O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) oficializou a homologação do plano de recuperação extrajudicial do Grupo St Marche, confirmando um passo decisivo para a reorganização financeira da renomada rede de supermercados. A decisão judicial formaliza o acordo estabelecido pela companhia, visando equacionar uma dívida significativa de R$ 528,3 milhões, valor reportado em abril quando a empresa buscou amparo legal para sanar suas pendências financeiras.
O processo de reestruturação envolveu a criação de um plano abrangente que não apenas estende os prazos de pagamento de suas obrigações, mas também prevê a injeção de capital por meio de um financiamento DIP (Debtor-in-Possession). Esse tipo de empréstimo, projetado especificamente para empresas em dificuldades financeiras, poderá totalizar até R$ 127,5 milhões, viabilizado pela emissão de debêntures. A iniciativa busca oferecer a liquidez necessária para que o grupo possa estabilizar suas operações e assegurar a continuidade de seu negócio no competitivo setor varejista brasileiro.
Justiça Homologa Recuperação Extrajudicial do Grupo St Marche
Para os credores que não optaram por aderir ao modelo de financiamento DIP, as amortizações das dívidas serão estruturadas em fases distintas. A primeira fase incluirá a quitação de 25% do valor total, acompanhada de um período de carência de cinco anos, conforme os termos da 1ª e 2ª séries da emissão das debêntures. Os 75% restantes da dívida, por sua vez, serão amortizados com um período de carência substancialmente mais longo, estendendo-se por três décadas, medida que reflete a necessidade premente de alívio no fluxo de caixa da rede.
Condições e Contestações do Plano de Recuperação
Apesar da aprovação judicial, o plano do St Marche não foi unanimidade entre as partes envolvidas. O Ministério Público e um número considerável de credores manifestaram forte descontentamento tanto com os extensos prazos de pagamentos propostos quanto com as condições financeiras gerais do plano. Instituições bancárias de relevância, como o Banminas, Crefisa, Credifort Securitizadora e Banco do Brasil, classificaram os prazos como excessivos e desproporcionais, com o Credifort chegando a descrever o arranjo como uma “moratória disfarçada”, evidenciando a intensidade da discórdia em torno da proposta.
Paralelamente às negociações do plano, a rede supermercadista conseguiu obter dois aportes financeiros adicionais que somaram R$ 90 milhões, fora do escopo do processo de recuperação extrajudicial. Esses recursos foram estrategicamente direcionados para o adiantamento de pagamentos a fornecedores e o reabastecimento das gôndolas das lojas, garantindo a manutenção da operação essencial. As contribuições vieram do fundo L Catterton, antigo acionista controlador da rede até abril, e do BTG Pactual, que administra um fundo credor detentor de mais de 50% da dívida total do St Marche, demonstrando uma aposta estratégica na capacidade de reestruturação da empresa.
Origens da Crise e Reações do Mercado
As razões que levaram o Grupo St Marche a protocolar o plano em abril, perante a 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do TJ paulista, foram detalhadas pela administração. Dentre os fatores apontados, figuram a contratação de financiamentos com taxas de juros que experimentaram aumentos inesperados, o fracasso de planos anteriores de abertura de capital no mercado financeiro, a paralisação do plano de expansão e o impacto geral da alta da inflação no poder de compra e na margem de lucro.
Os controladores também salientaram que o escândalo contábil da Americanas reverberou de forma drástica no cenário creditício nacional, provocando uma mudança acentuada no comportamento dos credores. Essa nova postura resultou em cortes significativos em operações de “risco sacado”, mecanismo de adiantamento de recebíveis amplamente empregado no varejo brasileiro para garantir o capital de giro, agravando as dificuldades de financiamento para empresas já vulneráveis. Para aprofundar a compreensão sobre os processos de reestruturação de dívidas, pode-se consultar conteúdos em fontes respeitadas, como os que detalham a recuperação judicial e seus aspectos financeiros, oferecidos por instituições como a Serasa Experian.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Otimismo da Liderança e Dados Operacionais
Em comunicado oficial, Bernardo Ouro Preto, CEO do Grupo St Marche, manifestou satisfação com a agilidade na homologação da recuperação extrajudicial do St Marche. “Protocolamos a RE em abril deste ano e a homologação veio em pouco tempo quando comparamos com os padrões de mercado,” destacou o executivo. Para Ouro Preto, a celeridade do processo é um “demonstrativo da confiança da cadeia produtiva no plano estruturado pelo grupo e a reputação da marca conquistada ao longo dos 23 anos de atuação,” evidenciando a resiliência e o reconhecimento da empresa no setor.
Fundado no ano de 2002, o grupo hoje controla 32 unidades sob as marcas St Marche e Santa Maria Empório. Complementam a estrutura operacional um centro de distribuição estratégico e um escritório central, consolidando uma equipe de mais de 2.300 colaboradores, números que reforçam sua envergadura e importância no mercado de supermercados.
Mesmo em fase de reestruturação, o St Marche demonstra controle sobre seus indicadores de performance. Segundo dados da Neogrid, que avalia a falta de produtos nas gôndolas do país, o índice de ruptura nacional fechou em 13,1% em agosto. Em contraste, as unidades do St Marche registraram um índice de apenas 10%, sugerindo uma gestão de estoque relativamente mais eficaz e a capacidade da empresa de manter suas operações essenciais e o abastecimento de suas lojas, mesmo em períodos desafiadores.
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A homologação da recuperação extrajudicial do Grupo St Marche representa um divisor de águas na trajetória da empresa, delineando um novo capítulo para a rede varejista. Com a renegociação da dívida e aportes de capital que reforçam seu fluxo financeiro, o grupo aspira a solidificar sua posição de mercado e assegurar a perenidade de suas atividades. Para seguir acompanhando as principais notícias sobre o setor de finanças e entender os movimentos da economia, convidamos nossos leitores a explorar nossa editoria de Economia, onde análises aprofundadas e informações atualizadas são publicadas diariamente.
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