Meta Climática de 1,5°C Não Será Atingida, Alerta ONU

Últimas Notícias

A meta climática de 1,5°C para conter o aquecimento global, um dos pilares fundamentais do Acordo de Paris, não será cumprida. A afirmação foi feita pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, na última quarta-feira (22), poucos dias antes da realização da COP30 em Belém do Pará, no próximo mês de novembro. A declaração reacende o debate sobre a ineficácia das ações globais frente às crescentes alterações climáticas.

De Genebra, durante um encontro na Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência especializada da ONU, Guterres foi enfático ao declarar: “Uma coisa já está clara: não conseguiremos conter o aquecimento global abaixo de 1,5°C nos próximos anos.” Ele reiterou que a superação deste limiar climático crítico é agora “inevitável”, ressaltando a incapacidade coletiva de reverter a atual trajetória de emissões de gases de efeito estufa que impulsionam o aquecimento planetário.

Meta Climática de 1,5°C Não Será Atingida, Alerta ONU

A meta mais ambiciosa delineada pelo Acordo de Paris, em 2015, era de conter o aquecimento global a no máximo 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (referentes ao período entre 1850 e 1900). Entretanto, esta ambição é desafiada por observações recentes: o observatório europeu Copernicus já registra uma temperatura média global 1,4°C mais alta que na era pré-industrial. A maioria dos climatologistas projeta que este limite será, de fato, superado antes do final da atual década, um reflexo do alto consumo mundial de petróleo, gás e carvão. Para aprofundar-se nos termos deste tratado fundamental, você pode consultar o texto oficial do Acordo de Paris diretamente no portal da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

A comunidade científica reforça a urgência de mitigar o aquecimento global ao máximo. Cada fração de grau adicional nas temperaturas mundiais carrega consigo o agravamento de riscos substanciais, como a ocorrência mais frequente e intensa de ondas de calor extremas, além da devastação de ecossistemas marinhos cruciais para a biodiversidade do planeta.

Dirigindo-se à OMM com um alerta severo de que as mudanças estão levando “nosso planeta à beira do abismo”, Guterres apelou para que governos apresentem “planos nacionais de ação climática novos e ousados” antes da próxima COP. Ele enfatizou que a “ciência nos indica a necessidade de muito mais ambição” e instou os países participantes da COP30 a firmarem um “plano confiável” para mobilizar 1,3 trilhão de dólares (aproximadamente 7 trilhões de reais na cotação atual) anualmente em financiamento climático para nações em desenvolvimento até 2035. A COP30, programada para Belém, Pará, de 10 a 21 de novembro, tem a monumental tarefa de unir o mundo na luta contra as alterações climáticas, em um cenário complexo após a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris em período anterior.

A escolha do limite de 1,5°C de aquecimento global, em relação aos níveis pré-industriais, emergiu em 2015, com o Acordo de Paris, como um marco de consenso tanto científico quanto diplomático. Esta delimitação baseou-se em extensos estudos que apontaram tal valor como uma margem de segurança para prevenir os desfechos mais catastróficos das mudanças climáticas, incluindo secas prolongadas, colapso ecossistêmico, elevação severa do nível do mar e impactos significativos na saúde humana. A fundamentação por trás desse número era inequívoca: quanto menor a elevação térmica, menores seriam os perigos enfrentados globalmente.

Relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reiteraram que, mesmo em um cenário de aquecimento de 1,5°C, perdas consideráveis já seriam registradas, mas os danos se agravariam dramaticamente com patamares de 2°C ou superiores. Contudo, dados recentes mostram um avanço alarmante: em 2024, o planeta atingiu a marca de 1,6°C de aquecimento. O questionamento entre os cientistas agora é determinar se este pico representa um novo padrão climático persistente ou uma elevação pontual dentro de um ano atípico. Mais grave ainda, estudos divulgados nas renomadas publicações ‘Nature Climate Change’ e ‘Nature Communications’ alertam que até mesmo a meta de 1,5°C pode ser insuficiente para frear o derretimento de massas glaciais cruciais na Groenlândia e na Antártida, que juntas contêm gelo capaz de elevar o nível do mar em até 65 metros nos próximos séculos.

Meta Climática de 1,5°C Não Será Atingida, Alerta ONU - Imagem do artigo original

Imagem: que limitar o aquecimento a via g1.globo.com

Além disso, um relatório específico da ONU revelou uma projeção desanimadora: a probabilidade de limitar o aquecimento global à meta climática de 1,5°C é de meros 14%, mesmo considerando os cenários mais otimistas. O cenário atual demonstra que o mundo continua a emitir gases de efeito estufa em volumes superiores aos limites sustentáveis, e os compromissos voluntários assumidos pelas nações até agora são insuficientes para reverter a tendência. Se esse padrão se mantiver, o aquecimento médio do planeta poderá situar-se entre 2,5°C e 2,9°C até o final do século.

A principal consequência desse desvio da meta climática de 1,5°C é a acentuada intensificação de fenômenos climáticos extremos. Especialistas preveem que ondas de calor recordes, inundações devastadoras, secas prolongadas e colapsos na produção alimentar se tornarão progressivamente mais frequentes e severos. As áreas costeiras, em particular, enfrentam riscos exacerbados, com estimativas de que mais de 230 milhões de indivíduos podem ser diretamente afetados pela inexorável elevação do nível do mar nas próximas décadas.

Confira também: crédito imobiliário

Diante do sombrio panorama apresentado por António Guterres e as projeções científicas, fica claro que a luta pela sustentabilidade e pela meta climática de 1,5°C exige esforços renovados e coordenados em escala global. As decisões a serem tomadas na COP30 e nos anos seguintes serão cruciais para determinar o futuro do nosso planeta. Continue acompanhando as novidades e análises aprofundadas sobre política ambiental e questões climáticas em nossa editoria. Para explorar mais conteúdos sobre o cenário global e ações sustentáveis, visite a seção de Política.

Crédito da imagem: MICHAEL TEWELDE / AFP

Deixe um comentário