Uma equipe de pesquisadores do curso de Geologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR) identificou recentemente rochas e argilas contendo elevada concentração de elementos de terras raras em uma área particular situada no município de Caracaraí, ao Sul do estado de Roraima. Minerais que se caracterizam por serem terras raras são cruciais para a indústria tecnológica global, e agora a investigação se concentra em determinar a existência de uma jazida significativa no local.
Os elementos de terras raras (ETRs) constituem um grupo de 17 elementos químicos naturalmente presentes no solo ou misturados a outros minérios nas rochas, e possuem um valor comercial considerável. A propriedade em questão, conhecida como Complexo Mineral Barreira, está localizada na zona rural de Caracaraí, a aproximadamente 140 quilômetros da capital Boa Vista. Com uma extensão de 36 hectares, equivalente a cerca de cinquenta campos de futebol, a área pertence ao advogado Gustavo Hugo de Andrade, de 34 anos, e ao empresário Lucergio Barreira Abreu da Silva, de 46.
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Investigação Liderada por Especialistas da UFRR
O estudo atual está sendo conduzido por três proeminentes pesquisadores da UFRR: Vladimir de Souza, doutor em bioestratigrafia; Carlos Eduardo Lucas Vieira, doutor em geociências; e Lorena Malta Feitosa, mestre em geofísica e doutoranda na mesma área. Eles iniciaram suas análises em agosto de 2025, após serem convidados pelos proprietários do terreno. A pesquisa se encontra na fase de caracterização mineralógica, que tem como objetivo primordial identificar a composição e a quantidade de minerais presentes nas amostras coletadas.
As primeiras análises do solo revelaram resultados excepcionais, com níveis extraordinariamente altos de elementos de terras raras, além de outros minerais críticos que são essenciais para diversos setores estratégicos, como a tecnologia moderna e a transição energética global.
Concentrações Elevadas e Indícios Promissores
Conforme explicou o pesquisador Vladimir de Souza, embora a ocorrência de terras raras em Roraima não seja inédita, a concentração observada na propriedade em Caracaraí supera significativamente os padrões normalmente encontrados em outras localidades. “A ocorrência e os valores desta ocorrência estão bem acima do normal encontrado. Então, você encontra [elementos com teores] 100 vezes acima do que é normal”, destacou Vladimir em entrevista. Ele acrescentou que outras ocorrências no estado tendem a ser menores e com a presença de um único elemento em alta quantidade, enquanto nesta área foram detectados múltiplos elementos com altíssima concentração.
Um dos elementos identificados, o ítrio, um metal vastamente empregado na fabricação de uma ampla gama de eletrônicos, apresentou uma concentração notável de 296 partes por milhão (ppm). Este valor é considerado muito acima da média pelos pesquisadores, especialmente quando comparado com a presença do mesmo elemento em solos de outras regiões.
“Nossa grande questão agora é descobrir se esses teores se mantêm ao longo do corpo e que tamanho tem esse corpo, porque daí a gente vai poder dizer o quanto que existe de um determinado depósito”, detalhou o pesquisador Carlos Eduardo, ressaltando a próxima etapa crítica do trabalho.
Processo de Confirmação de Jazida Mineral
Para confirmar oficialmente a existência de uma jazida mineral, os pesquisadores seguem um rigoroso processo dividido em várias etapas científicas.
O Que é Uma Jazida?
Uma jazida é definida como uma área geológica que contém um depósito natural de elementos minerais ou fósseis com valor econômico que justifica a sua exploração.
O trabalho tem início com o mapeamento de superfície, onde geólogos visitam o campo para coletar amostras e analisar sua composição química. Em seguida, são aplicadas técnicas de geofísica, que fornecem informações sobre as propriedades físicas do subsolo sem a necessidade de escavação invasiva inicial. As etapas posteriores incluem perfurações, sondagens, aberturas de trincheiras e poços para acesso direto às camadas mais profundas. Após essa fase, é realizada a cubagem, um procedimento técnico que calcula o volume e a quantidade do corpo mineralizado. Somente se o estudo comprovar viabilidade econômica, a área será oficialmente classificada como uma jazida.
