Nesta sexta-feira (10), a destacada líder opositora María Corina Machado Nobel da Paz foi formalmente reconhecida com o prestigioso prêmio, em um anúncio feito pelo Comitê Norueguês do Nobel. A venezuelana foi escolhida em virtude de sua atuação incansável em prol da democracia na Venezuela, conforme divulgado em São Paulo.
A condecoração referente ao ano de 2025 enaltece o “trabalho persistente de Machado na promoção dos direitos democráticos para os cidadãos da Venezuela, bem como seu esforço dedicado para viabilizar uma transição justa e pacífica de um regime ditatorial para uma democracia plena”, conforme declaração oficial que acompanhou a outorga da láurea internacional. Essa decisão marca um ponto significativo no cenário político global, evidenciando o impacto de sua luta.
María Corina Machado Vence Nobel da Paz 2025
A revelação da laureada com o prestigiado prêmio gerou uma notável frustração nos círculos políticos internacionais, especialmente para o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para Trump, a conquista do Nobel havia se transformado em um objetivo pessoal, sendo um tema recorrente e explícito em seus discursos públicos, onde ele promovia abertamente sua própria candidatura à honraria. Esta ambição sublinha o peso simbólico e o desejo de reconhecimento que permeiam a concessão da prestigiada honraria global.
Durante suas manifestações, Donald Trump frequentemente argumentava merecer o Nobel da Paz, citando a alegação de ter finalizado “seis ou sete” conflitos bélicos pelo mundo após sua gestão na Casa Branca. Contudo, apesar de sua participação em negociações sobre diversos embates globais, é importante notar que nem todos os confrontos listados por ele tiveram seu fim diretamente atribuído ou determinado por sua intervenção diplomática, o que levantou questões sobre a real eficácia de suas ações na arena da pacificação.
A intensificação da campanha pessoal de Donald Trump pelo reconhecimento com o prêmio Nobel ocorreu na quarta-feira (8). Ele utilizou suas plataformas de mídia social para anunciar um suposto acordo preliminar de paz entre Israel e Hamas para a região de Gaza. Segundo o então presidente, o plano incluiria a liberação de reféns mantidos pelo grupo terrorista e a retirada de forças militares israelenses de Tel Aviv. Um dia depois, na quinta-feira (9), o governo de Israel ratificou um acordo com o intuito de pôr fim ao conflito, um movimento que ele rapidamente utilizou para fortalecer sua própria reivindicação pela honraria.
Para a edição deste ano, o Comitê do Nobel registrou um total de 338 indicações ao prêmio da paz. Dentre os nomes e organizações propostos, 244 eram indivíduos e 94 representavam distintas organizações. Esse número é inferior ao registrado no ano anterior, quando foram contabilizadas 286 indicações, e também abaixo do recorde histórico de 376 candidaturas observadas em 2016. Esta flutuação nos dados revela o dinamismo da seleção anual e o crescente interesse global nas contribuições à paz mundial.
Processo e História do Prêmio Nobel
Curiosidades adicionais a respeito da lista completa de indicados ao Nobel da Paz, incluindo a identidade dos candidatos e seus respectivos proponentes (que englobam líderes de países e antigos laureados), permanecerão sob sigilo por um período de cinco décadas. Esta política de confidencialidade visa preservar a integridade do processo de seleção e evitar pressões externas indevidas durante as análises futuras dos indicados. Para entender a trajetória e as controvérsias do prêmio é crucial para avaliar sua relevância histórica no contexto internacional.
O prêmio Nobel foi estabelecido em 1901, e em sua fase inicial, contava com cinco categorias fundamentais: paz, literatura, química, física e medicina. Décadas mais tarde, em 1969, uma sexta categoria dedicada à economia foi adicionada, expandindo o escopo das áreas de reconhecimento. A evolução destas categorias demonstra a adaptação contínua do prêmio às necessidades e aos novos desenvolvimentos sociais, científicos e políticos que moldam o cenário global ao longo do tempo.
Até meados do século XX, os indivíduos agraciados com o Nobel na categoria de paz eram tipicamente figuras “políticas ativas que exerciam seus esforços para fomentar a paz global, a estabilidade e a justiça através de vias diplomáticas e acordos internacionais”. Contudo, após o término da Segunda Guerra Mundial, o enfoque do prêmio se ampliou significativamente, passando a reconhecer iniciativas ligadas ao desarmamento, à consolidação da democracia e à defesa dos direitos humanos. Na virada para o século XXI, o espectro do Nobel da Paz foi expandido ainda mais para contemplar ações que visam mitigar a emergência climática de origem antrópica, refletindo as preocupações mais contemporâneas.
