A inteligência artificial em aplicativos de namoro está redefinindo as dinâmicas das conexões online, prometendo uma experiência mais eficiente e personalizada. Longe de meros “deslizes” em perfis intermináveis, usuários agora encontram inovações tecnológicas que visam otimizar a busca pelo parceiro ideal. A mudança marca uma era onde a IA atua como um verdadeiro cupido digital, desde chatbots avançados até algoritmos de matchmaking generativo.
Essa transformação já se manifesta na vida real, como no caso de Emma Inge, gerente de projetos de 25 anos em São Francisco. Após anos de frustração com plataformas tradicionais como Hinge e Tinder, Inge decidiu experimentar uma abordagem distinta em setembro. Respondendo a um anúncio de uma startup chamada Known, ela dedicou 20 minutos a uma conversa com um cupido de IA – essencialmente um chatbot – que, durante uma chamada telefônica, sondou suas expectativas para um parceiro, registrando qualidades desejadas (atlético) e pontos de alerta (codependente).
Uma semana depois dessa interação inicial, uma notificação surpreendeu Inge em seu smartphone: ela tinha um par. Com uma taxa única de US$ 25, a oportunidade de encontrá-lo em um bar se concretizava. Esse episódio é um retrato fiel de como a IA está remodelando profundamente a indústria.
IA transforma apps de namoro com novos cupidos e matches
Em um cenário onde os maiores players do mercado — Hinge, Tinder, Bumble e Grindr — buscam reinventar-se, startups especializadas em cupidos de IA florescem, sinalizando uma guinada. A era atual no namoro online valoriza agora matches “premium” impulsionados por IA, pagos semanalmente, em contraste com a antiga lógica de assinaturas que garantiam um fluxo infinito de perfis.
Hesam Hosseini, diretor de operações do Match Group, conglomerado detentor de Hinge e Tinder, enfatizou em entrevista a importância estratégica dessa evolução. “A IA já possui um papel crucial em nossos negócios, mas acredito firmemente que ela tem o potencial para ser um disruptor radical – a próxima grande revolução tecnológica”, afirmou Hosseini. De fato, a projeção do setor, conforme apontado por análises recentes sobre o futuro da inteligência artificial, é de crescimento e impacto abrangente em diversos mercados. A novidade surge em um momento propício para os desenvolvedores de apps de namoro.
Muitos aplicativos, que permitem perfis gratuitos e oferecem benefícios pagos (como “deslizes” ilimitados) por uma média de US$ 30 mensais, vinham enfrentando desafios. A satisfação do usuário diminuiu, e, concomitantemente, o número de assinantes pagantes caiu. No último ano, o Bumble registrou uma redução de 9% em seus assinantes pagantes, enquanto o Match Group perdeu 5%, mesmo observando um crescimento na base total de usuários. Embora representem uma parcela minoritária dos usuários, os assinantes pagos são a força motriz dos lucros, contribuindo com 97% da receita do Match Group, por exemplo, a partir de apenas 20% de seus usuários.
Essa pressão econômica refletiu-se no mercado de ações, com as ações do Match Group despencando 80% desde o pico de 2021 e as do Bumble caindo 90% desde sua oferta pública inicial no mesmo ano. As duas empresas continuam dominando a maior parte do segmento de namoro digital, mas precisam inovar. O setor lida com o que chama de “ciclo do desespero”: usuários baixam o aplicativo, se frustram com a quantidade de “deslizes” sem sentido ou experiências de ghosting (interrupção abrupta da comunicação), desinstalam e, meses depois, retornam ao ciclo.
Hosseini sugeriu que a adoção de cupidos de IA pode evocar os primórdios do namoro online, quando plataformas como eHarmony solicitavam aos usuários a respostas de dezenas de perguntas para criar perfis altamente detalhados. Enquanto diversas startups já oferecem soluções de IA para encontrar pares, os grandes players do mercado estão gradualmente implementando suas próprias versões e integrando a tecnologia em suas operações existentes.
O Tinder, por exemplo, está em fase de testes com o Chemistry, um serviço de matchmaking baseado em IA, com planos de expandi-lo em breve. A ideia é permitir que os usuários concedam acesso à galeria de fotos do smartphone, capacitando a IA a aprender sobre eles. Embora inicialmente gratuito, o Tinder cogita cobrar pelo recurso no futuro. Essa estratégia busca otimizar a experiência do usuário e monetizar novos recursos baseados na inteligência artificial para namoro.
