As denúncias de intimidação a testemunhas em acidente que matou menina de 10 anos em Boa Vista ganharam novos contornos. Duas pessoas cruciais para a investigação do atropelamento que vitimou Quesia Victória Bezerra Sulino, de apenas 10 anos, relataram à polícia estarem sendo coagidas pela mãe e pela advogada que representam Nykson Maciel Lima Araújo, de 18 anos, suspeito de envolvimento no trágico evento.
O incidente que resultou na morte da criança ocorreu em 18 de setembro, no Projeto de Assentamento Nova Amazônia, uma área rural da capital roraimense. Quesia Victória foi atropelada por um carro exatamente em frente à sua residência, logo após desembarcar do transporte escolar. As alegações de intimidação lançam uma sombra sobre a busca por justiça para a família da vítima e sobre a integridade do processo legal.
Intimidação a testemunhas em acidente que matou menina de 10 anos em Boa Vista
Márcio Rodrigues da Silva, motorista do ônibus escolar, de 34 anos, foi um dos que prestaram depoimento à polícia. Ele relatou que Thaisa Palla, de 30 anos, advogada do jovem suspeito, divulgou publicamente informações imprecisas sobre o ocorrido. Em um vídeo que circulou nas plataformas digitais, a defensora alegou que seu cliente “buscou prestar todo o auxílio necessário” e que permaneceu no local do acidente. Contudo, a versão de Márcio é outra. Segundo ele, a ajuda efetiva partiu dele e do pai da própria menina.
O motorista detalhou que foi ele quem colocou a menina no ônibus, com a ajuda do pai da criança, e a levou rapidamente até a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. “Eu peguei [o ônibus], cheguei perto do pai e ele botou [a menina] dentro do ônibus. Daí eu fui direto para o UBS. Lá eu tirei ela daqui do ônibus, carreguei ela nos meus braços e os médicos já começaram a fazer os primeiros socorros”, afirmou Márcio Rodrigues ao g1, detalhando o desespero e a agilidade necessários para o socorro. Suas ações foram essenciais para garantir que Quesia recebesse atendimento o mais rápido possível após o atropelamento.
A Reação da Advogada e a Denúncia do Motorista
Na gravação disseminada em redes sociais na última terça-feira (23), a advogada Thaisa Palla ainda sugeriu que a responsabilidade pela segurança das crianças recai sobre monitores e profissionais do transporte escolar, os quais teriam o dever legal e moral de assegurar a entrega dos estudantes aos responsáveis sem que corressem riscos no trânsito, prevenindo potenciais acidentes. Essa declaração foi vista por Márcio Rodrigues como uma afronta à sua conduta e capacidade profissional. Ele registrou um boletim de ocorrência na quarta-feira (24) no 4º Distrito Policial, acusando a advogada de injúria por ofensa à dignidade ou ao decoro.
As declarações públicas da advogada, de acordo com o motorista, resultaram em transtornos significativos em sua vida. “As pessoas aqui da comunidade começaram a achar que eu não tenho capacidade para transportar os alunos, para dirigir. Então, elas duvidam da minha capacidade, da minha profissão. Começaram a me olhar com julgamento. Foi por isso que eu fiz esse boletim de ocorrência”, explicou Márcio. As alegações de injúria são graves e refletem o impacto das declarações na sua reputação profissional e pessoal, um aspecto crucial quando se fala de testemunhas de acidentes e a sua relação com o caso.
Em sua defesa, a advogada Thaisa Palla declarou que “jamais realizou qualquer tipo de ameaça e repudia, de forma veemente, qualquer ato de intimidação”. Ela esclareceu que o vídeo foi publicado com o propósito de apresentar a versão da defesa diante do “linchamento social que o investigado NYKSON MACIEL vinha sofrendo”. Thaisa Palla também ressaltou que, na mesma oportunidade, manifestou o pesar da defesa pelo falecimento da jovem vítima. Segundo a advogada, “a publicação não teve o intuito de influenciar a investigação, mas de garantir o direito de resposta e a correta contextualização dos fatos”.
