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Homenagem Emocionante a Tenório Jr.: Caetano e Gil

Em uma **homenagem a Tenório Jr.**, pianista brasileiro sequestrado e assassinado na Argentina em período que antecedeu a ditadura no país, grandes nomes da música nacional como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Joyce Moreno uniram-se para celebrar seu legado. O evento memorável ocorreu na quarta-feira, 1º de novembro, nas dependências do BNDES (Banco Nacional de […]

Em uma **homenagem a Tenório Jr.**, pianista brasileiro sequestrado e assassinado na Argentina em período que antecedeu a ditadura no país, grandes nomes da música nacional como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Joyce Moreno uniram-se para celebrar seu legado. O evento memorável ocorreu na quarta-feira, 1º de novembro, nas dependências do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), localizado no Rio de Janeiro.

A cerimônia revestiu-se de um significado ainda mais profundo e de grande peso histórico e pessoal, pois sucede a recente identificação do corpo do músico. Após quase 50 anos, seus restos mortais foram finalmente reconhecidos na Argentina. As investigações revelaram que o artista fora vítima de múltiplos disparos e, como muitas outras vítimas daquela época, sepultado em uma vala comum no cemitério municipal de Benavídez, juntamente com centenas de outros indivíduos não identificados.

Homenagem Emocionante a Tenório Jr.: Caetano e Gil

Os três netos de Tenório Jr., Sofia Cerqueira e Marina Cerqueira, além de outro neto, subiram ao palco e, com profunda emoção, discursaram, compartilhando suas percepções sobre a ausência de um avô que jamais puderam conhecer. Sofia Cerqueira expressou a dualidade da ausência e da ressonância artística: “Não conhecemos nosso avô Tenório, mas crescemos com o peso da ausência e especulações sobre um futuro violentamente arrancado. Mas a arte ressoa e a tecla do piano nunca deixou de tocar nas nossas casas”. Marina Cerqueira complementou, enfatizando a memória duradoura do músico: “Nosso avô era um artista, isso fez com que sua história não caísse no esquecimento. Mas nenhuma vítima deve ser esquecida”.

Acompanhando a celebração, os quatro filhos de Tenório – Elisa, Andrea, Francisco e Margarida – foram ao palco, recebendo flores brancas de Caetano Veloso e Gilberto Gil. A lembrança se estendeu à Carmen, mulher do pianista, que faleceu em 2019. No telão, para um público comovido e atento, foi projetada uma reprodução de uma fotografia clássica de Tenório Jr. ao piano, imagem que selava o imaginário coletivo e perpetuava a sua figura enquanto artista.

A atmosfera musical foi um dos pontos altos do tributo. Um talentoso trio, composto por Rafael Carneiro no piano, Bruno Aguilar no contrabaixo acústico e Tutty Moreno na bateria, executou com maestria os temas “Embalo”, composição autoral de Tenório Jr., e “Inútil Paisagem”, obra de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira. Ambas as faixas integram o aclamado disco “Embalo”, único trabalho autoral gravado pelo pianista em 1964, um marco na música brasileira.

Caetano Veloso, um dos artistas presentes, relembrou os encontros e planos com o homenageado: “Tenório me procurou quando me mudei de Salvador para o Rio de Janeiro, depois do exílio. Ia muito lá para casa e vinha insinuando que a gente fizesse um disco. Ficamos com esse plano que nunca se concretizou”. O cantor e compositor baiano, ao falar da identificação do corpo, demonstrou alívio: “Hoje estamos aqui para saudar o fato de que, pelo menos, rastros desse homem maravilhoso foram encontrados em Buenos Aires.”

Tenório Jr. é amplamente reconhecido como parte essencial de uma geração de músicos que moldaram o samba-jazz, um estilo musical que deixou marcas indeléveis na cena musical brasileira da década de 1960. Seu disco “Embalo”, lançado pela RGE, contou com a participação de instrumentistas lendários como Milton Banana na bateria, Paulo Moura no sax alto e Meirelles no sax tenor, consolidando seu papel inovador e aprofundado na música. Gilberto Gil, por sua vez, reforçou o significado artístico do pianista: “Foi um músico importantíssimo desse movimento de aproximação mais intensa com a música negra americana, o jazz”.

Diversas personalidades estiveram presentes na homenagem, entre elas Lucas Guanini, membro atuante da Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), responsável pela crucial coleta das impressões digitais que possibilitaram a identificação do corpo do músico. Para mais informações sobre a atuação deste importante grupo, visite o site oficial da Equipe Argentina de Antropologia Forense. Vera Paiva, renomada professora de psicologia da USP (Universidade de São Paulo) e filha de Rubens e Eunice Paiva, também compareceu, junto a Elena Zafaroni, ativista uruguaia pelos direitos humanos, e Sara Mrad, representando a filial de Tucumán das Mães de Praça de Maio, sublinhando a importância da luta pela memória e justiça.

Homenagem Emocionante a Tenório Jr.: Caetano e Gil - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Os eventos que levaram ao desaparecimento de Tenório Jr. remontam a março de 1976. Naquela ocasião, o pianista integrava uma turnê na Argentina, acompanhando Vinícius de Moraes e Toquinho, após apresentações em Montevidéu, no Uruguai. Na madrugada de 18 de março de 1976, após um concerto na icônica casa de espetáculos Gran Rex, situada na movimentada avenida Corrientes, no centro de Buenos Aires, Tenório deixou um bilhete para Toquinho, com quem dividia um quarto no Hotel Normandie. No recado, informava que sairia brevemente para comprar cigarros e fazer um lanche, mas nunca mais retornou. Por décadas, seu paradeiro permaneceu um mistério sem solução.

A identificação que agora atribui os restos mortais ao músico foi um trabalho minucioso e de grande dedicação, concretizado por meio de um cotejamento de impressões digitais. As digitais de Tenório Jr. estavam catalogadas em dois diferentes órgãos dedicados à busca de pessoas desaparecidas durante a ditadura argentina. A análise comparativa recente das informações disponíveis permitiu a crucial e definitiva identificação do pianista, encerrando um longo capítulo de incertezas.

Os restos de Tenório Jr. foram encontrados especificamente na interseção entre a avenida General Belgrano e a rodovia Panamericana, localizada na província de Buenos Aires. De acordo com as conclusões da Justiça, sua morte teria ocorrido em 20 de março de 1976, apenas dois dias após seu desaparecimento. Essa data é sombria para a história argentina, pois quatro dias depois, em 24 de março, foi deflagrado o golpe militar que mergulharia o país em um período de autoritarismo e repressão.

Durante os anos de silêncio, muitas especulações surgiram em torno do caso de Tenório Jr. A teoria mais aceita ao longo das décadas era a de que o músico, devido à sua aparência – com cabelos compridos, uma característica comum entre muitos artistas da época, mas que era frequentemente interpretada como sinal de “subversão” em relação ao sistema imposto – teria sido confundido com algum militante político pela junta militar. Essa confusão teria resultado em seu sequestro e assassinato, tornando-o mais uma vítima do terror de Estado que assolou a Argentina.

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Esta tocante homenagem reforça a importância de manter viva a memória de Tenório Jr. e de todos aqueles que tiveram suas vidas brutalmente interrompidas durante os períodos de regimes ditatoriais. Para continuar acompanhando análises aprofundadas sobre temas históricos e culturais, convidamos você a explorar outras matérias em nossa editoria de Análises.

Crédito da imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

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