Em um desenvolvimento potencialmente significativo para as complexas conversações voltadas ao fim do conflito na Faixa de Gaza, o Hamas apresentou, nesta quarta-feira (8), uma lista detalhada de reféns israelenses e prisioneiros palestinos. Este gesto sinaliza um possível progresso nas negociações de troca, conforme declarado pelo próprio grupo, que expressou otimismo quanto ao rumo das discussões sediadas em Sharm el-Sheikh, no Egito.
Além da proposta de troca, o grupo militante confirmou que as deliberações em curso estão concentradas em estratégias para uma interrupção definitiva das hostilidades e na retirada completa das forças israelenses de Gaza. Esta declaração positiva sugere uma receptividade aos 20 pontos do plano proposto pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, visto como a tentativa diplomática mais promissora até agora para silenciar os armamentos na região.
Hamas Apresenta Lista para Avançar Negociações em Gaza
Contudo, apesar do ambiente de otimismo, questões fundamentais ainda representam pontos de fricção. Israel mantém a exigência de que o Hamas deponha suas armas para que a guerra seja encerrada, uma condição que, segundo uma fonte palestina com acesso direto às negociações, o grupo não se mostrou disposto a discutir. Da mesma forma, a agência de notícias Reuters foi informada pela mesma fonte de que o cronograma para a implementação da fase inicial do plano ainda não foi acordado entre as partes.
Encontros Estratégicos e o Papel da Mediação Internacional
Nos próximos dias, a cidade turística egípcia aguarda a chegada de diversas autoridades e mediadores-chave envolvidos nas discussões, que tiveram início na última segunda-feira (6). Entre os nomes aguardados estão Jared Kushner, genro do ex-presidente Trump e que atuou como enviado especial para o Oriente Médio em seu primeiro mandato, e Steve Witkoff, atual enviado especial. Outros participantes cruciais para a continuação das tratativas incluem representantes do grupo Jihad Islâmico de Gaza, que também detém reféns israelenses, o ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer – um conselheiro próximo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu –, e o xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, primeiro-ministro do Qatar e um mediador de longa data nos conflitos regionais.
A presença do chefe da espionagem da Turquia, Ibrahim Kalin, na mesa de negociações sublinha a crescente relevância de Ancara no cenário diplomático para o conflito. Apesar de ser um influente membro da OTAN e de manter contato estreito com o Hamas, Israel historicamente não considerava a Turquia como um mediador apropriado. Em paralelo às negociações, o presidente turco, Tayyip Erdogan, revelou nesta quarta-feira que Trump havia solicitado sua ajuda para convencer o Hamas a aceitar o acordo proposto. No entanto, Erdogan reiterou sua avaliação de que o principal entrave à paz é Tel Aviv, defendendo uma pressão mais acentuada sobre Israel. Em suas palavras: “A paz não é um pássaro com uma única asa. Colocar todo o fardo da paz sobre o Hamas e os palestinos não é uma abordagem justa, correta ou realista.”
O Dilema da Governança Pós-Conflito e a Crise Humanitária
Mesmo na hipótese de um progresso substancial nas conversações, a questão da governança de Gaza após o fim do conflito permanece sem uma solução clara. Nações árabes que apoiam o plano de paz articulam que este deveria, em última instância, pavimentar o caminho para a independência de um Estado palestino – uma perspectiva veementemente rejeitada por Netanyahu. Embora o primeiro-ministro israelense, ao lado de Trump e outras potências ocidentais e árabes, descarte qualquer participação do Hamas, que assumiu o controle do território em 2007 após uma breve guerra civil com facções rivais, o plano republicano propõe que um organismo internacional, liderado pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, desempenhe um papel na administração de Gaza.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Diante desse impasse multifacetado, autoridades norte-americanas têm sugerido um foco inicial nas conversas para estabelecer a interrupção dos combates e definir a logística para a libertação tanto dos reféns israelenses detidos em Gaza quanto dos prisioneiros palestinos em Israel. Apesar desses esforços diplomáticos, os bombardeios israelenses prosseguiram na Faixa de Gaza. Houve uma redução nos ataques à Cidade de Gaza nos últimos dias, atendendo a um pedido de Trump. Contudo, relatórios de autoridades locais indicam que pelo menos oito pessoas foram mortas em todo o território palestino nas últimas 24 horas, o que representa o menor número de mortes notificado na última semana.
A ofensiva de Israel tem gerado uma crescente indignação global, culminando no deslocamento de quase toda a população de Gaza e desencadeando uma severa crise de fome, agravada pelo bloqueio à entrada de ajuda humanitária. Vários especialistas em direito internacional, bem como uma investigação conduzida pelas Nações Unidas (ONU), sugerem que as ações podem equivaler a genocídio, uma alegação negada por Tel Aviv. Conforme dados fornecidos pelas autoridades de saúde de Gaza, território sob o controle do Hamas e considerados confiáveis pela ONU, mais de 67 mil palestinos foram mortos durante o período de conflito. Esta ofensiva israelense teve início em resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.200 pessoas e no sequestro de 251 para Gaza, segundo informações de Israel.
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A apresentação da lista pelo Hamas insere um novo elemento nas complexas e tensas negociações de paz em Sharm el-Sheikh, demonstrando um passo, ainda que hesitante, rumo a uma potencial solução para a crise de reféns e a redução da violência. Permanecem desafios significativos relacionados à desmilitarização do Hamas e à governança pós-guerra em Gaza, ressaltando a delicadeza de cada etapa diplomática. Continue acompanhando a cobertura internacional em nosso portal para analisar os desdobramentos políticos e humanitários desse conflito. Saiba mais sobre política global.
Crédito da imagem: Ebrahim Hajjaj/Reuters
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