TÍTULO: Impacto Metanol Eventos: Casamentos e Festas Sofrem Mudanças
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META DESCRIÇÃO: A crescente intoxicação por metanol está transformando o setor de eventos no Brasil. Cerimonialistas relatam cancelamentos e adaptações em cardápios para garantir segurança.
A recente onda de notificações relacionadas à intoxicação por metanol após o consumo de bebidas alcoólicas tem provocado uma reestruturação significativa no segmento de eventos em todo o país. Desde casamentos requintados até celebrações corporativas e festas sociais, o receio da contaminação levou profissionais do setor a buscar soluções inovadoras e reforçar a segurança para tranquilizar os clientes e convidados. Essa preocupação tem resultado em mudanças drásticas nos cardápios de bebidas, com muitos optando por suspender o serviço de destilados ou adaptá-lo completamente.
Entre os cerimonialistas, a adaptação se tornou uma necessidade imediata. Tamara Barbosa, assessora de eventos corporativos na capital paulista, compartilhou sua experiência em ajustar dois eventos que acontecerão na próxima semana. Para um deles, o bar foi totalmente cancelado. No outro, a carta de drinks foi modificada, substituindo bebidas com destilados por alternativas seguras. A profissional enfatizou que o desafio não se restringe à logística, mas se estende à comunicação da segurança para os presentes, especialmente diante da circulação de notícias, muitas vezes, infundadas, que geram “histeria coletiva” e desconfiança até mesmo em fornecedores idôneos. A busca por alternativas confiáveis e a capacidade de convencer clientes e convidados da procedência das bebidas tornou-se parte essencial do seu papel como intermediadora.
Impacto Metanol Eventos: Casamentos e Festas Sofrem Mudanças
Outra voz do mercado é Heloísa Hernandez Juliato, sócia da Babi Leite Eventos, que notou um aumento substancial na preocupação dos contratantes. A empresa tem tranquilizado os clientes ao afirmar que trabalha apenas com fornecedores de confiança, que adquirem as bebidas diretamente de distribuidores oficiais, com nota fiscal. Além disso, a estratégia inclui a sugestão de bares criativos que priorizam destilados de origem comprovada e exploram drinks à base de vinho, espumante e outras opções não associadas a riscos. Essa abordagem visa manter a sofisticação e, sobretudo, a segurança. Embora a empresa não tenha registrado cancelamentos de bares em casamentos, o ajuste no volume de consumo é visível, com maior saída esperada para bebidas não destiladas, mas sempre mantendo os destilados garantidos por distribuidores oficiais e devidamente lacrados.
Mayara Zanetti, cerimonialista com 18 anos de experiência, vivenciou uma mudança de última hora em um aniversário para 120 pessoas em um clube no Morumbi, São Paulo. Uma nota da associação de clubes locais proibiu o consumo de destilados, levando o cliente a cancelar o contrato do bar e substituir os destilados por cerveja, espumante e vinhos. Para os eventos futuros, Mayara reforça que exigirá nota fiscal e lote de fabricação de todas as mercadorias lacradas, transformando isso em um alerta crucial para todos os profissionais do setor.
Em nota à TV Globo, a Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta) manifestou “profunda preocupação” com a crescente intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas e as perdas humanas, salientando a necessidade de uma abordagem “estrutural e preventiva” para combater as causas: falsificação, falta de controle e atuação de operadores irregulares. Desde 2018, a Abrafesta tem desenvolvido uma proposta de certificação setorial, parte do projeto “Evento Legal”, visando a rastreabilidade e a transparência. Um Grupo de Trabalho de Gerenciamento de Crise foi instituído para elaborar diretrizes práticas, auditar fornecedores, capacitar equipes e criar mecanismos de denúncia, reafirmando o compromisso da entidade com as boas práticas e a segurança jurídica.
Situação da Intoxicação por Metanol no Brasil e em São Paulo
O Ministério da Saúde informou na tarde de sexta-feira (3) que o número de notificações de intoxicação por metanol em todo o Brasil atingiu 113 casos, que abrangem situações confirmadas e suspeitas, incluindo óbitos. Recentemente, Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul reportaram seus primeiros casos em investigação. No panorama nacional, contabilizam-se 11 casos confirmados e 102 ainda sob análise. A substância, um álcool industrial empregado em solventes, é altamente nociva quando ingerida. O metanol atinge primeiramente o fígado, sendo metabolizado em toxinas que comprometem medula, cérebro e nervo óptico, com potenciais desfechos de cegueira, coma ou mesmo morte, além de insuficiências pulmonar e renal.
Em resposta à crise, o Ministério da Saúde e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) adquiriram 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico, o antídoto para essa intoxicação, e estão em processo de aquisição de mais 5 mil tratamentos, totalizando 150 mil ampolas, a fim de fortalecer o estoque do Sistema Único de Saúde. Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou um edital internacional para intensificar a compra do antídoto.
