualizado sobre os desdobramentos desses temas cruciais: Políticas Climáticas e Povos Tradicionais.

Crédito da imagem: Bruno Peres/Agência Brasil

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