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Ibama mira comércio ilegal de animais na Feira da Parangaba

Uma megaoperação do Ibama mirou o comércio ilegal de animais na Feira da Parangaba, em Fortaleza (CE), no último domingo (5 de maio), marcando um dos maiores esforços sigilosos contra o mercado clandestino em feiras livres no Brasil. A ação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis resultou na detenção de […]

Uma megaoperação do Ibama mirou o comércio ilegal de animais na Feira da Parangaba, em Fortaleza (CE), no último domingo (5 de maio), marcando um dos maiores esforços sigilosos contra o mercado clandestino em feiras livres no Brasil. A ação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis resultou na detenção de mais de 30 pessoas e no resgate de 271 animais silvestres, que viviam em condições de maus-tratos.

A intervenção expôs a realidade complexa de um dos pontos de comércio mais tradicionais da capital cearense, conhecido não apenas por sua vitalidade cultural e histórica, mas também pela controvérsia envolvendo a venda irregular de espécies protegidas. O trabalho do Ibama destaca a urgência em combater uma prática que gera sofrimento animal e impacta a biodiversidade, reforçando a importância da fiscalização contínua nessas áreas.

Ibama mira comércio ilegal de animais na Feira da Parangaba

A Feira da Parangaba, apelidada popularmente de “Feira dos Pássaros”, tornou-se ao longo das décadas um símbolo multifacetado para Fortaleza, um ponto de encontro de comerciantes e consumidores que, paradoxalmente, convive com a ilegalidade. Esta tradição de informalidade e sua capacidade de contar a história local através de seus produtos e dinâmicas, infelizmente, também abrigaram por muito tempo um lado sombrio do comércio.

História e Contexto da Feira da Parangaba

Para compreender como o comércio de animais silvestres se enraizou na Feira da Parangaba, é crucial analisar o contexto histórico do Bairro Parangaba. Antes mesmo de ser formalmente um bairro de Fortaleza, a Parangaba era uma vila da Capitania do Ceará, com origens datando de 1607, quando missionários jesuítas iniciaram a ocupação e catequização dos povos indígenas na região. Em 1759, a área foi elevada ao status de Vila Real de Arronches.

Desde suas primeiras formações como centro urbano, a região se destacou pela sua autonomia comercial. A historiadora Isabele Farias, mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), salienta que a movimentação de mercadorias era intensa desde a época da vila. No início do século XIX, a Vila Real de Arronches já era um importante polo informal de comércio de carnes e animais, atraindo produtores do interior que buscavam escapar das altas taxas impostas pela então capital do Ceará, Fortaleza.

Existem diferentes interpretações sobre o surgimento exato da Feira da Parangaba como a conhecemos hoje. Enquanto alguns relatos indicam que a feira teria “despontado” com o intenso comércio de carnes e animais no século XIX, outros memorialistas apontam para a década de 1990, quando vendedores se reuniam espontaneamente. Essa segunda interpretação sugeriria que a Feira da Parangaba teria cerca de 30 anos de existência. No entanto, um relato de morador presente no trabalho “Memória Social em Fortaleza: Reflexões sobre Parangaba”, do mestre em Sociologia Mário Sérgio Barbosa Costa, remonta o início da feira ao fim da década de 1950, citando o surgimento das “gaiolas com passarinhos” já nessa época. “Em 1958 ou 1959, não lembro exatamente qual era o ano, chegaram algumas pessoas que, todos os domingos, ficavam próximas à lagoa, segurando pequenas gaiolas com passarinhos de todos os tipos. Depois de alguns meses, apareceram outras pessoas montando barraquinhas onde vendiam frutas, milho e feijão. Começou assim a feira de Parangaba. Tinha 15 anos quando ela começou e fui crescendo junto com ela”, descreveu o morador.

Independentemente da data exata de seu início, a Feira da Parangaba consolidou-se como um marcante expoente do comércio popular em Fortaleza. Isabele Farias ressalta o valor desses espaços como preservadores de tradições culturais e como “espaços de coletividade, memória, construção do conhecimento e formação de identidade”. Ela argumenta que, enquanto shoppings perdem suas particularidades na urbanização, feiras mantêm produtos, músicas e atmosferas regionais únicas, contribuindo para a diversidade cultural de uma cidade em constante modernização. “As feiras preservam essas tradições. Ir à feira é muito diferente de ir a um shopping, por exemplo, em que em qualquer parte do Brasil eles se parecem, têm algo em comum. As feiras, não. Os produtos são regionais, as músicas são regionais. Ir à feira na Parangaba, na Messejana ou no Álvaro Weyne sempre vai ser diferente”, ponderou a historiadora.

