Um major da PM-PR foi preso por propina novamente em Maringá, no norte do Paraná, nesta terça-feira, 23 de novembro. A detenção do major Alexandro Marcolino Gomes é a segunda em menos de quatro meses, intensificando a investigação sobre sua conduta como comandante de uma unidade policial e suas supostas exigências financeiras indevidas. Ele já havia sido preso em maio do corrente ano, em decorrência de acusações semelhantes, e encontrava-se em prisão domiciliar até o momento desta nova detenção.
O mandado de prisão preventiva, emitido pela Justiça Militar, foi cumprido após Alexandro Marcolino ser formalmente processado por corrupção passiva. Esta decisão judicial é resultado de uma denúncia meticulosamente elaborada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do Ministério Público do Paraná, que aponta o oficial como utilizador de sua posição de comando na 3ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) de Loanda, no noroeste paranaense, para orquestrar esquemas de propina.
As investigações do Ministério Público detalham que o major Alexandro Marcolino Gomes é suspeito de “vender” procedimentos internos da corporação. Tal prática envolveria, conforme a denúncia, a exigência de pagamentos em troca de facilitar transferências de policiais militares, influenciar decisões em inquéritos internos e, em diversas ocasiões, intimidar ou subjugar seus subordinados para benefício próprio.
Major PM-PR Preso Novamente por Propina em Maringá
O fato de sua segunda prisão ocorrer apenas meses após a primeira ressalta a gravidade das acusações e a persistência das investigações conduzidas pelo Gaeco no combate à corrupção dentro das instituições públicas.
Nova Prisão e Medidas Cautelares na Operação Transparência
A mais recente detenção de Alexandro Marcolino Gomes ocorreu no âmbito da “Operação Transparência”, deflagrada pelo Gaeco nesta terça-feira. Os agentes o localizaram em sua residência em Maringá. Além da prisão preventiva, que reforça a urgência das autoridades em interromper a alegada conduta criminosa, medidas de constrição patrimonial foram aplicadas contra o oficial.
Segundo informações divulgadas pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), houve o bloqueio de bens que totalizam a quantia de R$ 344.333,00. Entre os ativos alvos da ordem judicial estão contas bancárias, veículos e imóveis. Estas ações visam garantir a reparação de eventuais danos causados e impedir a movimentação de recursos que, presume-se, possam ser fruto das atividades ilícitas denunciadas.
Detalhes da Operação Zero Um e Início das Investigações
A primeira prisão do major Alexandro Marcolino aconteceu em 22 de maio deste ano, como parte da “Operação Zero Um”. Esta operação foi batizada em referência ao codinome “01” pelo qual o major era conhecido em conversas telefônicas interceptadas pelas forças-tarefa. Desde então, as investigações do Gaeco e do MP-PR se aprofundaram nas alegações de que o comandante cobrava, de forma recorrente, valores em diversas situações.
As evidências iniciais indicavam que Marcolino interferia em procedimentos disciplinares, inquéritos policiais militares e transferências de unidades, exigindo pagamentos para alterar o curso dessas decisões. Foi também nessa ocasião que, durante a operação em maio, foram apreendidas na sede da 3ª Companhia da PM em Loanda diversas camisetas, recibos e cheques sem identificação nominal dos beneficiários, material que compõe parte do arcabouço probatório.
O Esquema Sistêmico de Cobrança de Propina
A investigação minuciosa conduzida pelo Ministério Público do Paraná, através dos Núcleos Regionais do Gaeco de Maringá e Umuarama, culminou na denúncia formal de Marcolino por corrupção passiva em 10 de setembro de 2024, data em que ele foi denunciado pelos promotores Marcelo Gobbato e Guilherme Franchi. Em 15 de setembro, o Poder Judiciário recebeu a denúncia, tornando-o réu no processo.
