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Publisher da Folha: IA “rouba” jornalismo de qualidade

O impacto da Inteligência Artificial no jornalismo de qualidade e a intrincada relação entre as plataformas de IA, redes sociais e veículos de imprensa profissionais estiveram no centro de um intenso debate promovido pelo Insper. Realizado na manhã desta terça-feira (30), o evento “O Futuro do Negócio do Jornalismo” reuniu importantes vozes do setor para […]

O impacto da Inteligência Artificial no jornalismo de qualidade e a intrincada relação entre as plataformas de IA, redes sociais e veículos de imprensa profissionais estiveram no centro de um intenso debate promovido pelo Insper. Realizado na manhã desta terça-feira (30), o evento “O Futuro do Negócio do Jornalismo” reuniu importantes vozes do setor para analisar a sustentabilidade financeira em um cenário de profunda transformação digital.

Participaram da discussão Luiz Frias, renomado publisher da Folha de S.Paulo e presidente do Conselho de Administração do Grupo UOL, e Erick Bretas, CEO do jornal O Estado de S. Paulo. A mediação ficou a cargo de André Lahoz Mendonça de Barros, diretor de Marketing e Conhecimento do Insper, que conduziu o diálogo sobre as perspectivas e desafios do jornalismo moderno.

Publisher da Folha: IA “rouba” jornalismo de qualidade

Este encontro marcou a etapa final de uma série de discussões focadas na perenidade do jornalismo profissional. Intitulada “Como financiar o jornalismo de qualidade?”, a rodada de debates foi uma iniciativa do Núcleo Celso Pinto de Jornalismo, fundado no Insper em 2021. Luiz Frias, um dos palestrantes, salientou a persistência da influência do jornalismo de alta qualidade. “O jornalismo de qualidade continua pautando o que as pessoas discutem, inclusive nas redes sociais”, afirmou, introduzindo a tensão crescente entre veículos jornalísticos tradicionais e as emergentes plataformas de Inteligência Artificial.

Frias traçou um paralelo com o advento do Google, que digitalizou e indexou toda a internet, e as plataformas atuais de IA, como a OpenAI. Ele observou uma evolução na forma, onde, diferentemente da apresentação de links, a Inteligência Artificial agora sintetiza e entrega um “texto final” ao usuário. No entanto, o mecanismo de captura permanece semelhante. “Mas o mecanismo é o mesmo, com a captura do jornalismo de qualidade sem direito autoral”, ponderou o publisher, destacando a problemática da apropriação de conteúdo jornalístico por parte das IAs sem a devida remuneração.

A remuneração pelo uso de conteúdo de terceiros por plataformas de IA configura-se, para Frias, como uma questão premente na agenda atual. Ele mencionou acordos existentes entre o Google e algumas empresas de mídia no Brasil, prevendo que “essa disputa vai continuar, inclusive em tribunais”. A relevância do tema foi sublinhada pela recente ação judicial movida pela Folha de S.Paulo em agosto deste ano contra a OpenAI. A ação requer que a empresa proprietária do ChatGPT cesse a coleta e o uso não autorizado e sem pagamento do vasto conteúdo produzido pelo jornal.

“É uma reivindicação legítima que essa apropriação do jornalismo seja remunerada. Não vamos morrer de tédio nos próximos anos, e acho que teremos uma solução comercial, com a remuneração das empresas”, expressou Frias, com um otimismo cauteloso. Surpreendentemente, ele acrescentou uma perspectiva peculiar sobre a prática. “Estaria mais preocupado se os modelos de IA não estivessem, de fato, roubando as informações de Estadão, Folha, Valor, se esses modelos não achassem que esse jornalismo tem relevância. Vejo esse lado positivo”, completou, sugerindo que o interesse da IA na extração de conteúdo de veículos consagrados reforça a validade e importância do jornalismo profissional.

O publisher reforçou a postura editorial da Folha, enfatizando a relevância do pluralismo e do apartidarismo na cobertura dos fatos. Ele admitiu que tais princípios são fáceis de proclamar, mas desafiadores de implementar na prática diária. “Um diferencial competitivo é fazer um jornalismo crítico e independente das tintas ideológicas do governante de turno”, pontuou, ressaltando o valor de uma imprensa vigilante e imparcial. Frias ainda mencionou que grande parte, cerca de 70% a 80%, dos assinantes da Folha mantém um perfil “core”, demonstrando fidelidade ao veículo, independentemente do panorama político.

Uma “franja” de assinantes, composta por 20% a 30% do total, mostra-se mais volátil, com sua relação com o jornal influenciada por reportagens críticas a figuras políticas que admiram. Como exemplo dessa volatilidade, ele citou o impacto do “Xandãogate” – reportagens da Folha em 2024 que detalharam ações do ministro do STF Alexandre de Moraes que teriam ocorrido fora do rito processual –, resultando no cancelamento de assinaturas por parte desse grupo de leitores.

