A primeira morte confirmada por intoxicação por metanol no Brasil foi registrada em São Paulo. O empresário Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, morador da capital paulista, veio a óbito em 16 de setembro, quatro dias após passar mal no dia 12 do mesmo mês. Este caso acende um grave alerta sobre o consumo de bebidas adulteradas e os perigos do metanol para a saúde pública no país.
De acordo com o registro oficial da Polícia Civil, o quadro clínico de Ricardo deteriorou rapidamente após ser avisado pelo irmão que ele estava doente. Socorrido e internado no Hospital Villa Lobos, na Zona Leste da cidade, a vítima apresentou sintomas preocupantes como rebaixamento da consciência, dispneia e rigidez de nuca. O prontuário médico também indicou “intoxicação exógena para álcool etílico, cetoacidose e edema cerebral”. As autoridades revelaram ainda que Ricardo era alcoolista.
Intoxicação por Metanol: Brasil Confirma 1ª Vítima Fatal em SP
Os riscos associados à intoxicação por metanol têm se tornado uma preocupação crescente. Dados atualizados pela Secretaria Estadual da Saúde em 3 de novembro revelam um cenário alarmante em São Paulo. O número total de notificações relacionadas a este tipo de intoxicação atingiu 102 ocorrências no estado. Este total engloba casos sob investigação, suspeitos e já confirmados, evidenciando a disseminação do problema.
Até a data do balanço, 91 casos ainda estavam em fase de investigação, enquanto 11 já haviam sido categorizados como confirmados. A cidade de São Paulo, em particular, concentra a maioria desses registros, com 48 situações em análise e 8 confirmadas, que incluem a lamentável morte de Ricardo Lopes Mira. Além da capital, diversos municípios na Grande São Paulo também apresentaram notificações.
Na região metropolitana, São Bernardo do Campo registrou 21 casos em investigação e um confirmado. Santo André e Osasco reportaram quatro casos em investigação cada um, enquanto Guarulhos teve um sob apuração e um confirmado. Itapecerica da Serra confirmou um caso, e outras cidades como Mauá, Diadema, Ferraz de Vasconcelos e Taboão da Serra tiveram um caso em investigação, respectivamente.
Em áreas do interior e do litoral paulista, a distribuição dos casos foi mais isolada, mas não menos preocupante. Localidades como Araçatuba, Cajuru, Jundiaí, Limeira, Ribeirão Preto, Rio Claro, Santos, São José dos Campos e São Vicente reportaram um caso em investigação cada. Esses números ressaltam a extensão do problema em todo o estado.
A Ação Tóxica do Metanol no Organismo Humano
O metanol, ou álcool metílico, é um composto químico com aplicações industriais variadas, presente em solventes e outros produtos. Contudo, seu consumo por humanos é extremamente perigoso. Após a ingestão, ele ataca primeiramente o fígado, que o metaboliza em substâncias ainda mais tóxicas. Essas substâncias causam danos severos a órgãos vitais, como a medula, o cérebro e o nervo óptico, o que pode resultar em cegueira irreversível, coma profundo e até mesmo a morte. Além disso, a intoxicação por metanol pode provocar insuficiência pulmonar e renal, comprometendo gravemente as funções orgânicas essenciais.
Embora as autoridades não divulguem a identidade das vítimas oficialmente, a imprensa conseguiu apurar algumas histórias de pessoas severamente afetadas pelo consumo de bebidas adulteradas com metanol. Esses relatos individuais humanizam os dados e ilustram a dimensão trágica do problema, com impacto duradouro na vida das vítimas e de suas famílias.

Imagem: metanol via g1.globo.com
Relatos de Vítimas: Rafael Anjos Martins, de 28 anos
Uma das vítimas é Rafael Anjos Martins, de 28 anos. Em 30 de agosto, Rafael adquiriu duas garrafas de gin, além de gelo de coco e energético, em uma adega na região da Cidade Dutra, Zona Sul de São Paulo. Posteriormente, ele se reuniu com quatro amigos para um momento de confraternização em casa, sem qualquer desconfiança da adulteração da bebida. Poucas horas depois do consumo, Rafael começou a sentir-se mal de forma aguda e foi hospitalizado às pressas. Apesar dos esforços médicos para eliminar a toxina do sangue, o metanol já havia atingido seu cérebro e o nervo óptico. Desde 1º de setembro, Rafael encontra-se em coma, internado na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital em Osasco, respirando com o auxílio de aparelhos. Seus amigos, que consumiram a bebida em menor quantidade, também sofreram consequências. Nathalia Carozzi Gama relatou à TV Globo sobre o impacto em sua visão, descrevendo “as coisas estavam com muito contraste”, além de forte falta de ar e mal-estar. Após exames, a presença de metanol foi confirmada em seu organismo.