Documentos aos quais o g1 teve acesso revelam que o Gaeco identificou dez situações específicas de cobranças indevidas. Essas exigências foram feitas a representantes de empresas que possuíam contratos de prestação de serviços com a 3ª CIPM. Dentre os exemplos, a apuração revelou que, durante a realização do 3º Torneio de Pesca da Companhia, o Major Alexandro teria exigido um percentual dos valores arrecadados com a venda de camisetas do evento para a empresa fornecedora, alegando que o dinheiro seria destinado a “benfeitorias” nas instalações da corporação.

Imagem: cobranças de propina via g1.globo.com
Em outras ocasiões, as investigações confirmaram que houve a exigência de propina como condição para o fechamento de contratos de prestação de serviços para a Polícia Militar, apontando para um esquema sistemático e estruturado de corrupção. Em entrevista coletiva, o promotor Marcelo Gobbato detalhou que os valores cobrados variavam conforme a natureza do benefício concedido, com as investigações apontando, inclusive, que um subordinado chegou a pagar R$ 10 mil para conseguir uma transferência para outra unidade policial. O MP-PR ressalta que esse esquema funcionava com a participação de um operador financeiro e que as cobranças eram “recorrentes”, sempre que surgia a oportunidade de interferência em troca de dinheiro, como explicou o promotor do Gaeco.
De acordo com o comandante Mildemberg, o Major possuía a competência legal para expedir a portaria de nomeação e a solução de inquéritos militares dentro de sua área de circunscrição. Essa autoridade teria sido utilizada para “vender” as decisões desses procedimentos, evidenciando o profundo controle que ele poderia exercer sobre os rumos de investigações e destinos de policiais, em troca de ganhos ilícitos.
A Posição Oficial da PM-PR e a Defesa do Major
A Polícia Militar do Paraná, por meio de seu comando, optou por não emitir manifestações detalhadas sobre o caso. No entanto, confirmou ao g1 o afastamento do major Alexandro Marcolino do cargo de comandante. A corporação informou também que um procedimento administrativo interno já foi instaurado, e terá como objetivo final determinar a permanência ou a exclusão do oficial dos quadros da Polícia Militar do estado.
A defesa de Alexandro Marcolino Gomes, representada pela advogada Anna Victória Masnei de Lima, manifestou-se por meio de nota oficial ao g1. A advogada defende que a prisão cautelar decretada contra o major é uma “medida desproporcional e inadequada” para o estágio atual do processo. Segundo a defesa, tal ação representa uma “afronta ao princípio da presunção de inocência”, um pilar fundamental da Constituição Federal de 1988 e do Estado Democrático de Direito.
Na nota, Anna Victória Masnei de Lima argumenta que a prisão preventiva não deve ser utilizada como uma antecipação de pena ou como instrumento de coação, ressaltando que sua aplicação somente se justifica em casos de comprovada e devidamente fundamentada necessidade, o que, de acordo com a defesa, não se aplica ao major. Ela reiterou os 26 anos de carreira de Marcolino, sempre pautada por disciplina e respeito à lei, e enfatizou o impacto da prisão em sua vida pessoal e familiar. A defesa expressa confiança na Justiça, na esperança de que uma “análise serena e técnica dos fatos” levará à revisão da decisão, restaurando a liberdade do major, e que a lei prevaleça sem impor ao acusado uma punição “prematura e descabida”.
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Este caso complexo, que envolve denúncias de corrupção sistêmica na Polícia Militar do Paraná, permanece sob escrutínio. As próximas etapas incluem o desenvolvimento do processo judicial na Justiça Militar e as conclusões do procedimento administrativo da PM-PR. Para acompanhar os desdobramentos de investigações e outras notícias sobre o sistema de combate ao crime organizado no Brasil, explore as atualizações na editoria de notícias da Polícia e Justiça, além de outros acontecimentos mais recentes em Goiás e no Brasil em nossa seção de Cidades.
Crédito da imagem: Reprodução/Redes sociais
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