Maternidade UFRJ: Referência no Luto Gestacional e Neonatal em todo o Brasil. Uma instituição pública localizada na zona sul do Rio de Janeiro se consolidou como um modelo no suporte a famílias que enfrentam a dolorosa perda de um bebê durante a gestação, no nascimento ou nos primeiros dias de vida. Em outubro de 2025, um mês que marca o debate nacional sobre o luto gestacional, neonatal e infantil pela primeira vez, a Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro abriu suas portas para demonstrar suas práticas de acolhimento e a evolução de seus métodos, que vêm sendo aprimorados há cerca de 15 anos, superando diversos desafios estruturais e emocionais.
Desde agosto de 2025, o Brasil observa a implementação de uma nova política de humanização para o luto materno e parental. Esta medida visa garantir um atendimento respeitoso e sensível, essencial para auxiliar na recuperação daqueles que vivenciam esse tipo de trauma. A legislação estabelece uma série de diretrizes para maternidades, sejam elas públicas ou privadas, contemplando a possibilidade de as famílias desfrutarem de um último adeus à criança, registrar fotos ou obter lembranças simbólicas como as digitais do pezinho do bebê, promovendo assim uma despedida digna. Adicionalmente, a política permite o registro do nome do recém-nascido na certidão de óbito e oferece às famílias a escolha entre o enterro ou a cremação, caso desejem.
Maternidade UFRJ: Referência no Luto Gestacional e Neonatal
Acolhimento Humanizado na Maternidade da UFRJ
Na Maternidade Escola da UFRJ, o momento do adeus acontece em um ambiente especialmente preparado, conhecido como “morge”. Diferentemente de muitas outras unidades de saúde onde esse espaço permanece fechado para familiares, na UFRJ, ele é aberto para momentos que, embora singelos, são carregados de afeto e significado, conforme relatou a psicóloga Paula Zanuto. Essa abertura representa um passo crucial para o reconhecimento e processamento do luto.
Um episódio recente, que tocou profundamente a equipe da unidade, envolveu a despedida de um pai e uma avó a um bebê que nasceu a termo, por volta das 38 semanas, mas viveu apenas por um dia. Segundo Zanuto, “o pai e a avó vieram muito cuidadosos, muito amorosos com o corpinho do bebê, o pai colocou a roupinha, vestiu a luvinha, a meinha, muito cuidadoso, a avó falando ‘cuidado para ele não sentir frio’ , por mais que o bebê estivesse morto.” A avó ninou o bebê e o envolveu em uma manta, enquanto o pai colocou um pequeno “coração de pano” — uma das lembranças doadas às famílias — no braço do neném, próximo ao seu coração verdadeiro. “Foi uma cena linda, todo mundo segurou o choro, eles enfrentaram uma perda difícil juntos”, descreveu Paula Zanuto, sublinhando a vital importância do “morge” para esses rituais de despedida.
A maternidade reserva este local com adesivos nas paredes, mantas adornadas com figuras infantis, cueiros e roupinhas de recém-nascido, disponíveis para famílias que não possuam seus próprios itens. Outra distinção relevante são os “coraçõezinhos de pano”, confeccionados por voluntários e oferecidos aos pais como um gesto de carinho e lembrança. Daniela Porto Faus, chefe da Unidade de Atenção Psicossocial e psicóloga clínica da unidade, explicou o protocolo: “A gente oferece um par. Uma unidade fica com a mãe ou o pai e a outra embalamos junto com o bebê.”
Protocolos de Despedida e Suporte Emocional
A atenção dedicada a esses momentos de luto vai além do espaço físico. “A gente favorece muito esse momento de despedida, seja no centro obstétrico ou na UTI. Respeitamos o tempo da família, temos muito cuidado”, ressaltou Daniela Porto Faus. Ela exemplificou com outro protocolo extremamente sensível: quando um bebê na UTI está em estado gravíssimo e o desfecho negativo é iminente, a equipe oferece que o bebê seja levado ao colo da mãe, permitindo que o óbito ocorra em seus braços, um gesto de conforto indescritível.
Andrea Marinho Barbosa, chefe da Divisão de Gestão do Cuidado e responsável pela implementação dessas políticas na maternidade, expressou a intenção de ampliar o espaço do “morge”, reconhecendo que o ambiente atual é um pouco limitado para acolher confortavelmente todas as famílias em seus momentos de despedida. Essa expansão é vista como crucial para fortalecer ainda mais essa prática de suporte ao luto. “Nosso grande problema hoje é a estrutura física. O local do morge, onde ficam os corpos, é um pouco pequeno para receber a família toda na despedida do neném”, pontuou Barbosa.