No nicho de aplicativos para homens gays, o Grindr lançou seis recursos inovadores que batizou de gAI (pronuncia-se gay-eye). Entre eles, destaca-se um wingman de IA que oferece sugestões de conversa, uma ferramenta inteligente capaz de reativar contatos antigos e resumos de perfis criados por IA. George Arison, CEO do Grindr, antecipa que os recursos mais populares serão incorporados a uma assinatura premium, reforçando o valor agregado da IA em aplicativos de namoro.
Com cerca de 15 milhões de usuários, o Hinge já utiliza uma ferramenta de IA para analisar e dar feedback sobre os perfis. Recentemente, a empresa refez seu algoritmo de matchmaking, agora com IA generativa, aprimorando sua capacidade de compreender as preferências dos usuários. Hosseini revelou que essa atualização impulsionou em 15% o número de matches, demonstrando o impacto positivo da tecnologia na eficácia das plataformas de namoro online.

Imagem: infomoney.com.br
O Bumble, por sua vez, anunciou a intenção de lançar seu próprio aplicativo de matchmaking com IA até o fim do ano. Embora o modelo de negócios ainda não esteja definido, a cobrança por match é uma possibilidade. Além disso, as principais empresas do setor estão desenvolvendo e testando internamente outras ferramentas de IA, que talvez nunca cheguem ao público. Essas inovações incluem coaches de namoro que oferecem consultoria pós-encontro e até mesmo clones de IA que “namoram” entre si, reportando os resultados para seus criadores humanos. O Facebook Dating, integrado ao aplicativo do Facebook, introduziu recentemente um recurso que permite aos usuários descreverem o par ideal (por exemplo, “moreno, trabalha com tecnologia, mora em Nova York”) para serem conectados com pessoas reais que correspondem à descrição.
No entanto, a implementação da inteligência artificial nos apps de namoro também encontra resistências, particularmente em relação à “bagunça da IA” e à automação indesejada. O Hinge, estrategicamente, evita rotular suas funcionalidades como “IA”. Esse período de inovação tem sido acompanhado por mudanças significativas na liderança das empresas. No inverno passado, o Match Group contratou Spencer Rascoff, cofundador do Zillow, como CEO, que agora supervisiona o Tinder. Whitney Wolfe Herd, fundadora do Bumble que havia deixado a empresa em 2024, retornou como CEO em março, reafirmando seu compromisso com a IA no namoro.
Wolfe Herd ressaltou em uma conferência de tecnologia no ano passado que o namoro com IA não é “uma moda passageira”. Ela declarou: “Vamos investir rápido e com força”. Para Emma Inge, a experiência no Known após anos de conexões superficiais com Hinge e Tinder representou um novo passo. Ela, que antes havia desistido dos aplicativos e buscava encontros na vida real (até se juntando a um clube de corrida às 6h da manhã, sem sucesso), foi levada a tentar a plataforma impulsionada pela IA.
No seu encontro às cegas organizado pela IA no mês passado, Inge dirigiu-se a um bar em São Francisco e se surpreendeu positivamente. Ela e o par conversaram por duas horas, descobrindo afinidades em transporte público e a paixão por novos restaurantes. Ele, que trabalhava para uma empresa de táxi robô, encaixava-se no perfil de quem se aventura em um serviço de cupido de IA, descreveu ela. Contudo, apesar da troca de números para um segundo encontro, a comunicação foi interrompida, ou seja, Inge recebeu um ghosting.
“Esse foi o golpe, que a IA realmente encontrou compatibilidade”, observou Inge, em uma reflexão que resume o desafio central. “Foi a parte humana que não funcionou.” A história de Emma Inge ressalta que, embora a tecnologia da inteligência artificial em aplicativos de namoro esteja cada vez mais avançada em criar conexões potenciais, o sucesso do romance ainda depende, essencialmente, da interação e vontade humanas.
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A discussão sobre o papel da IA em aplicativos de namoro segue em plena evolução, moldando o futuro das interações românticas no ambiente digital. Para aprofundar seu conhecimento sobre o impacto da tecnologia e as transformações na sociedade moderna, convidamos você a explorar outras matérias em nosso portal, como as publicadas em nosso blog, e manter-se atualizado com as últimas análises e tendências que influenciam o dia a dia.
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