Projetos estratégicos em diversas regiões brasileiras, como um complexo de energia solar no Ceará, uma operadora de mineração no Amazonas e novas unidades fabris na Bahia, compartilham uma característica em comum: o financiamento proveniente de companhias chinesas. Em 2024, o Brasil registrou um volume notável de US$ 4,18 bilhões (aproximadamente R$ 22 bilhões) em investimentos concretizados por multinacionais da China, conforme dados recentes compilados pelo Conselho Empresarial Brasil China (CEBC).
Este montante é fruto de 39 iniciativas implementadas, um número recorde desde o início do levantamento do CEBC em 2010. Em uma análise comparativa com os resultados de 2023, o valor total dos aportes em 2024 demonstrou uma ascensão expressiva de 113%. Estes investimentos produtivos foram distribuídos por 14 dos 26 estados brasileiros, evidenciando uma expansão geográfica significativa.
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De acordo com Tulio Cariello, que atua como diretor de pesquisa no CEBC, o estudo se concentra especificamente em investimentos produtivos que se encontram em estágio de execução no período analisado. Propostas apenas anunciadas ou em fase de estudo preliminar não são incluídas nesta contabilização, assegurando a fidelidade aos projetos que efetivamente geraram impacto econômico e infraestrutural. A expansão para novas áreas é um sinal importante para a economia.
A Descentralização dos Investimentos e a Ascensão Regional
Um dos aspectos mais marcantes dos aportes chineses recentes no território brasileiro é a sua crescente descentralização. Embora a região Sudeste do país ainda mantenha a primazia na atração desses recursos, há uma clara emergência de outras localidades. Tulio Cariello observa uma “diversificação nas regiões que recebem empresas da China”, indicando que “ainda há concentração no Sudeste, mas temos exemplos em localidades menos óbvias.”
Diversos estados, que não haviam sido destinatários de investimentos chineses em 2023, foram incluídos na lista em 2024. Entre eles, destacam-se: Paraná, Amazonas, Rio de Janeiro, Tocantins e Maranhão. Esta dispersão geográfica reflete um interesse crescente por novas fronteiras de desenvolvimento no país. Por outro lado, a concentração continua relevante em grandes centros econômicos.
Os estados que receberam o maior número de projetos durante o ano passado são:
- São Paulo: 15 projetos
- Minas Gerais: 6 projetos
- Rio Grande do Sul: 4 projetos
- Mato Grosso do Sul: 4 projetos
A liderança de São Paulo e Minas Gerais na captação de iniciativas sublinha a relevância dessas economias estaduais na atração de capital estrangeiro, mas a presença forte do Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul também aponta para o dinamismo do Sul e Centro-Oeste.
Foco em Setores Chave: Energia e Automobilístico
A análise setorial dos investimentos chineses no Brasil em 2024 revela uma clara predileção por segmentos específicos da economia, que representam áreas estratégicas para o desenvolvimento e a infraestrutura nacional. O setor de eletricidade foi o maior receptor, capturando uma fatia significativa de US$ 1,43 bilhão, o que equivale a 34% do total investido.
Em segundo lugar, o setor de petróleo atraiu aportes de US$ 1 bilhão, correspondendo a 25% dos investimentos chineses no período. Essa concentração nesses dois segmentos ressalta a busca por oportunidades em energia e recursos naturais, pilares da economia brasileira e setores onde o capital chinês historicamente tem tido uma participação proeminente. Esses valores robustos demonstram a confiança no potencial desses mercados.
A Ascensão da Indústria Automotiva Chinesa
Um terço setor de grande destaque foi a indústria automotiva, que abocanhou 15% do total dos investimentos. Esse avanço foi impulsionado pela inauguração de importantes unidades fabris de marcas chinesas. A BYD, por exemplo, estabeleceu uma fábrica na Bahia, enquanto a GWM inaugurou uma unidade em São Paulo. Estas empresas iniciaram suas operações no mercado brasileiro importando produtos, para posteriormente adquirir e adaptar infraestruturas fabris existentes, com o objetivo de produzir veículos eletrificados no país.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Essa estratégia permite que as companhias se beneficiem de uma série de fatores favoráveis. Com a produção local e o acesso a incentivos fiscais oferecidos pelo governo brasileiro, as montadoras chinesas buscam se posicionar estrategicamente para enfrentar a acirrada concorrência no mercado nacional. O Brasil tem se tornado um campo fértil para a chegada de novas marcas do país asiático; atualmente, ao menos oito montadoras chinesas já mantêm operações comerciais estabelecidas, e a expectativa é que outras três – Leapmotor, MG e Wuling – ingressem no mercado brasileiro ainda em 2025.
Brasil: Um Polo para Investimentos Chineses no Cenário Global
Com a intensificação dos investimentos nos setores industrial e energético, o Brasil solidificou sua posição como um dos destinos mais atraentes para o capital chinês no cenário internacional. De acordo com a combinação de dados fornecidos pelo CEBC e pelo China Global Investment Tracker (CGIT), uma iniciativa do American Enterprise Institute que monitora os investimentos chineses mundialmente, o Brasil emergiu como o terceiro país que mais recebeu investimentos da China em 2024.
Este patamar coloca o país em uma posição de destaque global, superado apenas pelo Reino Unido e pela Hungria em termos de atratividade para os investidores chineses no período analisado. Esta classificação sublinha a crescente interconectividade econômica entre Brasil e China e a percepção do mercado brasileiro como um território estratégico para a expansão internacional do capital asiático, apesar de desafios econômicos e políticos. A relevância estratégica do Brasil é inegável.
Perspectiva Histórica dos Investimentos Chineses
Ainda que o número de projetos e o valor investido em 2024 representem um salto significativo em relação ao ano anterior, é importante notar que o montante total de investimentos chineses já atingiu patamares ainda mais elevados em outras épocas. A década de 2010 marcou um período de ápice para esses aportes, caracterizado por projetos de grande escala, especialmente no setor de energia. Empresas de grande porte como a State Grid e a China Three Gorges foram protagonistas desse movimento.
Para contextualizar, em 2010, os investimentos chineses no Brasil chegaram à expressiva cifra de US$ 13 bilhões (aproximadamente R$ 70 bilhões na cotação atual). Tulio Cariello explica que o cenário atual é distinto. “Não temos mais o registro desses aportes gigantescos. Vivemos outro cenário, com grande parte das empresas, principalmente as de energia, instaladas aqui”, comenta o diretor de pesquisa do CEBC. Essa nova fase reflete uma maturidade nas relações comerciais.
Ainda segundo Cariello, os dados atuais sugerem que as companhias chinesas já estabelecidas no Brasil estão redirecionando seus recursos. Em vez de focarem em novos mega projetos de implantação, elas agora investem primariamente na modernização e expansão de suas infraestruturas existentes. Além disso, há um movimento em direção à diversificação, explorando segmentos promissoes como os de energia eólica e solar. Essa mudança na estratégia de investimento aponta para uma consolidação e aprimoramento da presença chinesa no mercado brasileiro, buscando otimizar operações e explorar nichos de alto potencial.
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Esta evolução na dinâmica dos investimentos indica um novo capítulo na relação econômica bilateral. A ênfase na modernização, diversificação e em aportes de menor escala, mas de maior impacto produtivo direto, pode solidificar ainda mais a parceria entre os dois países. O foco agora é na sustentabilidade e eficiência dos projetos, demonstrando uma estratégia de longo prazo.
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