Controvérsias e Nomes Marcantes
Ao longo dos últimos anos, o prestigiado Nobel da Paz tem sido alvo de diversas críticas relacionadas às suas escolhas e decisões. Um exemplo notório ocorreu em 2017, quando a ativista pró-democracia Aung San Suu Kyi, que havia sido laureada em 1991, foi severamente criticada pelo seu silêncio frente à grave crise humanitária que afetava os muçulmanos da etnia rohingya em Mianmar. Cerca de um milhão desses indivíduos se viram obrigados a fugir do país, tornando-se alvos de perseguição por parte do Exército, e muitos deles residem atualmente no maior campo de refugiados do mundo, localizado em Cox’s Bazar, Bangladesh. O impacto dessa crise ainda ressoa internacionalmente.
Outro caso de questionamento surgiu em 2019, quando o então primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, recebeu o prêmio por ter estabelecido um acordo de paz com a Eritreia. No entanto, apenas um ano após sua condecoração, ele liderou um novo confronto militar no norte do país, gerando perplexidade e reabrindo debates na comunidade internacional sobre a coerência das premiações. Mais recentemente, o bispo Carlos Filipe Ximenes Belo, agraciado com o prêmio em 1996 por sua atuação em Timor-Leste, enfrentou acusações graves de abuso sexual de adolescentes, manchando a reputação de sua premiação e acendendo discussões sobre a avaliação contínua dos laureados ao longo do tempo.
É sempre relevante relembrar os indivíduos e entidades que já foram homenageados com o Nobel da Paz. Confira alguns dos nomes recentes, com as justificativas oficiais do comitê:
- 2024: Nihon Hidankyo, organização japonesa dedicada à abolição de armas nucleares, composta por sobreviventes das explosões de Hiroshima e Nagasaki, por seus esforços incansáveis em favor de um mundo livre de armamentos atômicos.
- 2023: Narges Mohammadi, ativista iraniana dos direitos humanos, com 51 anos, reconhecida por sua defesa corajosa da luta das mulheres pelo direito de elas terem vidas plenas e dignas, livres de opressão e discriminação.
- 2022: Ales Bialiatski (ativista bielorrusso), o Memorial (grupo de direitos humanos russo) e o Centro para Liberdades Civis (Ucrânia), pelo destaque à importância crucial da sociedade civil na construção e manutenção da paz e da democracia.
- 2021: Maria Ressa (jornalista filipina) e Dmitri Muratov (jornalista russo), pela defesa enfática da liberdade de expressão, pilar essencial para a garantia da democracia e a promoção da paz duradoura em contextos desafiadores.
- 2020: Programa Mundial de Alimentos (PMA), pelo papel fundamental e força motriz nos esforços para prevenir a instrumentalização da fome como arma em conflitos e guerras, atuando em cenários de grande vulnerabilidade.
- 2019: Abiy Ahmed, então primeiro-ministro da Etiópia, por seu acordo de paz que pôs fim a duas décadas de hostilidades com a vizinha Eritreia, trazendo esperança para a estabilidade regional.
- 2018: Denis Mukwege (médico congolês) e Nadia Murad (ativista iraquiana), por sua atuação em denunciar a violência sexual como tática de guerra e auxiliar suas vítimas, dando voz a quem sofreu brutalidades inomináveis.
- 2017: Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares (Ican), pelo engajamento global em alertar sobre os severos riscos das armas nucleares e advogar por sua proibição e eliminação total.
- 2016: Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia, reconhecido por sua liderança e habilidade na negociação do histórico acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
- 2015: Quarteto para o Diálogo Nacional da Tunísia, pela contribuição decisiva na construção de uma sociedade plural e democrática no país após os eventos da Primavera Árabe, servindo de modelo de transição.
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A recente conquista do Nobel da Paz por María Corina Machado, figura emblemática na defesa da democracia, reforça o reconhecimento internacional aos defensores da liberdade e dos direitos humanos. Para se manter sempre informado sobre os desdobramentos políticos na Venezuela, os impactos de decisões internacionais e em outras nações ao redor do mundo, acompanhe de perto nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Jonathan Nackstrand – 25.set.24/AFP
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