“Mauricio de Sousa: O Filme” chega às telas como uma homenagem multifacetada ao lendário quadrinista brasileiro, desdobrando sua trajetória desde a infância até o marco inaugural do gibi da icônica personagem Mônica. A produção de 2025, uma empreitada genuinamente brasileira, com direção assinada por Pedro Vasconcelos e Rafael Salgado, apresenta uma narrativa com momentos distintos de acertos e falhas, mas sua intenção principal de celebrar o pai da “Turma da Mônica” permanece inequívoca.
A película adota uma abordagem biográfica direta, priorizando a saga pessoal e familiar de Mauricio de Sousa. Em vez de explorar o vasto império construído ao longo dos anos em quadrinhos e animações, o roteiro foca nas origens de sua criatividade e nas inspirações cotidianas que moldaram seus personagens, delineando um panorama que se estende por diversos períodos da vida do artista. No elenco, Mauro Sousa, Elizabeth Savalla e Thati Lopes compõem a equipe de atores.
“Mauricio de Sousa: O Filme”: Uma Análise Completa e Digna
Um dos elementos mais notáveis da obra é a decisão estratégica de escalar Mauro Sousa, filho do próprio Mauricio, para interpretá-lo na telona. Embora sua atuação se apoie majoritariamente na semelhança fisionômica com o pai e uma evidente dedicação ao papel, a escolha se justifica plenamente, dada a íntima interconexão entre a vida pessoal de Mauricio e sua arte. Como é amplamente sabido, figuras como Mônica surgiram da observação direta de seus filhos e suas interações.
O enredo aprofunda essa dinâmica, revelando como muitos outros personagens adorados, incluindo Magali, Cascão e uma vasta gama de amigos do Bairro do Limoeiro, também foram inspirados por membros da família Sousa e seus amiguinhos. Essa ligação intrínseca entre o universo doméstico e o imaginário ficcional do criador confere ao filme uma camada de autenticidade e carinho, convidando o espectador a um mergulho nas raízes de um dos maiores fenômenos culturais do Brasil.
No segmento inicial, que retrata um Mauricio ainda menino, percebe-se a influência significativa da mãe e da avó na formação de sua imaginação lúdica. Essas cenas iniciais sugerem uma produção com inclinações puramente infantis, repletas de situações cômicas e ingênuas, como as passagens na barbearia do pai ou no ambiente escolar, típicas do humor interiorano de outrora. No entanto, à medida que Mauricio cresce e se defronta com a árdua tarefa de construir uma carreira sólida no mundo do desenho, o tom do filme experimenta uma transição, nem sempre linear, por vezes mantendo o mesmo humor “caipira” já familiar.
Nesse ponto reside o desafio mais complexo de “Mauricio de Sousa: O Filme”: a definição de seu público-alvo. A ambiguidade na linguagem, que flutua entre a leveza infantil e as nuances das batalhas adultas de Mauricio, cria uma certa irregularidade tonal. A intenção dos diretores, Pedro Vasconcelos e Rafael Salgado, pode ter sido atrair tanto crianças quanto adultos, mas conciliar essas expectativas em uma única obra exige uma delicadeza artística considerável. O filme solicita, portanto, uma aceitação de seu lirismo descomplicado para acompanhar a jornada do Mauricio mais maduro.
Um recurso narrativo que se repete, e por vezes se torna um tanto previsível, é a demonstração do processo criativo de Mauricio: a cada obstáculo enfrentado, ele parece gerar um novo personagem célebre. Contudo, essa reiteração serve para reafirmar a habilidade ímpar do artista em conceber seus personagens de maneira aparentemente espontânea. Essa aptidão inegável de Mauricio para o design de figuras atemporais, que mantiveram sua essência visual desde os primeiros esboços, apenas recebendo adaptações para torná-los mais “fofinhos” ou evoluindo para a versão adolescente da Turma da Mônica Jovem em momentos posteriores, é inquestionável. Para mais detalhes sobre a vida do criador, pode-se consultar a biografia em Mauricio de Sousa na Wikipédia.
Além de celebrar a galeria de figuras carismáticas, o filme oferece uma visão enriquecedora da história da produção de quadrinhos no Brasil. A narrativa convida o público a uma verdadeira “turnê” por momentos cruciais do cenário das HQs nacionais, incluindo a reprodução de encontros com personalidades influentes. São destacados ícones incontornáveis como os lendários desenhistas e editores Jayme Cortez e Ziraldo, além de Octávio Frias de Oliveira, o então proprietário da Folha de S. Paulo. Com este último, Mauricio se associou para dar vida ao caderno infantil “Folhinha”, onde brilharia o Horácio, o simpático filhote de tiranossauro vegetariano que, no filme, Mauricio revela ser seu próprio alter-ego nos quadrinhos.
A representação do artista transcende a mera criação e abrange seu lado empreendedor e visionário. O filme destaca sua forte bandeira na criação de um sindicato para a categoria dos quadrinistas, evidenciando seu compromisso com a valorização profissional do setor. Além disso, é mostrada sua sagacidade comercial ao utilizar o recurso dos clichês gráficos. Os clichês, matrizes metálicas empregadas na reprodução de imagens, logotipos ou textos na impressão (uma técnica rudimentar comparável a um carimbo, mas muito mais elaborada para a época), foram um investimento estratégico de Mauricio. Ele soube capitalizar essa tecnologia para difundir suas tiras de humor por uma miríade de jornais e publicações em diversas cidades brasileiras, potencializando significativamente seus rendimentos e solidificando sua presença nacional.
Ao mesclar a magia de crianças travessas inventadas com um humor singelo e um pano de fundo que percorre um pouco da história cultural do país, “Mauricio de Sousa: O Filme” cumpre sua missão como um tributo respeitável e afetuoso a seu protagonista. Trata-se de um projeto cativante, que se esforça para alcançar um público heterogêneo, evidenciado pela união de diferentes gerações no elenco, desde a aclamada Elizabeth Savalla até a dinâmica jovem Thati Lopes, oriunda do renomado Porta dos Fundos. No balanço final, o filme parece aproximar-se da meta ambiciosa de conquistar plateias de todas as idades, reforçando o legado perene de Mauricio de Sousa.
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Em suma, “Mauricio de Sousa: O Filme” é uma jornada envolvente pelas origens e inspirações de um dos maiores criadores do Brasil. Embora enfrente o desafio de balancear sua audiência, a autenticidade e o carinho com que a vida do quadrinista é contada fazem desta produção um digno legado. Para mais análises e críticas sobre o universo das celebridades e do cinema nacional, continue acompanhando a nossa editoria de Celebridade no Hora de Começar.
Crédito da imagem: Vantoen Pereira Jr./Divulgação



