Neste ano, em 25 de outubro de 2025, a morte brutal do jornalista Vladimir Herzog completa cinco décadas, marcando meio século de uma incansável luta da família por verdade e justiça. Herzog foi assassinado por agentes do regime militar, que na época tentaram acobertar o crime forjando uma falsa história de suicídio, uma alegação que sua esposa, Clarice, sempre rechaçou veementemente desde o primeiro momento. Embora o governo brasileiro tenha reconhecido Herzog como anistiado político em março de 2025, oficializando a reparação econômica mensal para sua viúva, nenhum dos responsáveis pela sua morte foi devidamente punido até hoje.
A perseverança da família em buscar respostas para a morte de Vlado foi o cerne da recente entrevista de seu filho, Ivo Herzog, concedida a Natuza Nery no podcast O Assunto na última sexta-feira, 24 de outubro de 2025. Durante a conversa, Ivo reforçou a determinação de sua família. “A gente não vai desistir. Se precisar esperar mais 50 anos, a gente vai esperar, vai lutar”, declarou, reiterando o compromisso inabalável com a memória de seu pai e a busca por accountability.
Luta por Justiça de Vladimir Herzog Completa 50 Anos
As reflexões de Ivo Herzog no podcast O Assunto aprofundaram a complexidade e o peso dos 50 anos de luta por reparação e pela verdade sobre o que realmente aconteceu com Vladimir Herzog. Ele enfatizou que essa batalha transcende o âmbito familiar, estendendo-se a “todos os familiares de mortos e desaparecidos” que foram vítimas da ditadura militar brasileira. Para Ivo, é fundamental que as páginas mais obscuras da história do país sejam escritas e registradas com precisão para as futuras gerações.
A relevância desse registro histórico é um pilar da mensagem de Ivo. “A gente tem que virar esta página da nossa história. Mas primeiro a gente precisa escrever essa página para que as pessoas conheçam, as novas gerações conheçam os erros cometidos no passado, para que eles não voltem a ser cometidos no futuro”, afirmou. Sua declaração ressalta a importância de confrontar o passado para que erros semelhantes não se repitam, garantindo que as memórias das atrocidades do regime não sejam esquecidas ou distorcidas.
O Assalto à Democracia e a Morte no DOI-Codi
Ivo Herzog detalhou o desdobramento dos eventos que levaram ao assassinato de seu pai. Na sexta-feira, 24 de outubro, Vlado, que então ocupava o cargo de diretor do departamento de jornalismo da TV Cultura, foi convocado por agentes da ditadura militar para prestar depoimento sobre sua suposta ligação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Apesar de não ter qualquer vínculo com a agremiação política, o jornalista se apresentou voluntariamente na manhã do dia seguinte, sábado, 25 de outubro, nas instalações do DOI-Codi, localizado na Vila Mariana, em São Paulo.
A aparente colaboração de Herzog teve um desfecho trágico: na tarde do mesmo dia, 25 de outubro de 1975, o jornalista estava morto sob custódia do Estado. Este crime marcou profundamente a sociedade brasileira e intensificou a luta contra o regime autoritário. As consequências da morte de seu pai foram vividas intensamente por Ivo, que narra ter presenciado o ato ecumênico histórico na Catedral da Sé, em São Paulo, que reuniu milhares de pessoas em protesto. “Eu lembro de estar na primeira fila […] tentando entender o que estava acontecendo. Acho que tanto eu quanto meu irmão éramos como telespectadores de um filme passando em alta velocidade, quase que num estado de choque, porque não tínhamos capacidade de absorver tudo aquilo”, recordou, descrevendo a magnitude da manifestação e o impacto psicológico que o evento teve sobre ele e seu irmão na época.
Vladimir Herzog: Uma Vida Além do Martírio Político
Além de sua proeminência como jornalista e símbolo da luta contra a ditadura, a vida de Vlado foi rica e multifacetada, conforme revelado por seu filho Ivo no podcast. Vladimir Herzog era filho único de uma família judia que havia encontrado refúgio no Brasil após fugir do regime nazista na Iugoslávia. Nos anos 1960, ele se casou com Clarice, e sua vida era preenchida por diversas paixões e hobbies que pintavam um quadro de um homem de múltiplos interesses. Ivo recordou que seu pai “gostava muito de pescar, astronomia, fotografia”, revelando um lado mais íntimo e menos conhecido do jornalista.

Imagem: g1.globo.com
As lembranças de Ivo também incluíam o detalhe de que Vlado e sua avó costumavam se comunicar na língua materna da família, um idioma que era incompreensível para os filhos, mas que por vezes se mesclava com palavras em português durante as conversas. Essa particularidade linguisticava reforçava as raízes culturais de Herzog. Adicionalmente à sua brilhante carreira no jornalismo, Vladimir nutria uma paixão profunda pelo cinema, sendo este um de seus grandes sonhos não realizados. “O sonho dele era trabalhar com o cinema”, concluiu Ivo, adicionando uma camada humana e de anseios pessoais à figura do pai que se tornou um mártir da ditadura brasileira.
A história da anistia política no Brasil é complexa e teve várias etapas, marcando um período importante para a reconciliação e o reconhecimento dos danos causados pela ditadura. Saiba mais sobre o tema acessando fontes de informação oficiais sobre a história da anistia no Brasil. Esta luta pela verdade e justiça para figuras como Vladimir Herzog é um lembrete contínuo da importância da democracia e do respeito aos direitos humanos.
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A corajosa busca por justiça e a manutenção da memória de Vladimir Herzog por sua família, mesmo após cinco décadas, reforçam a importância de recordar os episódios mais dolorosos da nossa história para que nunca mais se repitam. Continue acompanhando as atualizações sobre os direitos humanos e política em nosso portal e engaje-se nessa pauta fundamental.
Crédito da imagem: Divulgação/Instituto Vladimir Herzog


