Mães Questionam Operação Policial no Rio após Mortes

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Na manhã de 29 de outubro de 2025, o cenário de corpos alinhados na Praça São Lucas, localizada no Complexo da Penha, Rio de Janeiro, reverberou com pesar por todo o país e internacionalmente. Ao lado das vítimas fatais da Operação Contenção, conduzida em 28 de outubro pelas forças policiais Civil e Militar do Rio de Janeiro, aglomeravam-se familiares, predominantemente mulheres, que expressavam sua dor e questionamentos veementes sobre a ação do Estado.

Entre as vozes marcadas pela aflição estava Elieci Santana, dona de casa de 58 anos. Seu relato chocante sobre a morte do filho, Fábio Francisco Santana, de 36 anos, adicionava mais uma camada de horror aos acontecimentos. Segundo Elieci, Fábio havia enviado mensagens indicando que se renderia e compartilhando sua localização.

Mães Questionam Operação Policial no Rio após Mortes

A mãe denunciou uma violência extrema. “Meu filho se entregou, saiu algemado. E arrancaram o braço dele no lugar da algema”, declarou Elieci, descrevendo o destino trágico do seu filho. Essa narrativa de mortes que teriam ocorrido após a rendição era um eco constante entre os parentes que se faziam presentes na praça. Os próprios moradores assumiram a tarefa de trazer os corpos até a praça durante a madrugada, utilizando caçambas de veículos, em um esforço desesperado para reuni-los e dar visibilidade à tragédia.

Relatos de Feridos Ignorados e Busca Noturna

Tauã Brito, confeiteira e mãe de Wellington, que também faleceu durante a operação, detalhou que muitos dos baleados estavam vivos nas áreas de mata no dia anterior. “Ontem eu fui lá no Getúlio [Hospital Getúlio Vargas] pedir para subirem com a gente, para a gente poder salvar esses meninos. Ninguém podia subir. Eles estavam vivos”, afirmou, evidenciando a recusa em prover socorro imediato aos feridos na floresta. Ela relatou que somente à noite, após a saída das forças policiais, os moradores iniciaram a busca pelos feridos. “Ficamos lá, cada um caçando seus filhos, seus parentes. Isso aí está certo para o governo?”, questionou, expondo sua indignação diante da ausência de apoio governamental na situação crítica.

Comovida, Tauã Brito expressou à imprensa que seu único desejo era poder retirar o filho do cenário brutal. “Não vai dar em nada. A verdade é essa. Porque aqui tem um montão de gente chorando, mas lá fora tem um montão de gente aplaudindo. Isso que eles fizeram foi uma chacina”, lamentou, refletindo o sentimento de desamparo e descrença na justiça que perpassava as famílias das vítimas.

Sinais de Tortura e Execução Investigados

A gravidade da situação foi ainda mais enfatizada pelas declarações do advogado Albino Pereira, representante legal de algumas das famílias. Ele acompanhou as movimentações durante a manhã e fez observações preocupantes sobre a cena. Segundo sua análise, havia “sinais claros de tortura, execução e outras violações de direitos”. Pereira destacou que, “você não precisa nem ser perito para ver que tem marca de queimadura [na pele]. Os disparos foram feitos com a arma encostada. Chegou um corpo aqui sem cabeça. A cabeça chegou dentro de um saco, foi decapitado. Então isso aqui foi um extermínio”, enfatizou, traçando um panorama sombrio das táticas empregadas na ação. Os trabalhos de recolhimento dos corpos pela Defesa Civil começaram por volta das 8h30 na parte baixa da comunidade, para posterior encaminhamento ao Instituto Médico Legal (IML).

Críticas à Letalidade e Silêncio Social

Antonio Carlos Costa, fundador da renomada ONG Rio da Paz, foi outra personalidade presente na Praça São Lucas, observando os eventos com grande preocupação. Ele expressou forte condenação à letalidade da Operação Contenção, contrastando a violência com a ausência de outras intervenções estatais na comunidade. “Não há uma invasão aqui do Estado na sua plenitude, trazendo saneamento básico, moradia digna, acesso à educação de qualidade, hospitais decentes. Por que historicamente a resposta tem que ser essa? E por que a sociedade não se revolta?”, questionou Costa, pontuando a falta de políticas públicas de longo prazo e a aparente indiferença social à tragédia.

A brutalidade das operações policiais no Brasil tem sido um tema de crescente preocupação e debate público, com muitas entidades da sociedade civil documentando as consequências destas ações para as populações. Mais informações e estatísticas sobre segurança pública no Brasil podem ser encontradas em relatórios do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que oferece análises detalhadas sobre a atuação das forças policiais.

Mães Questionam Operação Policial no Rio após Mortes - Imagem do artigo original

Imagem:  Tomaz Silva via agenciabrasil.ebc.com.br

Balanço Oficial e Críticas de Especialistas à Operação Contenção

A Operação Contenção, que se desenrolou pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, teve um saldo de 119 mortos, conforme o balanço mais recente, compreendendo 115 civis e quatro policiais. Apesar da elevada letalidade, o governo estadual classificou a operação como um “sucesso”, defendendo que as mortes ocorreram em confrontos onde as pessoas resistiram violentamente, e aqueles que se entregaram foram presos, totalizando 113 prisões. No entanto, especialistas em segurança pública, ao avaliarem a ação, apontaram falhas significativas.

Jacqueline Muniz, professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), por exemplo, caracterizou a operação como “amadora e uma lambança político-operacional”, sublinhando a falta de estratégia efetiva e a gestão ineficaz que resultaram no desfecho sangrento. Movimentos populares e associações de favelas, por sua vez, emitiram comunicados condenando veementemente as ações policiais, ressaltando que “segurança não se faz com sangue” e clamando por abordagens mais humanizadas e eficazes para lidar com a criminalidade.

Naquela manhã de 29 de outubro, ativistas presentes classificaram a remoção de mais de 60 corpos de uma área de mata no Complexo da Penha como um “massacre”, reforçando a perspectiva crítica sobre a operação. A ação, que mobilizou um efetivo de 2,5 mil policiais, configurou-se como a maior no estado nos últimos 15 anos. Seus efeitos transcenderam os limites das comunidades envolvidas, gerando pânico generalizado na capital fluminense, com tiroteios intensos, bloqueio de vias cruciais, fechamento de escolas, comércios e postos de saúde, evidenciando o caos e a desordem impostos pela escalada da violência.

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Em suma, os trágicos eventos da Operação Contenção de 28 de outubro de 2025 no Rio de Janeiro levantam sérias questões sobre a estratégia de segurança pública e a violação dos direitos humanos. Os relatos das mães e as evidências apresentadas por advogados e especialistas apontam para uma chacina que exige investigação e responsabilização. A letalidade da operação não apenas falhou em conter o crime organizado, mas também gerou um profundo trauma nas comunidades. Para acompanhar outras notícias e análises sobre temas de grande relevância, continue navegando em nossa editoria de Política e mantenha-se informado sobre os desdobramentos desses e outros importantes acontecimentos no Brasil.

Crédito da imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil

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