A Chaga do Mercado Clandestino de Animais

Contrariando a imagem pitoresca e cultural das feiras, esses espaços também podem ser palco para práticas nocivas. A operação do Ibama contra o comércio ilegal de animais silvestres, que atingiu diversas feiras livres no Brasil, destacou a gravidade da situação na Feira da Parangaba. No local, animais eram encontrados em gaiolas expostas abertamente, sob péssimas condições de higiene e em ambientes extremamente barulhentos. Tal cenário estressor frequentemente leva à morte de muitas espécies antes mesmo da comercialização.

O mercado clandestino não se limita a aves; serpentes e macacos também foram identificados no local. Os preços de venda variam conforme a espécie, com um papagaio, por exemplo, sendo ofertado por R$ 700 pouco antes da ação do Ibama. A ativista ambiental Stefani Rodrigues, fundadora da Organização Não-Governamental (ONG) APA Anjos da Proteção Animal, critica a falha na fiscalização como um fator que permite a exposição “tranquila” de animais vulneráveis. A ativista defende o aumento do efetivo policial do Batalhão de Polícia do Meio Ambiente e de agentes do Ibama, além de ações periódicas, pois “é um crime, um comércio que dá lucro para eles. Eles vão só encontrar outras maneiras para tentar despistar a polícia”.

A ONG de Stefani Rodrigues atua na proteção animal não apenas com acolhimento e defesa jurídica, mas também com a conscientização pública contra a compra de animais ilegalizados e o financiamento do mercado clandestino. Recentemente, a organização acolheu 45 coelhos resgatados de maus-tratos pelo BPMA, com dois deles em estado grave, necessitando de tratamentos veterinários custosos. A Lei de Crimes Ambientais prevê que os envolvidos podem responder por ao menos dois tipos de crimes relacionados ao comércio e maus-tratos de animais silvestres.

Desafios e Próximos Passos na Fiscalização

Stefani Rodrigues reitera a importância da denúncia por parte da população. Segundo ela, ao adquirir um animal não legalizado em feiras, o cidadão está diretamente financiando o crime. Ela alerta para o sofrimento inimaginável que esses animais enfrentam, confinados, sem liberdade, em condições insalubres e sem alimentação adequada. A compreensão desse ciclo de crueldade é fundamental para coibir o crime.

A historiadora Isabele Farias contextualiza a venda ilegal de animais na Feira da Parangaba como um aspecto cultural, muitas vezes naturalizado ao longo do tempo. Há uma percepção de que a prática é aceitável, mesmo diante da proibição legal. Para Isabele, é imperativa uma fiscalização mais presente e atuante, que seja inteligente e contínua, buscando estabelecer uma convivência harmoniosa entre os feirantes e os órgãos públicos.

Isabele Farias enfatiza a necessidade de “políticas de incentivo de migração desse comércio ilegal para produtos que sejam legalizados e que possam fornecer as possibilidades de renda que esses feirantes buscam.” Ela conclui que simplesmente cortar a prática em um local fará com que o crime se desloque para outros pontos. A mensagem fundamental é a de que é plenamente possível preservar as ricas tradições de uma feira tão significativa para a cultura local, sem perpetuar práticas que são nocivas ao meio ambiente e aos animais. A operação se alinha aos esforços contínuos do governo federal no combate aos crimes ambientais, conforme detalhado nas diretrizes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobre fiscalização e proteção da fauna.

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A recente operação na Feira da Parangaba demonstra a complexidade de erradicar o comércio ilegal de animais, entrelaçado com aspectos históricos e culturais de uma comunidade. É um lembrete contundente da responsabilidade compartilhada entre autoridades e cidadãos na proteção da fauna. Para compreender melhor a dinâmica do desenvolvimento urbano e os desafios do comércio informal em outras grandes cidades brasileiras, acesse nossa editoria de Cidades e confira artigos aprofundados sobre o tema e os impactos de legislações ambientais em diferentes regiões do país.

Foto: Divulgação

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