A Professora Ameaçada: Um Segundo Caso de Intimidação
Além do motorista, uma professora de 33 anos, também testemunha do trágico atropelamento, formalizou uma denúncia. Ela alega estar sendo perseguida por Valdina Teixeira Lima Tavera, de 46 anos, mãe do suspeito. A perseguição, conforme a professora, começou após ela compartilhar detalhes do acidente em um grupo de mensagens com outros moradores da região. Tal situação levanta questões preocupantes sobre a segurança das testemunhas e a liberdade de expressão em um contexto tão delicado. Em muitos sistemas jurídicos, a proteção de testemunhas é um pilar fundamental para a garantia de justiça e para evitar o crime de intimidação de testemunhas.
No dia 22 de setembro, a educadora registrou um boletim de ocorrência por injúria e calúnia no Plantão Central II, localizado na sede da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Ela narrou que Valdina a chamou de mentirosa e a ameaçou com processos judiciais caso não parasse de falar sobre o incidente. “Eu falei no grupo o que eu vi, contei toda a situação, aí a mãe dele começou a me perseguir, chamar de mentirosa e falou que se eu não parasse de falar ela ia me colocar na justiça, disse que vim dos infernos enviada pelo diabo pra perturbar a vida dela”, revelou a professora. O medo e o receio da professora de que algo possa lhe acontecer são evidentes diante de tais ameaças, destacando a vulnerabilidade das pessoas envolvidas em investigações criminais. As “diretrizes rígidas sobre a conduta profissional” estabelecidas por órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) são cruciais para assegurar que todos os envolvidos, incluindo advogados e familiares, atuem com ética e respeitem o processo judicial, especialmente quando a intimidação de testemunhas se torna um fator.

Imagem: g1.globo.com
A professora expressou sua preocupação: “Diante de toda a situação, estou me sentindo muito ameaçada. Em todos os sentidos. Penso que eles sabem que trabalho na escola e isso fica perigoso para mim porque eu não sei do que são capazes”. O g1 buscou um posicionamento da Polícia Civil para averiguar se as denúncias de intimidação estão sendo investigadas, e aguarda resposta. Da mesma forma, foi feito contato com a mãe do suspeito, porém sem retorno até o momento da publicação. A defesa de Nykson Maciel, no entanto, reafirmou seu “compromisso com a legalidade, com o respeito à vítima e seus familiares e com a colaboração integral com as autoridades policiais e judiciárias”.
O Acidente Fatal
A fatalidade envolvendo Quesia Victória, que causou a onda de intimidação, ocorreu no dia 18 de setembro, como mencionado, no Projeto de Assentamento Nova Amazônia. Após desembarcar do ônibus escolar, a menina atravessava a rua quando foi atingida por um veículo. Ela sofreu um traumatismo craniano, uma grave lesão provocada pelo impacto na cabeça, o que infelizmente resultou na morte da menina após o acidente em Boa Vista.
Quesia foi prontamente levada para o Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), localizado em Boa Vista, mas, após permanecer internada por dois dias na unidade, não resistiu aos ferimentos. Segundo relatos policiais, Nykson Maciel saiu do automóvel acompanhado de um passageiro, observou a grave situação e deixou o local do acidente sem prestar o socorro adequado. Essa ação é considerada uma das agravantes em seu caso, uma vez que a omissão de socorro tem sérias implicações legais.
Nykson Maciel se apresentou à polícia posteriormente e foi detido. Contudo, ele foi liberado após o pagamento de fiança. Atualmente, ele responderá por homicídio culposo, que caracteriza-se pela ausência de intenção de matar, na direção de veículo automotor. O caso é agravado por ele não ter prestado socorro à vítima e por não possuir Carteira Nacional de Habilitação (CNH), duas circunstâncias que aumentam a gravidade da acusação e a necessidade de se ter o caso de intimidação de testemunhas apurado.
A denúncia inicial contra ele, antes do óbito da criança, era de lesão corporal culposa. O desenvolvimento dos fatos transformou a acusação em homicídio, um desfecho lamentável para todos os envolvidos e que expõe a importância de um sistema de justiça que apure rigorosamente as denúncias de intimidação contra testemunhas para que a verdade seja devidamente estabelecida.
Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista
Este grave caso envolvendo a morte da jovem Quesia Victória e as posteriores denúncias de intimidação continuam a ser acompanhadas de perto. Para mais informações e aprofundamento em casos de justiça e segurança, continue acompanhando a nossa editoria de Cidades, onde publicamos regularmente atualizações e análises de eventos relevantes. Seu apoio é fundamental para que o jornalismo continue cumprindo seu papel informativo e vigilante.
Crédito da imagem: Arquivo pessoal
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados