TÍTULO: Lula Subestima Saída do Centrão, Mas Aliados Projetam Dificuldades no Congresso
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META DESCRIÇÃO: O presidente Lula minimiza o desembarque do Centrão do governo federal, enquanto seus aliados políticos preveem um cenário desafiador nas votações do Congresso Nacional.
PALAVRA-CHAVE: Governo Lula e Centrão
Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), minimizou as implicações da decisão da federação formada pelo União Brasil e Progressistas (PP) de deixar a base aliada do governo federal. Em conversas com aliados, Lula reforçou sua confiança na vitória para as eleições presidenciais de 2026. No entanto, mesmo com o otimismo presidencial, interlocutores próximos ao petista admitem que essa movimentação partidária poderá gerar um cenário complexo e desafiador para o Palácio do Planalto em votações estratégicas dentro do Congresso Nacional.
A federação, composta pelo União Brasil e Progressistas, fez um comunicado oficial na terça-feira (2) anunciando que seus representantes com mandatos que atualmente ocupam posições na Esplanada dos Ministérios deverão se afastar de suas funções até 30 de setembro. A desobediência a essa diretriz resultaria em expulsão da federação. Essa decisão impacta diretamente figuras como André Fufuca (Esporte), deputado federal licenciado pelo PP, e Celso Sabino (Turismo), também deputado federal licenciado pelo União Brasil, que são os ministros-alvo dessa medida.
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Movimento Partidário: Desdobramentos e Permalências no Executivo
Apesar do anúncio de desembarque, a comunicação da federação introduziu uma flexibilidade crucial: apenas “detentores de mandatos” seriam obrigados a se afastar. Isso abre espaço para que indivíduos indicados por políticos desses partidos, mas que não possuem mandato próprio, possam permanecer em suas respectivas posições no governo. Esse detalhe sugere uma divisão dentro da própria base de descontentes, onde nem todos os apadrinhados seriam retirados do quadro funcional governamental.
Adicionalmente, o União Brasil mantém apadrinhados em outros dois ministérios, cujas indicações foram feitas pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O Partido Progressistas (PP), por sua vez, detém o controle da Caixa Econômica Federal através de Carlos Vieira. Vieira, cuja ascensão à presidência da Caixa contou com o respaldo do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não está na lista de desligamentos, evidenciando a seletividade e as particularidades desse afastamento.
A Visão do Presidente: Menosprezo aos Impactos da Decisão
Conforme apurado por fontes próximas, o presidente Lula parece ter subestimado as consequências práticas decorrentes da deliberação da federação. Ele teria argumentado que poucas alterações seriam observadas, fundamentando essa percepção no fato de que uma parcela considerável dessas legendas já vinha votando contra as pautas de interesse do governo em diversas ocasiões no Congresso. Essa avaliação, aliás, ecoa entre alguns assessores do petista, que sarcasticamente afirmam que “quem anuncia o desembarque do governo, na verdade, nunca chegou a entrar”, uma referência explícita às intrínsecas divisões internas dessas legendas, que historicamente abrigam grupos com variados níveis de alinhamento, alguns mais próximos ao Planalto e outros alinhados à oposição.
Em recentes diálogos travados na mesma terça-feira, o chefe do Executivo resgatou suas experiências eleitorais pretéritas para justificar sua posição. Lula recordou sua vitória nas eleições de 2002 com uma aliança restrita, formada por apenas cinco partidos. Em contraponto, a eleição de 2022, que o levou novamente ao Palácio do Planalto, contou com uma coligação de nove partidos, notavelmente, sem a inclusão de qualquer legenda do Centrão. Desde a reunião ministerial ocorrida na última semana, onde demandou publicamente que ministros de partidos do Centrão se empenhassem na defesa de sua administração, Lula tem reiterado constantemente que tais legendas não eram componentes da coalizão original que o conduziu à Presidência.
Estratégia Política: Busca por Dissidentes e Alianças Regionais
Em conversas mais recentes, o presidente também recomendou explicitamente a integrantes do PT que evitassem qualquer pressa em solidificar uma coligação ampla para os pleitos futuros. A estratégia sugerida e considerada mais viável por seus aliados é, em vez de buscar o apoio formal de partidos inteiros, focar em atrair dissidentes dentro dessas próprias legendas. Com esses parlamentares ou líderes locais, o Planalto visaria estabelecer alianças de cunho regional, adaptadas às particularidades e interesses de cada estado, descentralizando a busca por apoio.
Um dos cenários hipotetéticos admitidos pelo próprio presidente durante uma dessas conversas foi a eventual impossibilidade de contar com esses partidos do Centrão em seu palanque presidencial. Diante de tal conjuntura, o objetivo prioritário, segundo ele, seria então impedir que tais legendas oferecessem apoio formal e consolidado à candidatura adversária. Nesse momento, a postulação mais provável para enfrentar Lula é a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), cujo alinhamento com parcelas do Centrão é conhecido.
