Promotoria do RJ: Mandato de Deputado TH Joias Visava Unicamente Beneficiar o Comando Vermelho
Facebook Twitter Pinterest LinkedInO procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Antonio José Campos Moreira, emitiu uma declaração nesta quarta-feira (3), afirmando que o mandato do deputado estadual fluminense Thiego Raimundo dos Santos Silva, popularmente conhecido como TH Joias, filiado ao MDB, possuía a intenção única de proporcionar benefícios ao grupo criminoso Comando Vermelho (CV). … Ler mais
O procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Antonio José Campos Moreira, emitiu uma declaração nesta quarta-feira (3), afirmando que o mandato do deputado estadual fluminense Thiego Raimundo dos Santos Silva, popularmente conhecido como TH Joias, filiado ao MDB, possuía a intenção única de proporcionar benefícios ao grupo criminoso Comando Vermelho (CV). A revelação veio à tona no contexto de uma operação policial significativa que culminou na prisão do parlamentar e outros envolvidos.
A detenção de TH Joias ocorreu no mesmo dia, quarta-feira (3), como resultado de uma operação integrada que mobilizou forças da Polícia Civil, da Polícia Federal e do Ministério Público. As instituições envolvidas na investigação apresentaram indícios que sugerem uma possível conexão direta e ativa do deputado com a facção criminosa em questão.
Acusações do Ministério Público contra o Mandato Parlamentar
Durante sua manifestação, o procurador Antonio José Campos Moreira enfatizou a gravidade das acusações, desenhando um cenário no qual a função legislativa do deputado teria sido instrumentalizada para fins ilícitos. Moreira foi categórico ao distinguir o ato eleitoral da finalidade do cargo exercido pelo político. “Não posso dizer que o tráfico de drogas tenha eleito o parlamentar”, afirmou Campos Moreira, para logo em seguida sentenciar: “Mas posso afirmar que o parlamentar foi eleito para, se valendo do mandato parlamentar, beneficiar essa organização criminosa. Isso é certo, porque antes de ser parlamentar, o hoje deputado já integrava o Comando Vermelho”.
Essa declaração robustece a tese de que a associação do deputado com o Comando Vermelho preexistia à sua posse no legislativo. A Promotoria do Rio de Janeiro sustenta que as ações de TH Joias após sua eleição não seriam desdobramentos de uma nova vinculação, mas sim a continuidade e a intensificação de um envolvimento anterior, agora com a cobertura e as ferramentas de um cargo público de relevância. O simples fato de um legislador supostamente se utilizar de sua posição para atender a interesses criminosos representa uma erosão grave da confiança pública nas instituições. Essa exploração do poder para promover o crime demonstra uma estratégia cada vez mais audaciosa por parte de facções de infiltrar-se em esferas governamentais.
“O simples fato de ele exercer o mandato parlamentar, nomear assessores diretos, cargos de confiança, vinculados ao Comando Vermelho, já revela suficientemente que a finalidade do mandato é basicamente, e eu diria unicamente, beneficiar de qualquer maneira a organização criminosa.”
As afirmações do procurador pintam um quadro onde o uso do cargo eletivo por TH Joias ia além da mera representação, servindo como uma ferramenta para a organização criminosa. A nomeação de assessores próximos, que supostamente também teriam laços com o Comando Vermelho, é apresentada como uma prova contundente dessa estratégia, configurando um alinhamento claro dos recursos do estado com os objetivos de uma facção. Esse modus operandi permite que o crime organizado amplie seu raio de atuação e se utilize da estrutura formal do Estado para suas atividades ilícitas, ganhando legitimidade e operacionalidade.
Outras Acusações e Modus Operandi
A Polícia Civil adicionou mais elementos às investigações, apontando que existem “provas robustas” não só de que TH Joias utilizava seu mandato para favorecer o Comando Vermelho, mas também que intermediava transações envolvendo compra e venda de entorpecentes, fuzis e equipamentos antidrones, ferramentas tecnológicas que têm se mostrado cruciais para a vigilância e segurança das operações de tráfico. Por conta desses indícios e evidências, a Promotoria imputa ao deputado as acusações de associação para o tráfico e comércio ilegal de arma de fogo.
As preocupações do Ministério Público transcendem o caso individual, refletindo sobre uma tendência alarmante na atuação de organizações criminosas no país. O procurador-geral destacou a evolução dessas estruturas: “As organizações criminosas hoje não se limitam a dominar territórios das chamadas comunidades”. A expansão do poder e influência dessas facções para outras esferas, inclusive as políticas e empresariais, é o que move a inquietação do Ministério Público.
No dia da prisão, TH Joias foi encontrado em um segundo apartamento na Barra da Tijuca, também na zona oeste da capital carioca. A equipe policial havia tentado localizá-lo inicialmente em sua residência principal, no mesmo bairro, a qual foi encontrada em estado de desalinho e revirada. Campos Moreira detalhou a dificuldade na localização do deputado:
“Houve uma certa dificuldade de localização do parlamentar, que teria saído de sua residência ontem, por volta das 21h40, deixando o lugar completo desalinhado, a casa completamente desarrumada, o que pode sugerir uma tentativa de fuga e o desfazimento de eventuais vestígios de fatos criminosos.”
Imagem: www1.folha.uol.com.br
Este cenário de desordem no imóvel e a presença do parlamentar em outra propriedade geraram suspeitas imediatas sobre uma possível tentativa de ocultação de provas ou mesmo de uma fuga. A diligência policial conseguiu, entretanto, impedir a evasão do acusado e efetuar sua prisão conforme os mandados expedidos.
