Na sua décima passagem pelo Brasil, o show do Guns N’ Roses em São Paulo no último sábado, dia 25, consolidou a banda como um fenômeno de devoção, superando as expectativas vocais e mantendo o fervor de uma multidão vestida em preto no Allianz Parque. Mesmo sem lançar um novo álbum desde 2008 e com Axl Rose longe do auge de sua performance vocal, a lendária banda americana demonstrou que sua relevância transcende o tempo, conectando-se profundamente com um público que anseia pela nostalgia.
A apresentação em solo paulistano, que arrecadou vultosas quantias com a venda de merchandising a 200 reais nos corredores lotados, foi um testemunho do poder da memória afetiva. Esta conexão resgata em quarentões e cinquentões a euforia de quando tinham menos da metade de suas idades atuais, explicando a dedicação inabalável dos fãs, dispostos a vivenciar a experiência ao vivo de seus ídolos, independentemente de polêmicas passadas ou da condição atual da banda.
Guns N’ Roses em São Paulo: Axl Rose e a lealdade dos fãs
É inegável que, para muitos, Axl Rose assumiu uma forma vocal que alguns comparam, metaforicamente, à de Zezé di Camargo em alusão à incapacidade de reproduzir os agudos e malabarismos vocais de antigamente. Contudo, essa constatação é eclipsada pela potência intrínseca de clássicos atemporais. Músicas como “Sweet Child o’ Mine”, “Paradise City” e a célebre “É o Amor” – mesmo esta não sendo da banda – continuam a emocionar a plateia. Momentos de celebração ocorreram em faixas onde o cantor entregou performances corretas, como na emotiva “Yesterdays”, na explosiva abertura com “Welcome to the Jungle” e no tradicional dueto com o público em “Knockin’ on Heaven’s Door”. Em contrapartida, houve instantes em que os vocais de “You Could Be Mine” e “Civil War” pareceram ter o microfone desligado.
A defesa do frontman do Guns N’ Roses é compreensível. Seria irreal esperar de um artista de 63 anos, com um histórico conhecido de excessos, uma performance vocal idêntica àquela de seu apogeu, que incluía vocais tão esganiçados, potentes e agudos. A transformação da voz para um tom mais grave ao longo do tempo é um processo natural para cantores. Além disso, a banda merece reconhecimento por consistentemente entregar shows de longa duração, frequentemente com pouco mais ou pouco menos de três horas de música intensa, garantindo uma experiência completa aos seus seguidores.
Embora uma solução para a questão vocal pudesse ser a incorporação de mais integrantes para apoio nos vocais, como é ocasionalmente visto com o baixista Duff McKagan, Axl Rose opta por se expor, encarando o palco sem um grande time de vozes de apoio, algo comum em muitos grupos veteranos. Para os admiradores, essa ideia óbvia é compreendida: a potência vocal e o fôlego de Axl não são os mesmos dos lendários shows do Rock in Rio de 1991 e 2001. E essa percepção é aceita; a atração é tão grande que uma legião de fãs se acotovelaria para vê-lo no Allianz Parque, mesmo que ele apenas caminhasse de um lado ao outro do palco sem cantar música nenhuma.
A essência do fascínio em torno do Guns N’ Roses foi bem resumida por Roberto Medina, fundador do Rock in Rio, que observou que, mesmo com as críticas à voz de Axl por parte da mídia, a banda “vai lotar outra vez”. Ele define esse fenômeno como ir “além da sua música e se torna uma entidade”, um ponto endossado pela experiência do show. Essa visão de Axl Rose e de artistas que, com o tempo, desenvolvem um legado tão grande que transcende suas capacidades puramente performáticas é uma característica presente na indústria do entretenimento, onde o carisma e a história valem ouro.
Uma das poucas novidades da turnê brasileira foi a introdução do baterista Isaac Carpenter. Aos 46 anos, Carpenter assumiu o posto em março de 2025, sucedendo Frank Ferrer, que integrou a banda por 19 anos. Diferentemente de Ferrer, que fez parte de uma formação longe dos anos de ouro da banda, Isaac já havia colaborado com artistas como Adam Lambert e participou de projetos de Duff McKagan, trazendo sua própria bagagem musical para a formação atual do Guns N’ Roses.

Imagem: g1.globo.com
Em contraste com vindas anteriores, o repertório apresentado em São Paulo não conseguiu cativar a plateia em todos os momentos. Covers de Velvet Revolver, que originalmente contava com Duff e o guitarrista Slash, e a escolha do country roqueiro Jimmy Webb resultaram em um leve arrefecimento da energia do público. Adicionalmente, a inserção das composições mais recentes do Guns N’ Roses – “Perhaps” e “The General”, ambas de 2023, e “Hard Skool”, de 2021 – acabou prejudicando a dinâmica da primeira hora do espetáculo, esfriando um pouco a recepção da plateia que aguardava os grandes hits. Apesar disso, houve espaço para uma homenagem póstuma a Ozzy Osbourne, ícone do Black Sabbath, celebrada com “Sabbath Bloody Sabbath” e “Never Say Die”, relembrando o legado de um dos maiores nomes do rock mundial.
Desde o aguardado retorno de Slash e Duff McKagan à formação do Guns N’ Roses em 2016, a sonoridade original e poderosa da banda foi restaurada. Com a presença de seus membros históricos, o grupo entregou shows formidáveis no Brasil desde então, embora a performance do último sábado em São Paulo, apesar de marcante pela lealdade incondicional dos fãs, não tenha figurado entre as mais espetaculares pós-reunião. A história do rock, como pontuado em diversos veículos de imprensa e portais culturais de renome, revela a longevidade e a transformação das bandas lendárias. Acesse mais conteúdos sobre cultura e o universo da música.
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Em resumo, o recente espetáculo do Guns N’ Roses em São Paulo reforçou a força duradoura de seu legado e a profunda conexão emocional com os fãs. Apesar dos debates sobre a performance vocal de Axl Rose e as escolhas de repertório, a devoção do público e a atmosfera vibrante prevaleceram, consolidando o status icônico da banda. Para mais análises sobre ícones da música, suas turnês e tudo que acontece no universo das celebridades, continue acompanhando a nossa editoria de Celebridades.
Crédito da imagem: Braulio Lorentz/g1