São Paulo se destaca no cenário nacional, com 91 casos em investigação e 11 confirmados. A capital concentra a maioria dos registros: 48 sob investigação e 8 confirmados. Outros municípios da Grande São Paulo também apresentam dados: São Bernardo do Campo (21 investigados, 1 confirmado), Santo André (4 investigados), Osasco (4 investigados), Guarulhos (1 investigado, 1 confirmado), Itapecerica da Serra (1 confirmado), Mauá (1 investigado), Diadema (1 investigado), Ferraz de Vasconcelos (1 investigado) e Taboão da Serra (1 investigado). No interior e litoral, cidades como Araçatuba, Cajuru, Jundiaí, Limeira, Ribeirão Preto, Rio Claro, Santos, São José dos Campos e São Vicente registraram um caso em investigação cada uma.
Histórias de Vítimas e Impactos da Intoxicação
Embora as identidades oficiais não tenham sido divulgadas pelas autoridades, reportagens do g1 e TV Globo identificaram algumas das vítimas, revelando histórias profundamente afetadas pela ingestão de bebidas adulteradas.

Imagem: g1.globo.com
Caso Rafael Anjos Martins
No dia 30 de agosto, Rafael Anjos Martins, de 28 anos, adquiriu duas garrafas de gin e acompanhamentos em uma adega na Cidade Dutra, Zona Sul de São Paulo, para um encontro com amigos. Poucas horas após o consumo, Rafael começou a apresentar mal-estar e foi hospitalizado. Apesar dos esforços médicos para remover a toxina, o metanol já havia afetado seu cérebro e nervo óptico. Desde 1º de setembro, Rafael está em coma, respirando com aparelhos em uma UTI de Osasco. Os amigos que consumiram menos quantidade da bebida adulterada também tiveram sequelas, como Nathalia Carozzi Gama, que relatou visão alterada, falta de ar e mal-estar.
Caso Radharani Domingos
A designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, ficou cega após consumir três caipirinhas com vodca em um bar na Alameda Lorena, nos Jardins, área nobre de São Paulo. O local foi subsequentemente interditado. Internada na UTI com convulsões e entubação, ela recebeu alta para o quarto, mas sua visão permanece comprometida, segundo sua irmã, Lalita Domingos. A polícia apreendeu cerca de 100 garrafas suspeitas de adulteração no estabelecimento.
Caso Bruna Araújo de Souza
No domingo, 28 de agosto, Bruna Araújo de Souza, de 30 anos, participou de um show de pagode em São Bernardo do Campo. Após consumir um combo de vodca com suco de pêssego, ela começou a sentir fortes dores no corpo, falta de ar e visão embaçada na manhã seguinte. Seu quadro piorou rapidamente após ser levada a uma UPA e, atualmente, Bruna permanece entubada em estado grave no Hospital de Clínicas de São Bernardo. O namorado de Bruna também apresentou sintomas e foi hospitalizado.
Caso Wesley Pereira
O calvário de Wesley Pereira, de 31 anos, teve início em agosto, quando consumiu uísque durante uma festa na Zona Sul da capital paulista. Horas depois, passou mal e entrou em coma, estando internado no Hospital do Campo Limpo desde então. Wesley enfrentou pneumonia por broncoaspiração, insuficiência renal e um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quando os médicos tentaram reduzir a sedação. Sua irmã, Sheilene Pereira Neves, confirmou que ele perdeu a visão, e sua vida “nunca mais será a mesma”.
Caso Marcelo Lombardi
Marcelo Lombardi, advogado e empresário de 45 anos, com uma imobiliária familiar na Zona Sul de São Paulo, faleceu após ingerir uma garrafa de vodca adulterada, comprada em uma adega para consumo doméstico. Ele acordou desorientado e sem visão no dia seguinte, sendo hospitalizado. O quadro rapidamente evoluiu para uma parada cardiorrespiratória e falência múltipla de órgãos. O atestado de óbito indicou o metanol como a causa da intoxicação. Marcelo, casado e “pilar da família” segundo a irmã, deixou um profundo vazio.
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As trágicas histórias e o impacto generalizado da intoxicação por metanol reforçam a importância de uma atenção redobrada à procedência das bebidas alcoólicas e a necessidade urgente de fiscalização rigorosa no mercado. Este cenário inédito impulsiona o setor de eventos a reimaginar suas operações, priorizando a segurança e a transparência para proteger consumidores e preservar a credibilidade. Continue acompanhando as atualizações sobre este tema e outras notícias relevantes em nossa editoria de Cidades em Hora de Começar.
Crédito da Imagem: Paula Lago/Arquivo g1
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