Consequências Políticas e Antecedentes Criminais
Em resposta aos acontecimentos e à repercussão do caso, o presidente estadual do MDB, Washington Reis, anunciou prontamente a decisão do partido de expulsar o parlamentar de seus quadros. Esta medida busca dissociar a imagem da sigla de qualquer associação com atividades criminososas e resguardar a integridade do partido perante a opinião pública e as investigações em curso. A celeridade da decisão política é um indicativo da seriedade das acusações e do impacto que estas podem gerar para o ambiente político fluminense. O MDB tenta com esta ação demonstrar seu compromisso com a ética e a legalidade, reagindo energicamente às implicações da prisão de um de seus membros eleitos.
É importante ressaltar que o histórico de TH Joias não está isento de incidentes criminais anteriores. Em 2017, ele já havia sido preso e, posteriormente, condenado por lavagem de dinheiro. As investigações daquele período apontavam que o então joalheiro utilizava uma joalheria de sua propriedade para legalizar recursos financeiros oriundos do tráfico de drogas. Além disso, as apurações indicaram que ele atuava como um intermediário, repassando informações sensíveis que recebia de policiais para diversas facções criminosas, com um suposto pagamento semanal de R$ 11.000. Por este envolvimento, TH Joias permaneceu detido por nove meses, configurando um precedente que, para a Promotoria atual, se repete com a instrumentalização do mandato.
Ações Conjuntas e Outros Detidos
A recente operação da Polícia Civil e da Promotoria de Justiça resultou no cumprimento de três mandados de prisão emitidos pela Justiça estadual. Além de TH Joias, foram presos Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio do Lixão, também apontado como integrante do Comando Vermelho, e Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, que atuava como assessor parlamentar de TH. A investigação detalha que este assessor específico não se limitava às suas funções protocolares; a denúncia da Promotoria revela que ele supostamente desempenhava um papel ativo como fornecedor de equipamentos de tecnologia para o Comando Vermelho, incluindo os sofisticados sistemas antidrones. A mulher de Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, por sua vez, também teria sido nomeada para um cargo na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e servia como um elo entre a facção e o poder legislativo, consolidando uma rede de apoio à organização criminosa dentro da estrutura estatal. Contudo, os nomes dessa assessora não foram confirmados pelas autoridades. Os advogados de defesa de Oliveira e Gonçalves não foram localizados para prestar declarações sobre as acusações. A Polícia Civil adicionou que alertas sucessivos emitidos por instituições financeiras sobre as empresas ligadas a TH Joias reforçam a suspeita de prática de lavagem de dinheiro, corroborando o modus operandi já identificado em seu histórico.
Simultaneamente, uma operação distinta da Polícia Federal, com foco em agentes públicos, saiu às ruas para cumprir 18 mandados de prisão expedidos pela Justiça Federal, resultando na execução de 15 deles. Entre os alvos dessa operação figuram o ex-secretário estadual e municipal Alessandro Pitombo Carracena. O escritório de advocacia de Carracena não atendeu às ligações. A investigação da Polícia Federal, ao direcionar seu olhar para a participação de agentes públicos, ampliou o leque de envolvidos para além de TH Joias e Carracena, incluindo um delegado da própria PF, lotado no aeroporto internacional do Rio de Janeiro, e policiais militares. A PF aponta que este grupo teria utilizado seus cargos para acessar informações sigilosas com o objetivo de beneficiar a facção criminosa e garantir a impunidade de seus membros. Adicionalmente, são suspeitos de coordenar a importação de armas provenientes do Paraguai e de equipamentos antidrones originários da China, configurando um esquema de grande porte e de alcance internacional, que integra tecnologia de ponta com armamento pesado.
Antes de assumir o cargo de deputado em 2024, TH Joias havia construído uma reputação no universo da ourivesaria, sendo conhecido por criar joias personalizadas para personalidades do mundo artístico e esportivo, como cantores e jogadores de futebol. Sua entrada na política ocorreu após receber 15.015 votos nas eleições de 2022. A vaga na Alerj foi efetivada após o falecimento do deputado estadual Otoni Moura de Paulo. Rafael Picciani (MDB), o suplente imediato na lista do partido, optou por permanecer em seu posto na secretaria de Esportes, o que abriu caminho para que TH Joias ocupasse a cadeira parlamentar.
Em um desdobramento direto do caso, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), anunciou nesta quarta-feira que Rafael Picciani reassumirá seu cargo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Esta medida implica que a decisão sobre a manutenção ou o relaxamento da prisão de TH Joias não necessitará de votação em plenário pelos demais parlamentares, dada a recomposição do quadro de deputados. O governador enfatizou o significado da ação integrada das forças de segurança, ressaltando a validade da lei para todos. Em uma publicação na plataforma X, Cláudio Castro declarou: “O retorno de Rafael já estava previsto, mas, diante da operação realizada hoje, decidimos antecipar. O trabalho integrado deixa um recado muito claro: a lei vale para todos.” A rápida manobra política visa garantir a estabilidade do poder legislativo e enviar uma mensagem de tolerância zero com a corrupção e a associação com o crime.
O caso continua em aberto, com as investigações progredindo para esclarecer todos os pormenores da alegada conexão entre o deputado e o Comando Vermelho, bem como o papel de outros agentes públicos e assessores envolvidos nas operações de tráfico e lavagem de dinheiro. A falta de resposta dos assessores e do próprio parlamentar a tentativas de contato feitas por diversos meios, como mensagens e ligações, até a publicação inicial desta matéria, evidencia o caráter sensível e urgente das investigações e a busca por esclarecimentos adicionais por parte da mídia.