O governo federal deu um passo decisivo na infraestrutura brasileira ao lançar o primeiro edital de licitação visando a retomada das obras da Transnordestina em Pernambuco. A notícia, divulgada nesta sexta-feira, dia 31, marca o início formal do processo para concluir um dos trechos cruciais da ferrovia que promete transformar a logística do Nordeste.
O documento, que oficializa o processo licitatório, foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) e especifica um percurso de 73 quilômetros. Este segmento conecta os municípios de Custódia, onde as atividades de construção haviam sido paralisadas, e Arcoverde, ambos localizados no Sertão de Pernambuco. O investimento total previsto para essa fase da ferrovia Transnordestina soma impressionantes R$ 415 milhões, evidenciando o comprometimento federal com a infraestrutura regional.
Governo lança licitação para obras da Transnordestina em PE
A Transnordestina é concebida como um vetor primordial para a interligação econômica da Região Nordeste, conectando os portos estratégicos de Suape (Pernambuco) e Pecém (Ceará) ao polo agrícola de Eliseu Martins (Piauí). Seu propósito é facilitar o escoamento de grãos, minério de ferro e uma vasta gama de outros produtos, impulsionando o comércio e o desenvolvimento. Em Pernambuco, o ramal se estende desde Salgueiro, no Sertão, até o Porto de Suape, representando um corredor logístico vital para o estado e para o fluxo comercial da região. Em uma decisão polêmica do governo anterior, o trecho pernambucano foi retirado do projeto, desencadeando nos últimos meses uma grave crise política. Esta situação culminou na saída de Danilo Cabral do comando da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), após intensa pressão de líderes políticos e empresariais, sobretudo do Ceará.
O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), criticou veementemente a exclusão de Pernambuco do projeto. Em entrevista à TV Globo, ele questionou a lógica econômica da decisão: “Como é que você vai trabalhar o desenvolvimento do Nordeste e você deixa Pernambuco de fora? Um estado que tem uma população grande, tem um dos principais portos da região. Isso não tinha qualquer sentido econômico. Era quase como uma punição a Pernambuco”, declarou o ministro.
Renan Filho detalhou os próximos passos do processo. Segundo suas previsões, a licitação, que inclui a seleção da empresa responsável pela execução da obra, será concluída dentro de dois a três meses. A assinatura da ordem de serviço está agendada para o início de 2026. A estimativa é que o trajeto até Suape, fundamental para o escoamento, seja finalizado em 2030, posicionando-se três anos após a expectativa de conclusão dos trechos nos estados do Piauí e Ceará.
Adicionalmente, o ministro explicou que o trecho pernambucano da Transnordestina será dividido em quatro etapas distintas, com o percurso Custódia-Arcoverde sendo o primeiro a receber a licitação. O restante do ramal, que soma aproximadamente 300 quilômetros, será objeto de mais três editais de licitação que deverão ser publicados ao longo do próximo ano. “Os trechos do Piauí e do Ceará ficarão prontos 100% em 2027. Se a gente levar quatro anos a partir de 2026, o trecho de Pernambuco ficará pronto em 2030. Acho que esse deve ser um limite para gente não se atrasar tanto com relação aos outros estados. E esse atraso de Pernambuco ocorreu justamente pela retirada do estado da estratégia de desenvolvimento do Nordeste, que o presidente Lula agora resolveu ao reinserir Pernambuco”, enfatizou Renan Filho, reiterando a correção de uma decisão estratégica equivocada.
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), expressou sua surpresa com a supressão do trecho pernambucano da ferrovia, uma informação que recebeu logo após assumir o governo. “A Transnordestina foi retirada do contrato da empresa privada que fazia a obra no finalzinho de 2022 e, quando eu chego no governo de Pernambuco, fui surpreendida”, afirmou a governadora. Ela ressaltou o empenho conjunto com o presidente Lula, o ministro Renan Filho e diversas lideranças políticas e da sociedade pernambucana, “exigindo de volta algo que não se trata de uma decisão empresarial, mas de uma estratégia de desenvolvimento integrado do Nordeste”.
Lyra informou ainda que a parte interna da ferrovia no Porto de Suape está com seu projeto de continuidade já concluído. “A gente tem tido reuniões semanais com o time do governo federal, para que a gente pudesse ajustar o projeto para que pudesse ser licitado como obra pública, como está sendo, e fazer a própria parte nossa, no que diz respeito ao trajeto interno da ferrovia dentro do Porto de Suape. Não existe o projeto executivo. Ele está pronto para licitar e, quando chegar o momento certo, a gente vai poder tocar essa obra”, detalhou, mostrando o avanço nos preparativos locais.

Imagem: g1.globo.com
Retomada e Desafios da Ferrovia Transnordestina
A oficialização desta licitação consolida o anúncio de retomada das obras da Transnordestina em Pernambuco, feito em setembro. Na ocasião, os ministros Renan Filho (MDB) e Silvio Costa Filho (Republicanos), de Portos e Aeroportos, estiveram em Brasília para uma reunião com mais de 20 prefeitos do estado, onde formalizaram a volta do projeto. A ferrovia Transnordestina, cuja construção iniciou-se em 2006 com previsão de conclusão em 2010, foi palco de inúmeras paralisações e atrasos ao longo dos anos, gerando grande expectativa pela sua finalização. Segundo dados do Ministério dos Transportes, a interligação logística é fundamental para o escoamento da produção da região.
Em agosto, Danilo Cabral havia comunicado seu desligamento do comando da Sudene, mencionando “questões de caráter regional” relacionadas às obras da Transnordestina. Ele explicou que sua saída ocorreu em meio a intensas pressões de lideranças políticas de outros estados, com destaque para o Ceará, que insistiam na retomada das obras sem o trecho pernambucano entre Suape e Salgueiro. Em abril, a Sudene havia sediado um evento crucial para discutir a execução das obras em Pernambuco e buscar soluções para os impasses. Naquele período, líderes políticos cearenses, incluindo o governador Elmano de Freitas (PT), criticaram a gestão de Cabral na Sudene e, supostamente, teriam articulado sua saída junto ao ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT).
Um dos maiores obstáculos historicamente apontados para o progresso das obras da ferrovia Transnordestina em Pernambuco era a necessidade de desapropriações de terras e imóveis. No entanto, o ministro Jader Filho ressaltou que esse fator não pode ser uma justificativa para “abandonar” o ramal pernambucano da Transnordestina. “Nós vamos promover essas desapropriações – obviamente, para fazer uma ferrovia, é preciso fazer desapropriações”, afirmou o ministro, contextualizando a questão. Ele reconheceu a complexidade de partes do traçado: “A parte mais difícil é a parte mais próxima da Região Metropolitana, porque tem vários mananciais, rios, áreas de proteção ambiental, alguns conjuntos habitacionais que foram construídos, o avanço do polo industrial”. Contudo, o ministro assegurou: “Entretanto, todas essas questões certamente podem ser resolvidas, têm solução no campo da engenharia e precisam ser implantadas”, indicando a confiança na superação dos desafios técnicos e ambientais.
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A retomada das obras da Transnordestina em Pernambuco representa um investimento significativo e estratégico para o desenvolvimento regional, prometendo impulsionar a economia e a logística. A finalização do projeto é vista como um marco essencial para o escoamento de mercadorias e a integração do Nordeste. Para continuar acompanhando de perto os desdobramentos desta e outras notícias relevantes para a política e economia da região, explore nossa editoria de Política e fique por dentro.
Foto: Wagner Sarmento/TV Globo