“Aí deixa de ser uma ocorrência para ser uma jazida, um depósito […] Para confirmar uma jazida são necessárias várias pesquisas geológicas, iniciadas pelo mapeamento de superfície, que os geólogos vão lá bater martelo, como a gente fala, e fazer coleta para a química. Depois, se utiliza a geofísica e por fim se faz furos, sondagens, trincheiras, poços e por aí vai. Se tiver um valor econômico, ele é considerado como uma jazida”, complementou Lorena Feitosa. O estudo tem como finalidade tanto mapear a ocorrência desses minerais quanto verificar a viabilidade técnica e econômica de sua extração. Apesar de ainda não haver um vínculo oficial direto com a UFRR, os pesquisadores informaram que a formalização de um termo de acordo de cooperação está prevista para ser firmada em breve.
O Material Brilhoso que Despertou o Interesse
As investigações do solo do Complexo Mineral Barreira tiveram início em junho de 2025, com pesquisas privadas e análises laboratoriais preliminares em Caracaraí. O que inicialmente chamou a atenção dos proprietários foi a presença de um material com brilho metálico na superfície do terreno.
“Nossa área aflora um material brilhoso na superfície, uma argila com mica brilhosa. Em razão disso, iniciamos as análises geoquímicas e todas apontaram para essas terras raras e outros minérios estratégicos. O afloramento desse material em toda a superfície motivou as pesquisas, até por uma eventual viabilidade econômica de extração”, explicou o proprietário Gustavo ao g1, destacando a motivação para aprofundar os estudos.
A área já passou pelo processo de licenciamento para pesquisa privada, com a devida autorização do Conselho de Defesa Nacional e um alvará de pesquisa emitido em junho de 2025 pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Foram delimitados diversos quadrantes com perfurações, cujas amostras foram coletadas e testadas, confirmando os resultados iniciais. “Estamos concluindo o relatório com a geofísica e o próximo passo é a cubagem, onde quantificaremos o potencial completo dessa área de 36 hectares, autorizada para pesquisa”, afirmou Gustavo.
O objetivo dos proprietários é obter as licenças ambientais necessárias junto à Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Roraima (Femarh) e à ANM para iniciar as operações de mineração, que visam gerar empregos na região e avançar para a exploração e comercialização dos minérios. Até o momento, as investigações privadas já efetuaram a abertura de 13 pontos de perfuração, estrategicamente distribuídos em locais onde o material aflora. As trincheiras abertas variam entre um metro de largura por até três metros de comprimento, com profundidades de 50 centímetros a três metros. Em certas áreas onde o minério se mostrou presente em maior profundidade, as escavações alcançaram até sete metros.
A Essência das Terras Raras: Minerais de Valor Estratégico
Os elementos de terras raras compõem um grupo fundamental de 17 elementos químicos: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hálmio, érbio, escândio, túlio, itérbio, lutécio e ítrio. Embora o nome sugira escassez, esses minerais não são inerentemente “raros”, mas sim desafiadores para serem isolados em alta pureza, o que torna o processo de extração e beneficiamento custoso e tecnicamente complexo. O principal desafio consiste em identificar depósitos ou jazidas onde a extração seja economicamente viável.
Estes minérios são considerados indispensáveis para a fabricação de componentes e tecnologias avançadas, como turbinas eólicas, motores de veículos elétricos, cabos de transmissão de energia de alta eficiência, foguetes, equipamentos médicos sofisticados e dispositivos eletrônicos de última geração.
Além disso, os elementos de terras raras possuem relevância crítica para a indústria de defesa, sendo aplicados em aeronaves de caça, submarinos e equipamentos de telêmetro a laser. Essa importância estratégica é um dos fatores que impulsionam o seu elevado valor comercial no mercado global.
O Potencial do Brasil em Terras Raras
O Brasil detém a segunda maior reserva mundial de terras raras, apenas atrás da China, com um volume estimado em 21 milhões de toneladas. Este número corresponde a cerca de 23% do total global, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia (MME).
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Um levantamento realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) indicou que um total de 12 estados brasileiros apresentam potencial para a presença de terras raras em seu subsolo, incluindo Roraima. Essas são regiões que estão sob investigação para confirmar a existência desses minerais ou onde já foram descobertos depósitos, como é o caso de Goiás e Minas Gerais, que já possuem jazidas confirmadas. A pesquisa em Caracaraí adiciona Roraima a esta lista de locais promissores no cenário mineral estratégico nacional.
Fonte: g1.globo.com
Imagem: que os EUA se importam com elas via g1.globo.com
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