Reações e Antecipação: Um Movimento Não Inesperado
Ademais, conforme o depoimento de seus aliados, Lula já teria antecipado esse movimento por parte dos partidos do Centrão. Dirigentes dessas legendas já vinham emitindo sinais e ameaças de afastamento do governo petista semanas antes do anúncio formal. Assim, seus interlocutores sustentam que o presidente não foi apanhado de surpresa, diferentemente do episódio em que o Congresso derrubou um decreto presidencial que alterava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sem que integrantes do governo fossem devidamente informados, um momento que revelou uma clara falta de articulação e previsibilidade.
O ceticismo não se limita ao Planalto. Entre membros do próprio governo e parlamentares que compõem a base governista, paira uma incerteza sobre a verdadeira extensão e concretização desse desembarque partidário até a data limite estabelecida de 30 de setembro. Muitos questionam se o afastamento será tão abrangente quanto anunciado ou se, na prática, terá nuances e exceções.
Impactos e Instabilidade no Congresso: O Desafio da Popularidade e as Pautas Prioritárias
Contudo, há um consenso entre os interlocutores presidenciais sobre os potenciais impactos desse cenário nas votações de projetos de interesse crucial para o governo no Congresso Nacional. Esse momento de fragilidade nas relações com o parlamento ocorre justamente quando o Planalto investe na aprovação de diversas propostas, consideradas estratégicas para reverter a tendência de queda na popularidade da gestão, um indicador que preocupa a equipe governamental.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
O movimento dos partidos da federação possui o potencial de acentuar a instabilidade do Poder Executivo na relação com o Congresso, onde os partidos de esquerda, aliados mais fiéis ao governo, já constituem uma minoria parlamentar. Em um panorama de afastamento do Centrão, a base oficial de apoio do governo seria reduzida para cerca de 259 deputados, o que representa apenas dois votos acima da maioria simples necessária para aprovar projetos. Esse estreitamento da margem pode complicar sobremaneira a governabilidade.
A Pauta da Anistia e a Repercussão no Plenário
Um receio adicional, expressado por setores do governo e da base aliada, é o de que pautas sensíveis, como a proposta de anistia aos indivíduos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, possam “contaminar” e desviar a atenção de discussões prioritárias no plenário tanto da Câmara dos Deputados quanto do Senado Federal. A federação União Brasil-Progressistas, de fato, anunciou seu apoio explícito à anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que antes demonstrava resistência a essa proposição, admitiu publicamente que está reavaliando a questão. Ele reconheceu que a pressão de líderes partidários para debater o tema em plenário tem se intensificado.
De acordo com a declaração de um integrante do governo, que optou por não se identificar, a reação oficial ao desembarque do Centrão será pautada pela cautela, sem movimentos impulsivos. A orientação é analisar detidamente as consequências práticas dessa decisão para, somente em um segundo momento, delinear e executar as medidas mais apropriadas. Este aliado governista não descartou, por exemplo, a possibilidade de realizar um “pente-fino” rigoroso e, se necessário, uma revisão das indicações políticas desses partidos para cargos dentro da administração federal, seja nos estados ou em Brasília.
Cobranças por Compromisso e Nova Demarcação de Alianças
A ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais), figura central na articulação entre o governo e o Congresso, reforçou a necessidade de um compromisso claro por parte de todos que indicaram aliados para cargos na gestão federal, independentemente de os indicados possuírem mandato ou não. Ela enfatizou que todos devem lealdade ao presidente Lula e alinhar seus votos com as proposições prioritárias do Planalto.
“Quem permanecer deve ter compromisso com o presidente Lula e com as pautas principais que este governo defende (…) Precisam trabalhar conosco para aprovação das pautas do governo no Congresso Nacional. Isso vale para quem tem mandato e para quem não tem mandato, inclusive para aqueles que indicam pessoas para posições no governo, seja na administração direta, indireta ou regionais”, afirmou Gleisi Hoffmann.
No parlamento, deputados da base governista também manifestaram sua percepção de que o desembarque do Centrão não seria algo totalmente negativo. Pelo contrário, muitos veem nesse momento uma oportunidade estratégica para estabelecer uma demarcação mais nítida sobre quem está, de fato, com o governo federal e quem se alinha à oposição. Esse raciocínio visa a reforçar o discurso político de que a administração atual “tem um lado” e uma agenda bem definida.
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Entre esses deputados, há ainda uma avaliação compartilhada de que a agenda que o Congresso tem encampado, incluindo a discussão da anistia, é, em grande parte, impopular perante a sociedade. Eles acreditam que a pressão da opinião pública, articulada pela base do governo, pode ser um fator determinante para impedir que temas como a anistia prosperem no plenário. Por fim, integrantes do Partido dos Trabalhadores também observam que o governador Tarcísio de Freitas poderá emergir desgastado desse processo na visão da opinião pública, uma vez que ele tem sido um articulador ativo com lideranças do Centrão para destrancar e aprovar a votação da anistia aos envolvidos nos eventos de 8 de janeiro.
Com informações de Folha de S.Paulo
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