Desafios e Posicionamento das Redes Sociais e IA

Erick Bretas, do Estadão, complementou a discussão com a perspectiva da presença digital, afirmando que um veículo jornalístico “perde o jogo por WO” se não estiver ativo em plataformas como Instagram e TikTok. “A discussão não é estar ou não estar nesses ambientes. É como estar”, destacou, abordando a inevitabilidade da presença nas redes. No entanto, ele ponderou que essas plataformas têm um efeito de “diluição” da informação jornalística, dificultando que o público associe uma notícia à sua fonte original.

Bretas exemplificou com o “caso das joias”, uma reportagem exclusiva de março de 2023. Segundo ele, muitos se recordam da notícia, mas nem todos conseguem identificar o jornal que a publicou primeiro, evidenciando o desafio da atribuição em um ecossistema de mídia fragmentado. No que tange à interação entre a Inteligência Artificial e as empresas jornalísticas, a posição de Bretas é ainda mais contundente. “O conteúdo jornalístico está sendo roubado pelas plataformas de IA. O que acontece hoje é roubo”, declarou. Ele também chamou atenção para a discrepância entre a atuação da OpenAI nos EUA, onde tem buscado acordos com veículos, e sua conduta no Brasil, onde não se observa o mesmo esforço.

Publisher da Folha: IA “rouba” jornalismo de qualidade - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Para um entendimento aprofundado dos impactos da IA no ecossistema global da informação e na proteção dos direitos autorais de conteúdo jornalístico, a UNESCO disponibiliza publicações sobre ética na IA e jornalismo.

Estudo do Insper: Tendências e Modelos de Negócio no Jornalismo Digital

A abertura do evento no Insper contou com uma apresentação do professor de administração Guilherme Fowler, que detalhou um estudo acerca dos modelos de negócio e da transformação do jornalismo na era digital. Sob a coordenação de Fowler, a pesquisa teve a colaboração dos jornalistas Mathias Felipe de Lima Santos e Stefanie Carlan da Silveira. O trabalho consistiu em uma revisão sistemática de 76 artigos acadêmicos, permitindo a identificação de seis tendências preponderantes que marcam a evolução do setor. Entre elas, destacam-se a fragmentação do consumo de notícias, a aplicação crescente de dados e Inteligência Artificial nas redações, a proliferação de formatos digitais e uma redefinição das interações entre jornalistas e profissionais de tecnologia.

A conclusão do estudo do Insper enfatizou a inexistência de um “modelo único de sucesso”, apontando para uma pluralidade de trajetórias possíveis para os veículos de mídia. De acordo com os pesquisadores, as “organizações mais resilientes são aquelas que conseguem alinhar sua proposta editorial à estrutura de financiamento, mantendo capacidade de adaptação e disposição para a experimentação”.

Na sequência da apresentação de Fowler, o Insper sediou o primeiro painel temático da manhã, intitulado “Casos de sucesso no jornalismo digital brasileiro”. Este debate reuniu Paula Miraglia, cofundadora do Nexo Jornal e da Gama Revista, além de CEO da Momentum-Journalism & Tech Task Force; Felipe Seligman, cofundador e co-CEO do site Jota; e Pedro Burgos, jornalista especializado em tecnologia e autor do livro “Conecte-se ao que Importa: Um Manual para a Vida Digital Saudável”. A moderação ficou por conta de Clara Velasco, gerente de marketing do Insper.

Paula Miraglia destacou a importância de cultivar um “apetite por inovação” nas empresas jornalísticas. Para ela, o setor “tem delegado a tarefa de inovar para as plataformas, o que nos deixou muito para trás”. Miraglia argumentou que as empresas jornalísticas necessitam participar de maneira mais ativa nas discussões sobre Inteligência Artificial no Brasil, expandindo o debate para além da mera questão de licenciamento. Pedro Burgos corroborou ao afirmar que o “dinheiro das grandes plataformas para o jornalismo está rareando e vai acabar”, sublinhando a urgência da inovação interna.

Por sua vez, Felipe Seligman acentuou a crescente relevância de “manter um contato cada vez mais direto e permanente com os leitores”. Ele concluiu que é fundamental para as organizações jornalísticas “conhecer muito bem a sua comunidade”, estabelecendo um vínculo forte e autêntico que possa assegurar sua longevidade em um cenário digital em constante mutação.

Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista

Os debates no Insper revelaram que, embora os desafios impostos pela Inteligência Artificial e a reconfiguração digital sejam imensos, o futuro do jornalismo de qualidade reside na capacidade de adaptação, na inovação contínua e na valorização do conteúdo autoral. Continue explorando as discussões sobre o panorama midiático e econômico em nossa editoria de Economia.

Crédito da imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

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