Além do “morge”, as mães internadas nas enfermarias ou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) dispõem do tempo necessário para suas despedidas. Na UTI, a equipe organiza uma barreira para assegurar a privacidade dessas mulheres e de suas famílias durante um momento tão íntimo e particular. Andrea Marinho Barbosa confirmou que essas ações geram imensa gratidão e a sensação de serem acolhidas, estendendo-se também à possibilidade de incluir o nome do bebê na certidão de óbito. “Algumas [mães] já pediam antes, mas como não tinha nada formalizado, a gente não colocava, botava natimorto, agora, a grande maioria pede para colocar o nome escolhido pelos pais”, informou.

Imagem: Tomaz Silva via agenciabrasil.ebc.com.br
Ações Pioneiras e os Desafios do Suporte
A Maternidade UFRJ já pratica medidas de acolhimento e respeito a famílias enlutadas há pelo menos 15 anos. Uma das primeiras iniciativas foi a criação da Enfermaria da Finitude, um espaço exclusivo para mães que sofreram perdas gestacionais ou neonatais. Essa separação foi essencial, pois a convivência dessas mulheres com outras que estavam amamentando ou com seus bebês nascidos vivos demonstrava causar sofrimento psíquico adicional às puérperas. Muitas outras unidades de saúde enfrentam a superlotação e a falta de espaço físico para replicar essa medida, mas a nova política a estabelece como obrigatória. A Lei 15.139 ainda garante a investigação da causa do óbito e o acompanhamento específico em futuras gestações para as mulheres que sofreram perdas.
O apoio psicológico pós-alta é outro pilar determinado pela lei. A maternidade oferece acompanhamento tanto presencial quanto por telefone, embora reconheça as dificuldades que muitas mães têm para retornar à unidade e as limitações das equipes para prover o atendimento em domicílio, um aspecto que representa um gargalo da política. “A gente ainda não tem condições de fazer esse atendimento [em casa], oferecemos somente na nossa unidade e à distância, mas queremos fazer parcerias com outras unidades, para que as pessoas não tenham que se deslocar para cá”, explicou Andrea Marinho Barbosa. A nova legislação também abre portas para que as unidades de saúde firmem parcerias com organizações do terceiro setor, que podem oferecer alternativas de suporte. É fundamental destacar a importância do acesso à saúde materno-infantil de qualidade, que abrange desde o pré-natal até o suporte psicológico.
Musicoterapia e Mudança de Mentalidade
Entre as diretrizes exemplares da política de humanização do luto na Maternidade Escola da UFRJ, a musicoterapia destaca-se, beneficiando tanto as pacientes quanto as equipes de saúde. Essa prática é fundamental para “eles tiraram um pouco desse peso”, conforme mencionado por Andrea, e conta com o suporte de psicólogas e assistentes sociais do próprio corpo clínico. Além disso, a legislação incentiva a inclusão do debate sobre o luto materno nos currículos de formação de profissionais de saúde, promovendo a troca de experiências entre técnicos, médicos e enfermeiros, e reforçando a necessidade de uma abordagem mais empática.
A diretora da unidade, Penélope Saldanha, enfatiza que a efetivação da política, mesmo respaldada por lei, exige uma mudança profunda de mentalidade. Ela compara o desafio à implementação da garantia da presença de um acompanhante no parto, algo que inicialmente enfrentou ceticismo. “Inicialmente, todo mundo achou que não ia ser possível, que as maternidades não iam comportar, que não ia caber no centro cirúrgico. Aqui, pedimos para que as acompanhantes priorizassem alguém do sexo feminino, para assegurar a privacidade das parturientes. Demorou mais um tempo para reconhecermos que as mulheres queriam a participação do seu companheiro no parto e, então, a nós coube nos adaptar e assegurar esse direito.” A Maternidade UFRJ não só é uma referência nesse tipo de acolhimento como também atua como centro para seis unidades básicas de saúde no Rio de Janeiro, realiza pré-natal de gestações de alto risco e recebe, de todo o estado, gestantes com diagnóstico de doença trofoblástica gestacional, uma condição que pode evoluir para câncer de placenta, além de atender partos de emergência.
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Em suma, a Maternidade Escola da UFRJ demonstra um compromisso notável com a humanização do cuidado e o apoio integral às famílias em momentos de profunda fragilidade, solidificando-se como um pilar essencial na rede de saúde carioca e nacional. Compreender o funcionamento e a importância dessas instituições na cidade do Rio de Janeiro é fundamental. Continue acompanhando nossas publicações para mais informações sobre as inovações e serviços oferecidos em diversas Cidades brasileiras.
Crédito da imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil


