TÍTULO: Lula e Papa Leão XIV: Temas Cruciais em Reunião no Vaticano
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META DESCRIÇÃO: Lula e Papa Leão XIV se encontram no Vaticano para discutir justiça social, paz global, meio ambiente, democracia e IA. Saiba os detalhes da reunião histórica.
A aguardada reunião entre Lula e Papa Leão XIV está confirmada para esta segunda-feira, 13 de maio, no Vaticano. Este será o primeiro encontro oficial entre o líder brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o novo pontífice, que assumiu o comando da Igreja Católica em maio do ano passado como sucessor do Papa Francisco. O chefe de Estado brasileiro chegou a Roma para participar de um importante evento internacional, e a audiência papal integra sua agenda de compromissos na capital italiana.
O compromisso no Vaticano está programado para as 8h15 do horário local, que corresponde às 5h15 de Brasília. O local escolhido para a audiência é o Palácio Apostólico, residência oficial do Papa Leão XIV. De acordo com informações obtidas em caráter privado por fontes diplomáticas brasileiras, diversos tópicos de relevância global devem ser abordados durante o diálogo. Entre os principais assuntos estão a defesa da paz mundial, a promoção da justiça social, a proteção do meio ambiente, a manutenção da democracia e o impacto da Inteligência Artificial na sociedade moderna.
Lula e Papa Leão XIV: Temas Cruciais em Reunião no Vaticano
Para o presidente Lula, esta marca sua quarta vez em audiência papal ao longo de seus mandatos. Anteriormente, ele foi recebido no Vaticano pelos Papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco. A última visita de Lula a Roma ocorreu em abril do corrente ano, ocasião em que compareceu ao velório do Papa Francisco, que faleceu aos 88 anos em 21 de abril. A expectativa é que Leão XIV receba o presidente e a primeira-dama, Janja, inicialmente em uma audiência privada, que também deve contar com a presença do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Posteriormente, está prevista uma reunião ampliada, envolvendo outros representantes do Vaticano e a delegação brasileira.
Este encontro foi cuidadosamente articulado pelo governo brasileiro nos últimos dias, apesar das dificuldades impostas pela concorrida agenda do Papa Leão XIV, especialmente às vésperas do Fórum Mundial da Alimentação, organizado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O evento na capital italiana atrai numerosos chefes de Estado e representantes de governos estrangeiros, muitos dos quais manifestam o desejo de serem recebidos pelo pontífice. Observadores da diplomacia brasileira notaram que, embora o Papa Leão XIV não costume realizar audiências tão cedo pela manhã, ele abriu uma exceção ao pedido do Brasil, considerando o elevado número de solicitações recebidas.
Justiça Social e Combate à Pobreza: Eixo da Convergência
A preocupação com a justiça social e a luta contra a pobreza global emerge como um ponto central de conexão entre o presidente Lula e o Papa Leão XIV. Recentemente, o pontífice publicou a primeira Exortação Apostólica de seu papado, intitulada “Dilexi Te” (Eu Te Amei, em português). Este documento oficial da Igreja condena veementemente as estruturas econômicas desiguais e a persistente questão da fome no mundo. O papa, de nacionalidade americana naturalizado peruano, apela por uma profunda mudança de mentalidade em relação às populações marginalizadas, criticando um sistema econômico global que promove a desigualdade e uma “cultura do descarte”.
No texto, Leão XIV expressa sua grave preocupação: “Não devemos baixar a guarda diante da pobreza. Preocupam-nos, de modo particular, as graves condições em que vivem muitíssimas pessoas, devido à escassez de alimentos e água potável. Todos os dias morrem milhares de pessoas por causas relacionadas com a desnutrição”. Especialistas em diplomacia pontifícia e fontes internas sugerem que o lançamento desta Exortação Apostólica, combinado com a realização do Fórum Mundial da Alimentação, indica um forte interesse do Papa Leão XIV em dialogar com Lula sobre estratégias eficazes para combater a injustiça social e a fome. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva participa do Fórum Mundial da Alimentação, evento promovido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), onde a questão da segurança alimentar global é central, conforme abordagens em iniciativas globais da FAO.
O teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ressalta a familiaridade do pontífice com a realidade social e econômica da América Latina, após residir no Peru por mais de duas décadas (1985 a 2023) antes de assumir sua função no Vaticano. Para Moraes, essa vivência e uma notável “familiaridade ideológica” aproximam Leão XIV de Lula. Ele explica que “o PT foi, de alguma forma, influenciado pelos movimentos sociais que estavam presentes na Igreja Católica brasileira no final dos anos 70 e começo dos 80, entre eles a teologia da libertação”, movimento que também teve forte presença no Peru e em outros países latino-americanos. Dessa forma, existem conexões históricas, sociais e ideológicas que fortalecem o elo entre o presidente brasileiro e o atual pontífice.
Paz Global, Democracia e o Impacto da Inteligência Artificial na Pauta
Desde o início de seu papado, Leão XIV tem reiteradamente demonstrado um profundo compromisso com a defesa da paz. Em seu discurso inaugural na Praça de São Pedro, ele enfatizou a necessidade de construir pontes através do diálogo e do encontro, visando a uma coexistência pacífica. “A humanidade precisa de Cristo como ponte para ser alcançada por Deus e por seu amor. Nos ajudem, e ajudem uns aos outros, a construir pontes com diálogo, com encontros. Todos juntos, em um só povo, sempre em paz”, declarou o Papa na ocasião. Desde então, ele tem se manifestado ativamente contra conflitos mundiais, incluindo as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, bem como disputas como a da Caxemira, entre Índia e Paquistão.
