A laureada com o Nobel da Paz 2025, María Corina Machado, consolidou sua notoriedade não apenas por sua liderança política, mas também por uma trajetória marcada por intensos episódios de repressão, intimidação e perseguição política. Essas vivências dramáticas oferecem um vislumbre dos significativos riscos enfrentados por Machado em sua incansável defesa pela democracia venezuelana, revelando a tenacidade de uma figura central na oposição.
Desde seus primeiros passos na vida pública, María Corina Machado, nascida em Caracas em 7 de outubro de 1967, demonstrou um profundo compromisso com as causas sociais e cívicas. Formada em engenharia industrial pela Universidade Católica Andrés Bello, com uma pós-graduação em finanças pelo IESA, ela cofundou a ONG Súmate em 2002. Esta organização teve um papel crucial na fiscalização de processos eleitorais e na denúncia de irregularidades, moldando a percepção pública sobre a transparência do sistema venezuelano. Em 2013, fundou o partido Vente Venezuela e, em 2017, colaborou na criação da aliança Soy Venezuela, unindo diferentes vertentes pró-democracia.
María Corina Machado: Nobel da Paz e luta pela democracia
A resistência de Machado ao regime venezuelano intensificou-se ao longo dos anos. Em janeiro de 2025, a então deputada foi protagonista de um incidente durante uma manifestação em Caracas, realizada em oposição à posse de Nicolás Maduro. Seus aliados relataram que, enquanto retornava de moto, veículos de sua escolta foram alvo de disparos e ela foi violentamente interceptada. Machado teria sido detida brevemente, forçada a gravar vídeos que serviriam como “prova de vida” e, horas depois, liberada. Contudo, as autoridades venezuelanas negaram qualquer detenção formal, rotulando as alegações como “falsos positivos” criados por grupos de oposição. Após o episódio, Machado fez declarações públicas de que se encontrava em segurança.
A perseguição não cessou. Em fevereiro de 2025, María Corina Machado utilizou suas redes sociais para denunciar uma tentativa de invasão de sua residência em Los Palos Grandes, um bairro residencial de Caracas. Ela descreveu a ação como a de homens não identificados que ameaçaram deter vizinhos e o vigilante. Machado associou explicitamente esses atos a uma continuidade da perseguição política contra sua pessoa.
Nas semanas que antecederam os protestos, houve um período em que Machado se manteve relativamente distante dos holofotes da mídia, levantando especulações, por parte de alguns veículos, de que ela pudesse ter fugido do país. A líder venezuelana, no entanto, prontamente desmentiu essa hipótese. Inclusive, o próprio presidente Nicolás Maduro chegou a sugerir publicamente que Machado havia deixado a Venezuela com destino à Espanha. A resposta de Machado foi direta: “Saben que estoy aquí en Venezuela” (“Sabem que estou aqui na Venezuela”). Mais tarde, o Comitê do Nobel, ao anunciar o prêmio, observou que Machado, no ano anterior, “foi forçada a viver na clandestinidade em meio a ameaças à sua vida”, validando a gravidade de sua situação.
O episódio de janeiro e a crescente repressão geraram forte condenação internacional. Governos e organizações de direitos humanos exigiram explicações do regime venezuelano, demonstrando preocupação com a intensificação das estratégias de intimidação contra opositores, que incluem detenções arbitrárias de aliados próximos a Machado. Um exemplo marcante é a prisão de Juan Pablo Guanipa, político estreitamente ligado a Machado, ocorrida em maio de 2025 enquanto ele também estava em condições de clandestinidade.
A resistência de María Corina Machado não é apenas uma questão política, mas também um forte símbolo. Ela tem atuado sob constante vigilância, enfrentando ameaças e obstáculos legais significativos. A cassação de seu mandato como deputada em 2014, após duras críticas ao regime de Maduro, não a silenciou; pelo contrário, a transformou em uma das vozes mais incisivas da oposição. Ela mantém o lema que ecoa por anos: “Foi uma escolha entre as urnas e as balas”. O Comitê Norueguês do Nobel, ao agraciá-la, reconheceu que ela “mantém acesa a chama da democracia em meio à escuridão crescente”.

Imagem: g1.globo.com
A Venezuela, outrora uma das economias mais prósperas da América Latina, encontra-se imersa em uma profunda crise humanitária e econômica. O país sofre com a escassez de alimentos e medicamentos, uma inflação crônica e uma repressão política generalizada, cenário que impulsionou mais de 8 milhões de venezuelanos a deixar o país em busca de melhores condições. Enquanto isso, líderes da oposição são confrontados com prisões, cassações de mandatos e censura. Machado, impedida de concorrer às eleições de 2024, endossou a candidatura de Edmundo González Urrutia, que a oposição considerou vencedor, apesar da recusa do governo em reconhecer o resultado.
No comunicado oficial, o Comitê Norueguês do Nobel descreveu Machado como “um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil da América Latina contemporânea”. O prêmio, segundo o comitê, reconhece seu papel fundamental em unificar uma oposição previamente fragmentada em torno da exigência de eleições livres e representatividade popular. A democracia é um pilar fundamental para a paz duradoura, conforme o comunicado. María Corina Machado “mostrou que as ferramentas da democracia também são as ferramentas da paz”, personificando “a esperança de um futuro diferente, em que os direitos fundamentais sejam respeitados e as vozes dos cidadãos, ouvidas”. A líder venezuelana, conforme o comitê, “nunca vacilou em resistir à militarização do país e tem sido firme em seu compromisso por uma transição pacífica da ditadura à democracia”. Acompanhar os relatórios sobre a situação de direitos humanos na Venezuela pode oferecer mais detalhes sobre este contexto complexo.
A história de María Corina Machado, que começou sua militância há mais de 20 anos com a Fundação Atenea, dedicada a acolher crianças em situação de rua antes de cofundar a Súmate, ressoa a luta por liberdade e dignidade. Sua cassação em 2014 e a inabilitação por 15 anos para cargos públicos não frearam sua atuação na articulação da oposição. Para o comitê do Nobel, ela encarna a esperança de um futuro em que os venezuelanos possam, finalmente, viver em liberdade e paz, um legado que continua a se construir sob o signo do seu Prêmio Nobel da Paz 2025.
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Em suma, a trajetória de María Corina Machado é um testemunho de resiliência e coragem, representando uma força motriz na busca por eleições transparentes e uma transição democrática na Venezuela. Convidamos você a continuar explorando nossa editoria de Política para acompanhar outros desenvolvimentos políticos importantes no Brasil e no mundo.
Crédito da imagem: Foto: Federico Parra/ AFP
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