O Japão enfrenta clima extremo com o verão de 2025 entrando para a história como o período mais quente já registrado no arquipélago. Entre os meses de junho e agosto, a nação asiática presenciou um calor sem precedentes, com as temperaturas médias superando em 2,36°C o padrão observado desde 1898, quando o monitoramento começou. Este cenário de calor intenso levanta sérias preocupações sobre os efeitos persistentes do aquecimento global na região e em todo o planeta.
Os dados revelados pela Agência Meteorológica do Japão (JMA) são alarmantes, com 123 estações meteorológicas em todo o país reportando recordes térmicos. Um dos marcos mais expressivos foi alcançado na cidade de Isesaki, que registrou um pico nacional de 41,8°C em 5 de agosto, evidenciando a intensidade dessa onda de calor. A frequência de dias com temperaturas acima de 40°C também bateu todos os registros anteriores, totalizando 30 ocorrências, uma elevação drástica comparada às 17 registradas em 2018, que até então era o recorde anual.
Japão enfrenta clima extremo com verão recorde em 2025
Apesar do término oficial do verão, as temperaturas elevadas persistiram, impactando o início do outono japonês. No último domingo de setembro, a cidade sulista de Kagoshima ainda marcava 35°C, um valor extraordinário para a época. Mais de 30 outras localidades igualmente reportaram recordes de temperatura para o mês de outubro, sinalizando que a anomalia térmica de 2025 não se restringiu aos meses tradicionalmente quentes, mas se estendeu, transformando a dinâmica climática do país de maneira notável.
De acordo com Yoshihiro Iijima, professor de climatologia da Universidade Metropolitana de Tóquio, a explicação fundamental para essa elevação térmica é o aquecimento global. O professor detalhou à DW que, em 2025, o Oceano Pacífico e o Mar do Japão, ambos adjacentes às ilhas nipônicas, registraram superfícies com temperaturas muito elevadas. Essa condição, somada a uma umidade acima da média e ao aquecimento do ar sobre o continente, criou o que ele chamou de “tempestade perfeita”.
Iijima acrescentou que um sistema de alta pressão exerceu influência por um período prolongado durante o verão, intensificando o aquecimento das águas oceânicas. Paralelamente, uma corrente de jato subtropical se moveu consideravelmente em direção ao Polo Norte, exacerbando o cenário. Essas variáveis combinadas foram determinantes para os recordes de calor observados. A preocupação é ainda maior porque o Japão tem batido recordes por três anos consecutivos, caracterizando uma tendência extremamente alarmante para os climatologistas, que observam elevações térmicas muito além do gradual.
Diante das circunstâncias extremas, a Agência Meteorológica do Japão (JMA) instituiu um Painel Consultivo sobre Eventos Climáticos Extremos para uma análise aprofundada da situação. O estudo, divulgado no final de setembro, concluiu que os recordes registrados no verão de 2025 “virtualmente nunca teriam acontecido sob a suposição de ausência de efeitos do aquecimento global”. A pesquisa reforça que médias de calor inéditas foram observadas por três anos seguidos, de 2023 a 2025, superando consideravelmente a tendência linear esperada com base no período de 1995 a 2024. A Organização Meteorológica Mundial (OMM), por exemplo, oferece dados e análises cruciais sobre as transformações globais no clima, ressaltando a urgência de ações para mitigar seus efeitos: https://public.wmo.int/pt/nossa-história/mudaças-climáticas
As consequências desse calor incessante se estendem a diversos setores do país. O professor Iijima aponta para impactos severos na agricultura japonesa, especialmente na produção de arroz, uma vez que a cultura é sensível ao calor excessivo e à escassez de água. Além disso, o setor pesqueiro já nota uma diminuição nas capturas, com espécies tradicionais migrando para regiões mais frias. Para a população, os efeitos são diretos e preocupantes: mais de 100 mil pessoas foram hospitalizadas entre 1º de maio e o início de outubro de 2025 para tratar insolação. Este número representa um aumento de 4% em relação ao ano anterior, que já havia sido considerado um recorde, com idosos sendo a faixa etária mais vulnerável à combinação de temperaturas elevadas e alta umidade.

Imagem: g1.globo.com
Iijima também alertou para a relação entre o calor extremo e o surgimento de tufões mais potentes. Exemplos recentes incluem o tufão Nakri, que atravessou o arquipélago de Izu, ao sul de Tóquio, em uma segunda-feira, apenas uma semana após o tufão Halong ter atingido a mesma área. A primeira tempestade resultou em uma morte, danificou edifícios e provocou deslizamentos de terra, com ventos alcançando 180 km/h e chuvas incomuns. O especialista explicou que as altas e persistentes temperaturas da água em torno do Japão prolongam a vida desses tufões, tornando-os mais fortes e destrutivos. Com o agravamento do aquecimento, espera-se que essas tempestades se tornem ainda mais perigosas no futuro.
Pesquisas conduzidas por uma equipe liderada por Yoshihiro Tachibana, professor do Departamento de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade de Mie, reforçam essas preocupações. O estudo revelou que, entre 1982 e 2023, os verões japoneses se estenderam em aproximadamente três semanas devido às alterações climáticas. Tachibana esclarece que isso se deve ao aquecimento global e ao constante aumento das temperaturas marinhas nas proximidades do Japão, onde o aquecimento ocorre duas ou três vezes mais rápido que em outras partes do mundo.
Este fenômeno é intensificado pelos ventos ocidentais mais quentes e pela Corrente Kuroshio, que transporta água do Pacífico tropical para a região. Embora os invernos se mantenham relativamente estáveis devido à influência dos ventos árticos, o outono e a primavera no Japão estão encolhendo. Tachibana projeta que, a menos que medidas significativas sejam tomadas contra os efeitos do aquecimento global, estas estações intermediárias poderão desaparecer em apenas 30 anos, transformando o Japão em uma “nação de apenas duas estações”.
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Em suma, os dados alarmantes de 2025 no Japão, com um verão de calor recorde, temperaturas que se estenderam até o outono e uma intensificação de eventos climáticos extremos como tufões, servem como um alerta global para os impactos urgentes das mudanças climáticas. O país vivencia na prática os desafios impostos por um clima em constante transformação, evidenciando a necessidade crítica de discussões e ações para mitigar essas consequências em um futuro próximo. Para aprofundar-se em questões climáticas e suas implicações para o futuro, continue acompanhando as análises exclusivas em nossa editoria: https://horadecomecar.com.br/categorias/analises
Crédito da imagem: Louise Delmotte/AP Photo/picture alliance



