O chanceler russo, Sergei Lavrov, negou veementemente na Organização das Nações Unidas (ONU) neste sábado (27) qualquer envolvimento da Rússia nos recentes e preocupantes sobrevoos de drones que têm ocorrido sobre bases militares e aeroportos em diversas nações da Europa, membros da Otan. Enquanto países europeus acusam Moscou de promover um “ataque híbrido”, a liderança russa refuta categoricamente essas imputações.
Durante sua participação na Assembleia Geral da ONU, Lavrov rebateu as alegações, afirmando que a “Rússia está sendo acusada de quase planejar um ataque à Aliança do Atlântico Norte (Otan) e aos países da União Europeia”. Ele destacou que o presidente Vladimir Putin “tem repetidamente desmentido essas provocações”, numa declaração proferida diante de uma plateia visivelmente esvaziada, repetindo um cenário observado no dia anterior durante a fala do premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
Lavrov nega ataque com drones na Europa em fala à ONU
A tensão em torno da suposta “crise dos drones” na Europa intensificou-se nas últimas semanas. Na sexta-feira (26), um novo incidente marcou a maior base militar da Dinamarca, Karup, no norte do país, onde aeronaves não tripuladas de origem não identificada foram avistadas sobrevoando o local por “várias horas”, conforme relato de Simon Skelsjaer, oficial de polícia local, à agência AFP. Embora não tenham sido abatidos, os drones provocaram o breve fechamento do aeroporto de Midtjylland, nas proximidades. A polícia dinamarquesa e o Exército iniciaram uma investigação.
Essa série de sobrevoos sobre o espaço aéreo dinamarquês e de outros países europeus tem gerado suspeitas de uma ofensiva coordenada. As autoridades locais consideram esses incidentes parte de um “ataque híbrido”, atribuindo a autoria à Rússia, que por sua vez, insiste em negar qualquer participação. A ocorrência na Dinamarca sucede em poucos dias o anúncio do país nórdico, membro da Otan, de que passaria a adquirir armas de precisão de longo alcance pela primeira vez, justificando a medida pela percepção de uma “ameaça russa nos próximos anos”.
Diante do crescente número de ameaças e da escalada de incidentes, ministros da Defesa de nações do leste europeu convergiram na sexta-feira (26) em torno da criação de um “muro antidrones”. Este sistema de defesa, planejado para integrar avançadas capacidades de rastreamento e interceptação de equipamentos aéreos não tripulados, foi elevado a prioridade do bloco. A questão dos drones figura como um dos tópicos centrais da cúpula de líderes da União Europeia, que terá início em Copenhague a partir de quarta-feira, 1º de outubro.
O ministro da Defesa da Alemanha, Alexander Dobrindt, também se pronunciou neste sábado (27), classificando como alta a ameaça representada por drones não identificados que sobrevoam pontos estratégicos na Europa. Ele garantiu que o Exército alemão, uma das maiores forças da União Europeia, adotará “medidas para se defender”.
Representantes da União Europeia intensificam as discussões sobre o “muro antidrone”, com dez países situados na fronteira leste do bloco, em colaboração com membros da Ucrânia e da Otan, já concordando com a estrutura de tal escudo. Andrius Kubilius, comissário europeu da Defesa, ressaltou a “necessidade de agir rapidamente” e construir o sistema “aprendendo todas as lições da Ucrânia”, priorizando a criação de um “sistema de detecção de drones eficaz”. O projeto busca estabelecer uma política industrial e financeira para sua implementação.
No início de setembro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a Europa “deve atender ao chamado de nossos amigos bálticos e construir uma muralha de drones”. Von der Leyen revelou que 6 bilhões de euros (equivalente a 7 bilhões de dólares) seriam alocados para formar uma aliança de drones com a Ucrânia, país cujas forças armadas utilizaram esses equipamentos com sucesso na guerra. Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia já trabalhavam em iniciativas semelhantes, embora a Comissão Europeia tenha recusado em março um pedido conjunto da Estônia e Lituânia por recursos para sua criação.
Ações de defesa já estão em curso. O Exército dinamarquês, por exemplo, tem posicionado radares móveis próximos a bases militares. Peter Hummelgaard, ministro da Justiça dinamarquês, anunciou recentemente que o país vai adquirir novas capacidades para detectar e neutralizar drones. Na sexta-feira, o governo da Dinamarca aceitou a oferta da Suécia de fornecer tecnologia antidrones para reforçar a segurança durante a cúpula de chefes de governo europeus. Incidentes similares, com sobrevoos de drones não identificados, foram reportados também em setembro na Polônia e na Romênia.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, por meio de uma mensagem em vídeo na quinta-feira (25), afirmou que seu país foi “vítima de ataques híbridos”, caracterizando a ação como uma forma de guerra não convencional e atribuindo diretamente a responsabilidade à Rússia, a qual ela designou como “um país que representa uma ameaça à segurança da Europa”.
Em resposta, a Embaixada da Rússia em Copenhague rejeitou “firmemente” qualquer implicação nos incidentes na Dinamarca. Em mensagem veiculada nas redes sociais, Moscou classificou os eventos como uma “provocação encenada”. Segundo o ministro da Justiça dinamarquês, Peter Hummelgaard, a intenção por trás desses ataques seria “semear o medo, criar divisões e nos assustar”.
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O debate em torno da autoria e das motivações dos recentes sobrevoos de drones na Europa, e as iniciativas para criar defesas contra esses equipamentos, como o “muro antidrones”, continuam a pautar as agendas de segurança e política externa dos países. Mantenha-se informado sobre os desdobramentos dessa questão vital para a segurança continental acessando nossa editoria de Política para mais análises e notícias aprofundadas.
Foto: Steven Knap/Ritzau Scanpix via AP
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