Radharani Domingos: Perda da Visão em Bairro Nobre
A designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, enfrentou a perda da visão após ingerir três caipirinhas preparadas com vodca no bar Ministrão, localizado na sofisticada Alameda Lorena, bairro nobre de São Paulo. O estabelecimento foi prontamente interditado após o incidente. Radharani chegou a ser internada na UTI, onde sofreu convulsões e necessitou de intubação, mas conseguiu receber alta para um quarto de hospital em 29 de setembro. “Era uma região nobre, não era nenhum boteco de esquina. Causou um estrago bem grande. Não estou enxergando nada”, desabafou Radharani em entrevista. No local, a polícia apreendeu cerca de 100 garrafas de destilados que levantavam suspeitas de adulteração. Lalita Domingos, irmã de Radharani, informou que a previsão de alta para a designer é incerta. Segundo ela, apesar dos tratamentos oftalmológicos implementados para reverter o quadro, a visão de Radharani “permanece comprometida”, mantendo a família na expectativa por qualquer melhora.
Bruna Araújo de Souza e o Combo de Vodka
No domingo, 28 de setembro, Bruna Araújo de Souza, de 30 anos, desfrutava de um show de pagode com amigos em um bar em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Durante a tarde e a noite, ela consumiu várias doses de bebidas, incluindo um combo de vodca com suco de pêssego. Na manhã seguinte, Bruna acordou com sintomas graves, como dor intensa no corpo, dificuldade para respirar e visão turva. Foi levada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na cidade, mas seu estado de saúde piorou rapidamente, exigindo sua transferência, já entubada, para o Hospital de Clínicas de São Bernardo, onde permanece internada em estado grave. Relatos de familiares indicam que o namorado de Bruna também manifestou sintomas similares e foi hospitalizado em outra unidade de saúde. A incerteza paira sobre a recuperação de Bruna, cujo familiar lamentou: “Ela estava feliz, se divertindo, e agora a gente não sabe como vai ser daqui para frente”.
Wesley Pereira e as Graves Consequências do Uísque Adulterado
O caso de Wesley Pereira, de 31 anos, remonta a agosto, quando ele participou de uma festa na Zona Sul da capital paulista e consumiu uísque que havia sido levado ao evento. Poucas horas depois, Wesley começou a sentir-se mal e entrou em coma. Desde então, ele continua internado no Hospital do Campo Limpo, enfrentando uma série de complicações graves. De acordo com sua família, Wesley desenvolveu pneumonia por broncoaspiração e um dos seus rins parou de funcionar. Além disso, ao tentarem reduzir a sedação para que ele pudesse acordar, Wesley sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A irmã de Wesley, Sheilene Pereira Neves, confirmou o impacto devastador: “Ele perdeu a visão e a vida dele nunca mais vai ser a mesma”. Atualmente, Wesley segue em tratamento intensivo, lutando pela recuperação.
Morte de Marcelo Lombardi Reforça Alerta Nacional
Outra vítima fatal da ingestão de metanol foi o advogado e empresário Marcelo Lombardi, de 45 anos, que residia na região do Sacomã, Zona Sul de São Paulo, na divisa com o ABC Paulista. Marcelo, que era proprietário de uma imobiliária familiar, faleceu após consumir uma garrafa de vodca adulterada. Segundo relatos da família, a bebida foi adquirida em uma adega para consumo doméstico, sem que houvesse qualquer suspeita de irregularidade. Na manhã seguinte ao consumo, Marcelo acordou desorientado e já sem a capacidade de enxergar. Rapidamente encaminhado ao hospital, seu quadro clínico evoluiu para uma parada cardiorrespiratória e, subsequentemente, falência múltipla dos órgãos. O atestado de óbito emitido pelos médicos confirmou a intoxicação por metanol como a causa de sua morte. Marcelo era casado e vivia com a esposa e uma cachorrinha. Sua irmã o descreveu como “o pilar da família”, expressando a dor pela perda: “Perdemos a nossa base”. Para entender mais sobre a resposta internacional a esses desafios, consulte o posicionamento da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) sobre a luta contra o álcool ilegal: OPAS apela por combate ao álcool ilegal.
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Estes casos trágicos destacam a urgência em coibir a venda de bebidas adulteradas e reforçar a fiscalização para proteger a saúde da população. A intoxicação por metanol é uma ameaça séria, com consequências devastadoras e irreversíveis, reforçando a importância da vigilância e do consumo consciente. Continue acompanhando as notícias em nossa editoria de Cidades para ficar informado sobre este e outros temas de interesse público em São Paulo e em todo o Brasil.
Crédito da imagem: Reprodução; Arquivo Pessoal; Adobe Stock; Arte/g1.
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