Os casos de intoxicação por metanol têm alterado drasticamente os hábitos de consumo nos bares da cidade de São Paulo. A percepção de risco fez com que muitos clientes deixassem de lado os destilados e drinques, buscando refúgio em opções consideradas mais seguras, como cerveja e vinho, que até o momento não apresentaram registros de contaminação.
A situação foi notória em bairros boêmios como Vila Madalena, Barra Funda e Santa Cecília, especialmente em uma quinta-feira, dia tradicionalmente movimentado. Segundo relatos de proprietários e funcionários, o fluxo de frequentadores registrou queda. Além de fatores como o clima mais frio e o início do mês, a principal preocupação é a propagação das notícias sobre as intoxicações, afastando o público dos estabelecimentos noturnos.
Metanol em Bares de SP: Clientes Priorizam Cerveja e Vinho
Engenheiros como Bernardo Vale, 35 anos, exemplificam essa resiliência. Enquanto desfrutava de uma cerveja com colegas em um happy hour na Vila Madalena em 2 de outubro, ele comentou: “Não vou deixar de viver por causa disso”. Apesar da preocupação generalizada, o sentimento é de que é preciso um controle rigoroso por parte do governo para coibir práticas ilícitas e punir os responsáveis. “O que a gente precisa é de um bom governo e de uma boa fiscalização para punir os responsáveis e evitar que mais intoxicações aconteçam”, pontuou Bernardo.
A dimensão da crise de saúde pública é grave. O Ministério da Saúde, em levantamento divulgado na mesma quinta-feira, confirmou uma morte por intoxicação por metanol e outras sete sob investigação — sendo cinco em São Paulo e duas em Pernambuco. A pasta informou ter recebido um total de 59 notificações de possível contaminação por metanol após consumo de bebidas alcoólicas, abrangendo São Paulo, Pernambuco e Distrito Federal. Destas, 11 foram confirmadas e 48 ainda estão em análise, incluindo o caso fatal. Historicamente, o Brasil registra cerca de 20 casos de intoxicação por metanol anualmente, com a maioria associada a tentativas de autoagressão ou a pessoas em situação de vulnerabilidade, que ingerem combustível pelo teor alcoólico, cenário que diverge significativamente do atual.
A coordenadora de controle de doenças da Secretaria de Saúde do Estado, Regiane de Paula, salientou que as contaminações detectadas ocorreram predominantemente em destilados como gin, aguardente e whisky, enquanto cervejas e vinhos permanecem sem indícios de risco. Ela reiterou que não há proibição na venda de destilados, mas reforçou a necessidade de que os estabelecimentos garantam a procedência das bebidas, efetuando compras com nota fiscal e desconfiando de preços excessivamente baixos. É fundamental buscar informação de fontes confiáveis, como as orientações disponíveis em páginas do Ministério da Saúde sobre intoxicação por substâncias químicas: saiba mais sobre intoxicações.
Consumidores como a professora Emanuelle Braga, 28, adaptaram-se rapidamente. “Quando parei para entender, eu vi que o problema estava apenas entre os destilados. Como não sou do drinque, e só tomo vinho, não foi minha preocupação”, disse Emanuelle, que optou por seguir seu consumo de vinho normalmente. Seu amigo, o psicólogo Gabriel Miranda, 25, inicialmente sentiu preocupação e até pensou em parar de beber, mas depois decidiu apenas evitar drinques. A opinião é compartilhada por Catarina Ortiz, 26, que também pensou em parar, mas ao constatar que o risco estava nos destilados específicos, preferiu alertar os amigos para consumir somente vinho e cerveja.
Em um bar especializado em vinhos na Rua 13 de Maio, bairro Bela Vista, na mesma quinta-feira, Emanuelle, Gabriel e Catarina desfrutavam de suas taças. Emanuelle refletiu sobre o cenário: “Está difícil se entorpecer no Brasil. Se eu tiver que ficar completamente sem beber, vai ser quase como um isolamento.” Outra frequentadora, a professora Marina Rocha, 27, demonstrando mais serenidade, afirmou no Largo Santa Cecília: “Não estou a fim de beber nada além de cerveja. Mas se as cervejas também estiverem contaminadas, não tem problemas ficar sem beber.”

Imagem: metanol via www1.folha.uol.com.br
Apesar do empenho da Secretaria de Saúde na conscientização, diversos proprietários de bares e restaurantes ouvidos pela reportagem indicaram não ter recebido qualquer comunicado oficial até o momento. Tiago Santos, proprietário do Cabaret Santa Cecília, apesar da ausência de orientações específicas, tem se informado por jornais e redes sociais. Sua preocupação é com o impacto nas vendas de drinques autorais, que sustentam a programação artística e os funcionários do local, que não cobra entrada.
Caique Lima, responsável pelos drinques em um bar na região de Santa Cecília, compartilha da inquietação. Relatou que, embora o estabelecimento estivesse cheio em uma quarta-feira anterior, os clientes não pediram drinques. “Acredito que o impacto será muito grande, porque, de qualquer forma, ninguém quer colocar a vida em risco”, avalia Caique, que planeja um vídeo para tranquilizar a clientela. Para restaurar a confiança dos consumidores e elevar a segurança, ele sugere a criação de um selo de certificação pela Vigilância Sanitária para bares que comprovem rigor no controle e procedência dos produtos. “Mesmo que seja uma certificação simples, acho importante ter um selo visível, como ‘este bar é fiscalizado’, para que todos se sintam mais seguros.”
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Em suma, os casos de intoxicação por metanol desencadearam uma mudança notável nos hábitos dos consumidores paulistanos e uma forte preocupação entre os proprietários de bares. Enquanto muitos clientes buscam segurança em vinhos e cervejas, os estabelecimentos se veem na busca por medidas de tranquilidade e clamam por mais fiscalização e certificação para garantir a procedência dos produtos e manter o fluxo de clientes. Para mais análises sobre os impactos sociais e econômicos em nossas cidades, continue acompanhando nossa editoria de Cidades.
Crédito da imagem: Rafaela Araújo/Folhapress
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