O esforço conjunto para a proteção ovos tartarugas amazonas ganha destaque com a ação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em colaboração com comunidades ribeirinhas. A iniciativa visa salvaguardar aproximadamente 200 mil ovos de tartarugas-da-Amazônia, cruciais para a sobrevivência dessas espécies na foz do vasto Rio Amazonas, abrangendo ilhas localizadas entre os estados do Pará e Amapá.
Milhares de tartarugas-da-Amazônia (Podocnemis expansa) encontram neste arquipélago, especificamente na região dos Camaleões em Afuá (PA), um local propício para seu ciclo reprodutivo, que se estende até dezembro. Para assegurar o nascimento dos filhotes e mitigar riscos ambientais, o “Programa Quelônios da Amazônia” realiza um meticuloso trabalho de manejo. Este programa, conforme informações divulgadas, desempenha um papel fundamental na proteção desses animais.
Ibama Intensifica Proteção de 200 Mil Ovos de Tartarugas no Amazonas
O trabalho consiste na transferência estratégica dos ninhos, uma técnica conhecida como translocação. Essa metodologia permite realocar os ovos para áreas consideradas mais seguras, prevenindo que sejam arrastados ou destruídos pela variação da maré alta, um fenômeno comum na região da foz do Amazonas. Além disso, a translocação contribui para minimizar os efeitos adversos das mudanças climáticas, que podem impactar diretamente os ciclos naturais de desova e a viabilidade dos ninhos.
Márcia Bueno, coordenadora do programa no Amapá, sublinha a relevância crítica da translocação frente às variações intensas da maré que caracterizam o estuário amazônico. Segundo dados do Ibama, a intervenção humana através deste programa consegue salvar cerca de 80% dos ovos, um índice considerável para a manutenção populacional das tartarugas.
A experiência local é valorizada e incorporada nas operações. Luiz Barros de Sena, um morador ribeirinho que atua como guardião do projeto há quatro décadas, testemunhou diretamente as transformações ambientais ao longo do tempo. Ele observou uma notável alteração no calendário de desova. Enquanto há 40 anos as tartarugas começavam a desovar por volta de 25 de agosto, em anos recentes, como este, o período de início atrasou significativamente para 20 de outubro. Essa mudança, de acordo com Sena e a comunidade, é um forte indicativo dos impactos das mudanças climáticas. Sena, sua esposa e seus filhos colaboram ativamente com o Ibama, desempenhando um papel insubstituível na proteção dos ninhos em todo o arquipélago.
Mecanismo de Ação e Funcionamento dos Berçários Naturais
A operacionalização dos berçários naturais é um processo cuidadosamente orquestrado. As tartarugas-da-Amazônia emergem para a superfície da praia ao final da tarde, aproveitando o resfriamento da areia, ideal para o processo de desova. A equipe identificou duas áreas principais na ilha que concentram a maioria dos ninhos, indicando a preferência e a fidelidade das fêmeas ao seu local de origem, um comportamento vital para o ciclo de vida da espécie. Centenas de fêmeas adultas retornam fielmente aos locais onde nasceram para depositar seus ovos, perpetuando o ciclo natural da vida.
Durante uma única manhã, as equipes de ribeirinhos foram capazes de localizar cerca de 60 ninhos distintos. Cada um desses ninhos continha uma média impressionante de 90 ovos, totalizando uma grande quantidade que requer manejo. Após a coleta cuidadosa, os ovos são transferidos para bandejas especializadas. Em seguida, são transportados por embarcações menores, que navegam através de rios e igarapés da região, até uma ilha designada. Neste local, foi estabelecida uma área específica de translocação, que serve como um “berçário” onde os filhotes terão condições mais seguras para eclodir.
É um critério essencial para o programa que os ovos de cada tartaruga-mãe sejam mantidos separados nas bandejas, sem qualquer tipo de mistura, garantindo assim a integridade genética e a monitorização de cada ninho. A expectativa é que os filhotes nasçam durante o mês de janeiro. Uma vez prontos para a vida aquática, são liberados na natureza. Bernardino Nogueira, superintendente do Ibama no Amapá, celebra o êxito contínuo: “Em 42 anos, soltamos milhares de filhotes. É um trabalho que a natureza agradece”. Devido à sua localização geográfica e à extensão das ilhas do Pará próximas, a superintendência do Ibama no Amapá também assume a responsabilidade por parte das operações nessas áreas. Para saber mais sobre esforços de conservação na região, consulte iniciativas de proteção das tartarugas da Amazônia.
Um Histórico de Quatro Décadas de Conservação e Participação Comunitária
O Programa Quelônios da Amazônia é reconhecido como o mais longevo projeto de conservação de espécies silvestres do Brasil, tendo sido oficialmente instituído em 1979 (apesar de haver dados que indicam 1981 como início oficial em outros contextos). Desde a sua criação, este programa robusto já resultou no manejo e liberação de mais de 70 milhões de filhotes de tartarugas na natureza, demonstrando um impacto substancial na recuperação e sustentabilidade das populações de quelônios na Amazônia. É uma iniciativa que não apenas visa a proteção, mas também promove a valorização da biodiversidade local.
O programa destaca-se por seu modelo de participação comunitária, que integra ativamente as populações ribeirinhas nas ações de conservação. Esse engajamento é fundamental para o sucesso e a longevidade do projeto, fomentando o uso sustentável dos recursos naturais. Entre seus objetivos primordiais, incluem-se a meta de produzir e liberar anualmente até 10 milhões de filhotes de quelônios e incentivar a população local a ter uma participação direta na preservação dos habitats naturais dessas tartarugas. A relevância do Brasil nesse cenário é notória, pois é o único país da América do Sul que ainda mantém estoques significativos de tartarugas amazônicas, tornando as ações de recuperação e manejo sustentável ainda mais cruciais e eficazes para o bioma global.
Confira também: Imoveis em Rio das Ostras
Este esforço coordenado entre o Ibama e as comunidades locais não apenas assegura a sobrevivência de espécies vulneráveis, mas também representa um modelo de sucesso em conservação ambiental, integrando ciência, governo e conhecimento tradicional. Para ficar por dentro das últimas novidades sobre conservação e outros temas importantes, acompanhe nossa editoria de Cidades e outras análises em nosso portal.
Crédito da imagem: Foto: Rafael Aleixo/g1



