Microplásticos na Praia do Goiabal, localizada no município de Calçoene, litoral do Amapá, foram identificados por pesquisadores, evidenciando uma preocupante realidade de poluição em uma das regiões costeiras mais preservadas do Brasil. Esta descoberta faz parte de um extenso levantamento sobre a presença de microplástico na faixa litorânea brasileira, impulsionado pelo Instituto Federal Goiano, com apoio fundamental da Universidade do Estado do Amapá (Ueap).
A equipe de pesquisa percorreu um trecho de 18 quilômetros da costa amapaense, coletando um total de 40 amostras. A análise revelou que mais de 70% dos fragmentos microscópicos encontrados consistiam em isopor, material conhecido por sua fragilidade e rápida dispersão em ambientes aquáticos e pela ação dos ventos e correntes. Esses resíduos são um forte indicador do nível de degradação ambiental que afeta praias remotas.
Microplásticos na Praia do Goiabal Revelam Alta Poluição
Os estudiosos apontam que a origem do isopor pode estar ligada a uma vasta gama de produtos, como embalagens de alimentos, caixas térmicas, boias e materiais isolantes diversos. Além do isopor, também foram identificados outros tipos de plásticos, incluindo poliestireno – comumente empregado em utensílios domésticos – bem como polietileno e polipropileno, materiais prevalentes em sacolas plásticas, tampas, cordas e redes de pesca, ressaltando a complexidade da contaminação.
Fontes da Contaminação e Quantificação dos Resíduos
A poluição que atinge a Praia do Goiabal não deriva unicamente de áreas urbanas ou centros industriais próximos. Parte significativa dos resíduos é trazida por correntes marítimas e ventos, somando-se ao descarte inadequado de lixo por turistas e pescadores locais. A ausência de iniciativas de educação ambiental para visitantes também agrava o cenário, segundo os especialistas. A areia da praia, por exemplo, exibe uma concentração de 0 a 115 partículas de microplástico por quilo, com uma média preocupante de 23 partículas. Esse dado se traduz na existência de, em média, um pedaço de plástico para cada três colheres de areia, demonstrando a ubiquidade do problema. É relevante notar que, no Amapá, a Praia do Goiabal se destaca como a única área de água salgada a figurar na lista das 30 praias mais contaminadas do país, embora Pontal do Paraná (PR) concentre oito delas.
Impacto Direto na Fauna e no Ecossistema
A coordenadora da pesquisa no Amapá, professora Neuciane Dias Barbosa, da Universidade do Estado do Amapá, expressa grande preocupação com os impactos diretos dos microplásticos na fauna costeira. Conforme explica, “O impacto começa quando esse material chega nesse ambiente e ali ele vai sofrendo desgaste por diferentes fatores: temperatura, correnteza, atrito com substrato. Os animais que habitam nesse tipo de ambiente vão acabar ingerindo acidentalmente esse material. Eles se sentem atraídos, a cor desses microplásticos é como uma presa para eles”, alertou a professora, detalhando a mecânica da cadeia de contaminação. Essa gravidade da situação global da poluição plástica e seus riscos é amplamente discutida por organizações de referência como a ONU Meio Ambiente, destacando a urgência de medidas. Os efeitos já são visíveis na Praia do Goiabal, com registros de animais encalhados, incluindo um filhote de baleia cachalote em abril de 2024. Adicionalmente, cientistas observaram ninhos de aves confeccionados com pedaços de plástico, uma prova irrefutável da alteração comportamental e ambiental causada pelos microplásticos.
Imagem: microplástico na costa brasileira via g1.globo.com
Pesquisa Abrangente: O Projeto MicroMar no Brasil
A pesquisa do Amapá integra um projeto maior, denominado MicroMar, o maior levantamento padronizado já realizado sobre microplásticos no Brasil e em países do Sul Global. Este estudo de grande escala analisou 1.024 praias brasileiras, revelando que impressionantes 69% delas contêm microplásticos. Esses resíduos, com dimensões menores que cinco milímetros – aproximadamente o tamanho de um grão de arroz –, representam uma ameaça significativa para a biodiversidade marinha, a saúde humana e a sustentabilidade econômica das comunidades costeiras.
O coordenador-geral do projeto MicroMar e professor do Departamento de Ciências Biológicas do IF Goiano, Guilherme Malafaia, sublinha a relevância dos resultados. “O MicroMar representa um marco porque, pela primeira vez, conseguimos ter uma visão abrangente e sistemática da contaminação por microplásticos ao longo das praias brasileiras. Isso gera um banco de dados inédito, que pode ser usado de maneiras muito concretas”, afirmou Malafaia, destacando o potencial dos dados para fundamentar políticas públicas eficazes de combate à poluição plástica. O projeto envolveu a colaboração de 211 municípios em 17 estados costeiros do Brasil e culminou na coleta de 4.134 amostras de areia, realizada entre 2022 e 2023.
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Em suma, a detecção de microplásticos na Praia do Goiabal é um alerta contundente sobre a crescente crise global da poluição plástica, mesmo em regiões aparentemente intocadas. Os dados coletados pelo Projeto MicroMar fornecem um panorama inédito da contaminação em âmbito nacional, oferecendo uma base essencial para a implementação de medidas urgentes. Para mais informações sobre as condições ambientais em áreas urbanas e costeiras do Brasil, continue acompanhando a editoria de Cidades para ficar por dentro dos principais desafios e soluções que moldam nosso território.
Crédito da imagem: Projeto MicroMar/Arquivo pessoal
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