Em meio a uma reorientação na abordagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação ao líder brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas três semanas, o Secretário de Estado Marco Rubio foi nomeado como o ponto de contato oficial para gerenciar os futuros encontros e negociações comerciais entre os dois mandatários. Esta decisão gerou distintas expectativas: enquanto bolsonaristas e seus aliados esperam que Rubio atue como um “cavalo de Tróia”, obstaculizando um eventual avanço nas relações, o governo brasileiro vê a movimentação com naturalidade e pragmatismo, conforme apurou a coluna.
Na manhã de hoje, o Presidente Trump encarregou Marco Rubio de coordenar tanto as futuras interações presenciais ou por telefone entre ele e Lula, quanto as negociações comerciais bilaterais. A escolha de Rubio, político com histórico de oposição a governos de esquerda na América Latina e com laços familiares com a Flórida (filho de cubanos), adiciona uma camada de complexidade às análises sobre o futuro das relações entre Washington e Brasília.
Marco Rubio: Novo Interlocutor na Relação Trump e Lula
Ao longo do atual mandato, foi Marco Rubio o responsável por implementar muitas das sanções dirigidas ao Brasil a partir de julho. Estas incluíam medidas como restrições a vistos para autoridades. A campanha da administração Trump contra o Brasil era justificada por alegações de violação à liberdade de expressão de cidadãos americanos, especificamente em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) relacionadas a grandes empresas de tecnologia. Tanto Rubio quanto Trump classificaram essas ações como uma “caça às bruxas” direcionada ao ex-presidente Jair Bolsonaro, recentemente condenado por tentativa de golpe de Estado e outros quatro delitos. Foi Rubio, inclusive, quem divulgou publicamente, em maio, a informação de que o Departamento de Estado norte-americano investigava a aplicação da Lei Global Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, uma medida que se concretizou em julho.
Histórico e Ações de Marco Rubio
O Departamento de Estado é considerado por muitos observadores como o setor mais favorável aos bolsonaristas dentro da estrutura governamental de Washington. Um pouco mais de dois meses antes dos recentes acontecimentos, Jair Bolsonaro chegou a participar de uma videochamada com diversas autoridades da equipe de Marco Rubio. Esse contato ocorreu durante uma visita presencial do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do comentarista político Paulo Figueiredo à sede do órgão na capital dos EUA. Ambos os influenciadores têm conduzido, por meses, uma campanha em Washington que busca sanções contra o Brasil, com o objetivo de pressionar por uma eventual anistia para Bolsonaro e seus apoiadores. A forte identificação de Rubio com pautas anti-esquerda e sua atuação histórica criam o ambiente para as diferentes leituras de seu novo papel.
As Expectativas dos Aliados Bolsonaristas
A nomeação de Rubio para este cargo central provocou reações imediatas entre aliados de Bolsonaro. O brasilianista Brian Winter, editor da Americas Quarterly e respeitado estudioso das relações Brasil-EUA, expressou sua análise no X: “Sobre a ligação entre Trump e Lula desta manhã: os brasileiros acham que correu bem. Mas nomear Marco Rubio como o ponto de contato de Trump é o caminho mais difícil para o Brasil – ele é um cético de longa data em relação a Lula e pode insistir em demandas relacionadas à Venezuela, China e muito mais”.
O comentário de Winter foi prontamente ecoado por Paulo Figueiredo, que limitou-se a “Mas é tão óbvio”. Em uma postagem subsequente, Figueiredo adicionou: “acordei embasbacado vendo a imprensa comemorando porque Trump colocou MARCO RÚBIO para NEGOCIAR com o Brasil. Zero de avanço! O grau de desconexão com a realidade é patológico. Como disse: a luz no fim do túnel é um trem”. Eduardo Bolsonaro, por sua vez, compartilhou um print de uma notícia com a manchete “‘Que esse seja um aviso’, diz Marco Rubio após aplicação de Lei Magnitsky contra Moraes”, reiterando a visão dos aliados. Outro nome expressivo do grupo, o deputado Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara, avaliou que “Trump deixou Marco Rubio, o secretário mais ideológico, para seguir as negociações das tarifas, um recado direto ao Planalto”. Sóstenes, que tem proximidade com Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, esteve recentemente em Miami conversando com a dupla.
A Perspectiva do Governo Brasileiro
Para o governo brasileiro, no entanto, a designação de Marco Rubio como interlocutor principal não causa surpresa e é vista como “natural”. Diplomatas argumentam que, sendo ele o chefe da diplomacia norte-americana, esse papel se alinha perfeitamente com suas atribuições funcionais. Além disso, aliados de Lula e diplomatas brasileiros destacam o histórico de Rubio em seguir as determinações de Trump, mesmo quando elas contrariam suas próprias convicções políticas públicas mais sensíveis. Essa pragmatismo já foi evidenciado em negociações comerciais com a China, na suspensão de envio de recursos à Ucrânia e na abertura de diálogos com o governo de Nicolás Maduro na Venezuela. A avaliação é que, apesar de possíveis divergências pessoais, Rubio não agiria de forma diferente nesta nova etapa das relações com o Brasil.
O próprio Marco Rubio, inclusive, já havia se reunido com o chanceler brasileiro Mauro Vieira em 30 de julho, bem antes da mudança de postura de Trump. O encontro, acertado de forma discreta por meio de um intermediário em Washington, pegou os bolsonaristas de surpresa na ocasião. Após a reunião, um deles confidenciou à coluna que “infelizmente o lado político de Rubio falou mais alto”, indicando um possível alinhamento pragmático que surpreendeu os mais ideológicos. Mensagens adicionais foram trocadas após essa primeira conversa, sinalizando um canal de comunicação que já vinha sendo estabelecido. Inclusive, a equipe de Rubio, mesmo com forte alinhamento ao bolsonarismo, tem veiculado a informação de que “o Brasil não é a Venezuela”, um indício de cautela em escalar a crise bilateral.
Linha Direta entre Líderes Minimiza Intermediação
Para diplomatas brasileiros, há um aspecto adicional de relevância crucial: por iniciativa do próprio Donald Trump, ele e o presidente Lula trocaram seus números pessoais de telefone durante a chamada telefônica de hoje. Essa troca direta de contatos sugere um desejo de Trump de estabelecer uma comunicação desimpedida com o líder brasileiro, potencialmente minimizando a influência ou a capacidade de manobra de qualquer intermediário, incluindo o próprio Secretário Marco Rubio. Este movimento estratégico pode reduzir significativamente a possibilidade de que eventuais resistências dentro do secretariado possam de fato impactar a linha das negociações entre os chefes de Estado.
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Em suma, a designação de Marco Rubio como ponte entre Trump e Lula se configura como um ponto de inflexão na dinâmica das relações bilaterais. Enquanto aliados do ex-presidente Bolsonaro enxergam a oportunidade para um entrave estratégico, o governo brasileiro a interpreta sob o prisma da normalidade diplomática e do pragmatismo que rege a atuação de Rubio no governo Trump. A presença de um canal direto de comunicação entre os presidentes pode, no final, ser o fator determinante para o desenrolar dessas importantes negociações. Para ficar por dentro de todas as nuances da política nacional e internacional, continue acompanhando a editoria de Política do nosso site!
Crédito da imagem: Mandel NGAN / POOL / AFP
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