A brutalidade do conflito em Gaza resultou em uma crise humanitária de proporções alarmantes, afetando desproporcionalmente as crianças da região. Um novo relatório do Comitê da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CRPD, na sigla em inglês) revelou dados sombrios, indicando que a guerra na Faixa de Gaza deixou, até o momento, pelo menos 21 mil crianças com algum tipo de deficiência. Esse número representa mais da metade de todas as crianças feridas desde o início dos confrontos intensificados.
Nos quase dois anos de escalada militar, aproximadamente 40.500 crianças foram vítimas diretas dos ferimentos causados pela guerra, tornando a situação na Faixa de Gaza uma das mais devastadoras para a população infantil. As cicatrizes físicas e mentais resultantes desses ferimentos são profundas e duradouras, alterando permanentemente a vida de milhares de jovens palestinos. A urgência da situação clama por uma atenção global para os direitos e a proteção desses indivíduos vulneráveis.
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Alerta Urgente do Comitê da ONU e Implicação Humana
O Comitê da ONU, um grupo de especialistas que se reúne bianualmente em Genebra, Suíça, sublinha a gravidade da crise. Eles emitiram um apelo categórico, exortando Israel a implementar ações específicas e robustas para a proteção das crianças com deficiência contra ataques militares. Além disso, o comitê enfatiza a necessidade de estabelecer protocolos de retirada de civis que levem em consideração as necessidades especiais das pessoas com deficiência, garantindo sua segurança e dignidade em situações de risco. A falta de tais medidas preventivas e adaptativas tem consequências fatais.
Desafios Cruéis de Sobrevivência para Pessoas com Deficiência
A realidade no terreno é marcada por histórias trágicas. Muhanad Al Azzeh, um dos respeitados membros do comitê, compartilhou em uma coletiva de imprensa o exemplo de uma mãe surda, lamentavelmente morta em Rafah junto com seus filhos, por não ter conseguido ouvir as instruções de retirada de civis em meio ao caos. Este caso ilustra a vulnerabilidade extrema de pessoas com deficiência em zonas de conflito onde a comunicação e o acesso à informação são cruciais para a sobrevivência.
Os relatos dos especialistas pintam um cenário desolador. Pessoas com deficiência são frequentemente compelidas a se deslocar em condições degradantes e inseguras, como “rastejando pela areia ou lama sem ajuda para se deslocar”, enfrentando barreiras físicas e logísticas insuperáveis. A perda de dispositivos de assistência, como cadeiras de rodas e muletas, combinada com a destruição da infraestrutura e a proliferação de escombros, impede drasticamente a mobilidade e o acesso a locais seguros ou a ajuda humanitária.
Impacto Desproporcional na Ajuda Humanitária
As restrições impostas à entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza amplificam significativamente o sofrimento das pessoas com deficiência. Para muitos deles, o acesso a bens essenciais como alimentos nutritivos, água potável e saneamento básico tornou-se quase impossível. A sobrevivência de uma parcela considerável dessas pessoas depende inteiramente do suporte de outros, uma dependência que se agrava diante da escassez generalizada de recursos e da desestruturação social provocada pelo conflito.
Barreira na Distribuição e a Desigualdade no Acesso
A decisão de centralizar a distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, concentrando-a em poucos pontos estratégicos, é apontada como um fator complicador de acesso para pessoas com deficiência. Antes da guerra, o sistema da ONU operava com aproximadamente 400 centros de entrega no território palestino. Atualmente, a Fundação Humanitária de Gaza (FHG), uma organização privada apoiada por Israel e Estados Unidos, dispõe de apenas quatro centros de distribuição.
Essa drástica redução e centralização do sistema de entregas impõe barreiras quase intransponíveis. Conforme enfatizado por Al Azzeh, “não se pode esperar que crianças com deficiência corram” e se desloquem até esses pontos de distribuição, que frequentemente ficam distantes e são difíceis de acessar devido aos escombros e à infraestrutura danificada. Para o comitê da ONU, a prioridade absoluta da ajuda humanitária deveria ser a de alcançar diretamente as crianças com deficiência, adaptando as entregas às suas condições de mobilidade e necessidades.
A Problemática Classificação de Equipamentos Essenciais
A situação é ainda mais complicada pela escassez crítica de dispositivos de assistência. De acordo com o comitê, um impressionante percentual de pelo menos 83% das pessoas com deficiência na Faixa de Gaza perderam seus equipamentos essenciais. A maioria delas não conseguiu encontrar alternativas viáveis, chegando ao ponto de improvisar com soluções precárias, como carroças puxadas por burros, para tentar alguma forma de mobilidade.
Uma das maiores preocupações dos especialistas reside na postura das autoridades israelenses, que classificam dispositivos médicos e de assistência, como cadeiras de rodas, andadores, bengalas, talas e próteses, como “artigos de uso duplo”. Essa designação os categoriza como potencialmente ofensivos, resultando em sua exclusão ou restrição severa nos envios de ajuda humanitária. Tal medida impede que equipamentos vitais cheguem a quem mais precisa, agravando a crise de mobilidade e autonomia para milhares de indivíduos.
Apelo Final e Consequências de Longo Prazo
Diante desse cenário devastador, o CRPD emitiu um forte apelo à comunidade internacional e às partes envolvidas no conflito. O comitê clamou pela entrega urgente de uma “ajuda humanitária massiva às pessoas com deficiência” afetadas pela guerra, instando todas as partes a adotarem medidas de proteção concretas para esses indivíduos. O objetivo é claro: prevenir “novas violências, danos, mortes e privações de direitos” que têm assolado essa população vulnerável.
Os números gerais de feridos também são chocantes. O comitê reporta que pelo menos 157.114 pessoas sofreram ferimentos de guerra na Faixa de Gaza. Desse total alarmante, mais de 25% correm o risco significativo de desenvolver deficiências permanentes, o que projeta uma crise de saúde pública e assistência social de longa duração para o território. As consequências do conflito transcenderão a linha do cessar-fogo, deixando um legado de dor e desafios que exigirão um esforço global e sustentado para serem mitigados.
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A realidade em Gaza, conforme delineada pelo Comitê da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, revela uma crise de direitos humanos e uma necessidade urgente de intervenção. A proteção e o apoio às crianças e pessoas com deficiência na Faixa de Gaza devem se tornar uma prioridade humanitária inegável, com medidas concretas para garantir seu acesso a direitos fundamentais e dignidade.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
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