Marajó Profundo da Folha Vence Prêmio Roche de Saúde

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A renomada série de reportagens “Marajó Profundo” da Folha de S.Paulo, veiculada entre abril e maio de 2024, foi agraciada com o prestigioso 13º Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde. O trabalho jornalístico, que revelou a dura realidade sanitária e social do arquipélago, destacou-se na categoria “Jornalismo Escrito” da premiação organizada pela Fundación Gabo, sediada na Colômbia.

Reconhecido internacionalmente por homenagear produções focadas na temática da saúde, o Prêmio Roche, em sua edição referente a 2025, analisou um total de 669 produções jornalísticas. Profissionais de 19 países da América Latina, além de Portugal e Espanha, submeteram seus projetos. A categoria “Jornalismo Escrito”, especificamente, atraiu 358 reportagens, ressaltando a alta competitividade e o valor do reconhecimento concedido ao “Marajó Profundo”.

O anúncio dos vencedores do certame ocorreu durante uma cerimônia formal na noite de quarta-feira, dia 8, realizada na Cidade do México, confirmando a série da Folha como uma referência em seu campo. O conteúdo foi elaborado pelos talentosos Vinicius Sassine, repórter especial e correspondente do periódico na Amazônia, e Lalo de Almeida, fotógrafo. A relevância e a sensibilidade em pautar as problemáticas enfrentadas pela população marajoara foram pontos cruciais para a vitória no

Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde

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A equipe da Folha foi representada na solenidade pela Secretária-assistente de Redação e editora de Diversidade, Flavia Lima. A conquista coroa uma imersão profunda dos jornalistas em uma das regiões mais complexas do Brasil, onde a precariedade do Estado afeta diretamente a saúde e o bem-estar de milhares de pessoas. As investigações jornalísticas focaram na porção ocidental do arquipélago do Marajó, no estado do Pará, território que concentra alguns dos municípios mais desfavorecidos do país.

Durante dez dias de trabalho intenso, os repórteres percorreram incansavelmente as áreas periféricas de Breves e Melgaço, no Pará, cidades que demandam até 14 horas de viagem de Belém em embarcações comerciais. A jornada incluiu visitas a comunidades e residências situadas nas margens de quatro importantes rios da região: Aramã, Mapuá, Mujirum e Tajapuru. No contexto do Marajó ocidental, a maioria da população reside em comunidades ribeirinhas, distanciada dos centros urbanos. Contudo, a estrutura e os serviços públicos se concentram majoritariamente nas cidades, negligenciando as necessidades das comunidades ao longo dos cursos d’água.

Destaques da Série Marajó Profundo

A série “Marajó Profundo” desvendou camadas de desafios sociais e de saúde pública, articuladas em três reportagens impactantes. A primeira delas, publicada em 21 de abril de 2024, abordou a dramática ausência de representação estatal nas regiões ribeirinhas, que cria um ambiente propício para a perpetuação de ciclos de violência sexual infantil. A investigação revelou que órgãos essenciais como Conselhos Tutelares, redes de assistência e delegacias não possuem as lanchas necessárias para alcançar essas comunidades isoladas, deixando crianças e adolescentes à mercê de agressores.

Uma semana depois, em 28 de abril, a segunda reportagem trouxe à tona a alarmante insegurança alimentar e a fome que assolam lares em áreas de várzea, bairros periféricos de igarapés e nas margens dos rios do arquipélago. O texto chocou ao mostrar que muitas crianças chegam a passar o dia consumindo apenas farinha como principal, e por vezes única, fonte de alimento.

O sofrimento das mulheres marajoaras foi o foco da terceira reportagem, divulgada em 5 de maio. O material expôs a violência sofrida por muitas gestantes na hora do parto, um momento de extrema vulnerabilidade. A ausência de assistência adequada e as longas jornadas para acessar serviços de saúde resultam em esperas indignas e na ocorrência frequente de óbitos de bebês e casos de violência obstétrica, principalmente na área de Melgaço.

Impacto e Reações

A reverberação das reportagens da Folha motivou uma resposta do governo federal. Duas semanas após a publicação, a gestão do Presidente Lula (PT) efetuou a entrega de cinco lanchas a Conselhos Tutelares de cinco cidades do arquipélago, acompanhada da promessa de destinar mais veículos a outros municípios. Essas embarcações são cruciais para aprimorar o atendimento e a intervenção em casos de violação dos direitos de crianças e adolescentes nas comunidades ribeirinhas do Marajó, evidenciando o poder transformador do jornalismo investigativo.

Ao justificar a premiação do trabalho da Folha, o júri destacou a relevância do material na divulgação dos finalistas, enfatizando: “Esta série aborda com profundidade o abandono estatal existente na região do Marajó. Os diferentes textos denotam o exercício de reportagem e trabalho de campo por trás da investigação, ao adentrar comunidades e mostrar os depoimentos das pessoas afetadas, fazendo contraste com as fontes oficiais e autoridades”. Este endosso reconhece a metodologia rigorosa e o impacto social das matérias que, segundo a Fundación Gabo, evidenciam a importância de uma imprensa vigilante e engajada.

Outros Trabalhos Notáveis do Prêmio Roche

Na mesma categoria de “Jornalismo Escrito”, outros dois trabalhos notáveis foram finalistas: “Las clínicas del miedo: los centros de conversión sexual em Ecuador”, da revista Gatopardo, que expôs a realidade de clínicas de falsa conversão para homossexuais no Equador, e “Los órganos no van al cielo”, da revista Semana, da Colômbia, que mergulhou nas complexas filas de transplante de órgãos. Além do “Marajó Profundo”, o Prêmio Roche reconheceu outras excelentes produções jornalísticas: “Os esquecidos de Hidalgo”, do veículo N+ Focus (México), com autoria de Carlos Carabaña e sua equipe; e “Corrupção enlatada”, da Latina Noticias (Peru), assinado por Hernán P. Floríndez e seus colaboradores, evidenciando a pluralidade e a qualidade do jornalismo em saúde na Ibero-América.

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A vitória do “Marajó Profundo” no 13º Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde reforça o papel crucial da imprensa na denúncia de mazelas sociais e na busca por justiça e melhores condições de vida. A série da Folha de S.Paulo não apenas informou, mas também provocou ações concretas, mostrando que um jornalismo aprofundado e humano tem o poder de catalisar mudanças. Para mais análises sobre temas que impactam a sociedade e a política, continue acompanhando as notícias em nossa editoria de Política.

Crédito da Imagem: Lalo de Almeida – 9.abr.2024/Folhapress