Nesse contexto, membros da diplomacia brasileira e observadores do Vaticano acreditam que a luta pela paz será um tópico inegável na conversa com Lula. O vaticanista Filipe Domingues, diretor do Lay Centre e professor na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, aponta que, embora o Brasil não esteja diretamente envolvido nesses conflitos, suas posições frequentemente se alinham às da Santa Sé, especialmente em relação à guerra em Gaza. “O Lula fez uma defesa forte do multilateralismo nas Nações Unidas e a Santa Sé também defende isso de forma muito clara”, comenta Domingues, citando o discurso do presidente na Assembleia Geral da ONU em setembro. A defesa da democracia também é um tema de convergência. Gerson Leite de Moraes observa que o Vaticano tem, através de comunicados e declarações oficiais, reconhecido uma crise na democracia mundial. “E o Brasil é uma democracia forte que tem punido aqueles que atentaram contra a democracia”, complementa Moraes.

Imagem: g1.globo.com
Um diplomata ouvido reservadamente indica que, embora não se espere a menção de eventos políticos específicos, uma discussão geral sobre o fortalecimento da democracia deve fazer parte da pauta. Adicionalmente, há expectativas de que sejam abordadas as discussões sobre a regulamentação das redes sociais e, especialmente, a Inteligência Artificial (IA), tópicos que têm ganhado destaque na agenda da Igreja Católica. Em junho, o Papa Leão XIV ressaltou a necessidade de uma “governança global” para as novas tecnologias, alertando que estas não podem substituir o “discernimento moral” nem a riqueza das interações humanas. “A humanidade está numa encruzilhada, enfrentando o imenso potencial gerado pela revolução digital impulsionada pela Inteligência Artificial. O impacto desta revolução é de longo alcance, transformando áreas como educação, trabalho, arte, saúde, governança, forças armadas e comunicação”, afirmou o papa em um comunicado do Vaticano. Por fim, o teólogo e padre Dayvid da Silva, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), acrescenta que o Vaticano pode ter interesse em revisitar a questão da liberdade religiosa, tema reconhecido no acordo Brasil-Santa Sé de 11 de fevereiro de 2010, assinado durante o segundo mandato de Lula com o Papa Bento XVI.
Meio Ambiente e o Convite para a COP30 no Brasil
Outro pilar de diálogo será a questão ambiental. O Papa Leão XIV recebeu um convite oficial do governo brasileiro para participar da COP30, conferência do clima que será sediada em Belém, no Brasil, entre 10 e 21 de novembro. O convite foi formalizado pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em um evento recente realizado no Vaticano. O pontífice presidiu a abertura da conferência climática em Castel Gandolfo, na Itália, que celebrou o aniversário da encíclica ambientalista “Laudato Si'” de Francisco, e confirmou as expectativas de que seguirá o legado de seu antecessor na luta pela preservação ambiental e contra as mudanças climáticas.
Gerson Leite de Moraes enfatiza que “a questão climática interessa tanto a Lula quanto ao papa. E o próprio debate que vai ocorrer na COP no Brasil é importante para a Igreja Católica”. Embora o Papa Leão XIV ainda não tenha confirmado sua presença em Belém, com o governo brasileiro recebendo sinais de que sua agenda de novembro está bastante comprometida, o vaticanista Filipe Domingues sugere que Lula certamente reforçará o convite e aproveitará a oportunidade para discutir outros tópicos relacionados à COP30 e à crise climática global.
A Relevância da Igreja Católica no Brasil e a Agenda Diplomática
O cenário da Igreja Católica no Brasil, com sua redução numérica registrada pelo Censo do IBGE (de 74% em 2000 para 65% em 2010), é um tema de debate entre estudiosos e membros da própria Igreja, que expressam preocupação com a diminuição do engajamento religioso e a perda de relevância do catolicismo. No entanto, fontes diplomáticas reservadas indicam que essa questão específica não deverá ser tratada diretamente entre Lula e o Papa Leão XIV. Um diplomata afirmou que “esse é um tema que é mais tratado pela CNBB”, referindo-se à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Ainda assim, Gerson Leite de Moraes pondera que, apesar das pesquisas apontarem para uma queda na influência da Igreja e na frequência às cerimônias religiosas, o falecimento e o legado do Papa Francisco representaram uma “espécie de reavivamento” para a Santa Sé. “Muita gente entende que os posicionamentos de Francisco serviram para estancar a queda de fiéis na Igreja Católica”, observa o professor do Mackenzie. Essa análise sugere que, embora a demografia religiosa brasileira não seja um tema da audiência direta, o diálogo entre os líderes certamente abordará como os valores cristãos e sociais podem influenciar o futuro e a cooperação internacional.
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O encontro entre Lula e o Papa Leão XIV sublinha a convergência em temas cruciais para a agenda global, como justiça social, paz, democracia, meio ambiente e as novas tecnologias. Esta reunião no Vaticano reafirma o papel diplomático do Brasil e o alinhamento em pautas humanitárias com a Santa Sé, promovendo um diálogo que busca soluções para os desafios contemporâneos. Para se manter informado sobre as relações internacionais do Brasil e outras análises políticas, continue acompanhando a editoria de Política do Hora de Começar.
Crédito da imagem: Foto: EPA/Shutterstock via BBC
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