A figura de Greta Thunberg, ativista climática sueca mundialmente conhecida, continua a gerar intensas reações, frequentemente carregadas de hostilidade. Segundo observações da escritora e roteirista Giovana Madalosso, uma das idealizadoras do movimento “Um Grande Dia para as Escritoras”, cada vez que o nome de Greta é pauta em suas colunas, uma onda de ódio digital se levanta, disparada por detratores que atacam tanto a ativista quanto quem ousa escrever sobre ela. Esta dinâmica não é exclusiva de uma única plataforma; a agressividade se manifesta de forma consistente em diversos veículos e redes sociais, ilustrando um padrão coletivo de antagonismo veemente e desproporcional.
Madalosso ressalta que criticar personalidades públicas não é incomum na sociedade moderna – ela inclusive faz uma comparação com Jesus Cristo, que, se estivesse vivo nos dias atuais, certamente enfrentaria sua cota de “cancelamento”. Contudo, o que diferencia as críticas a Greta Thunberg, especialmente após sua libertação de uma prisão em Israel, é o teor e a virulência dos comentários. Não se trata de debate construtivo, discordância ideológica ou contestação de argumentos, mas de ataques que descambam para o pessoal e o profundamente depreciativo, frequentemente permeados por ódio e preconceito.
Greta Thunberg: Análise da Misoginia e Críticas no Ativismo
Uma análise mais profunda dos comentários direcionados à ativista, destacados por Madalosso em um único post de um grande veículo, revela um vocabulário profundamente ofensivo e desumanizador. Expressões como “Se sofreu tanto, por que está tão roliça?”, “Fizeram ela tomar banho e pentear os cabelos”, e a horrenda “Pena que não foi jogada em Megido numa cela com 500 pra ser currada” ilustram a agressividade verbal e a cosificação. Outros comentários sugerem um retorno a estereótipos de gênero antiquados, buscando relegar a mulher a papéis sociais limitados, com frases como “Se ela fosse cuidar de casa teria mais prestígio”, “Isso é falta de lavar uma louça” ou “Não tem roupa para lavar?”. O desfile de insultos diretos como “Vadia”, “Vagabunda” e “Vaca”, além da inclusão de um macabro “Sem óbito, sem like”, aponta para uma sede de violência extrema e desconsideração pela vida humana. O aspecto mais chocante, frisa Madalosso, é a falta de qualquer constrangimento por parte dos agressores ao proferirem tais sentenças em um post público, mostrando um padrão social permissivo a esse tipo de assédio.
Para Giovana Madalosso, o ponto central por trás dessas manifestações não é a mera divergência de ideias ou uma contestação genuína ao ativismo ambiental, mas sim a misoginia flagrante. Ela questiona enfaticamente o que esses comentários têm em comum além de sua superficialidade, sua grosseria e a ausência de qualquer argumento substancial: a resposta, irrefutavelmente, é que todos são saturados de preconceito de gênero. Ao dissecar as críticas, percebe-se um padrão que envolve o julgamento da aparência física (com claros traços de gordofobia), a tentativa de relegar a mulher ao papel doméstico, incitações diretas a estupro e, implicitamente, a feminicídio. A pergunta fundamental que se impõe é: um ativista homem com um perfil de destaque semelhante ao de Greta seria alvo do mesmo tipo de ataque? A experiência e a observação de Madalosso sugerem que tais ataques misóginos, desprovidos de argumentos e focados no aviltamento pessoal, são reservados especificamente para figuras femininas que ousam se destacar, confrontar o status quo e exercer liderança na esfera pública.
Além das ofensas diretas proferidas por usuários anônimos ou pseudônimos, líderes mundiais também contribuem para o cenário de descredibilização. O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por exemplo, referiu-se à ativista como “louca” no dia em que ela foi libertada. Madalosso reflete sobre a ironia e a falsidade dessa acusação: o que haveria de “louco” em integrar uma missão humanitária dedicada a fornecer alimentos e medicamentos a uma população afetada por bloqueios, fome e genocídio? O que seria insano em manifestar-se de forma pacífica contra uma crise climática iminente, que ameaça todas as formas de vida na Terra? A urgência de ação diante da crise climática global é uma pauta constantemente levantada por entidades como as Nações Unidas. Pelo contrário, a atitude de Greta Thunberg de conectar a crise climática ao colonialismo é descrita como “extremamente lúcida”. A “loucura”, nesse contexto, pareceria ser a ignorância e a negação do aquecimento global, postura frequentemente adotada pelos próprios detratores da ativista.
A estratégia de Donald Trump, ao desqualificar a ativista com o adjetivo “louca”, é reveladora do jogo de poder de gênero. Trata-se de um expediente comum empregado por muitos homens para silenciar e invalidar a voz de mulheres quando lhes faltam argumentos consistentes e relevantes para um debate racional. Sem fundamentos lógicos ou críticas embasadas para contestar as pautas e as ações de Greta Thunberg, o recurso é apelar para a desmoralização pessoal, com o objetivo de diminuir sua autoridade, desviar o foco de sua mensagem e, em última instância, tentar neutralizar seu impacto. Essa tática é um espelho do comportamento daqueles que proferiram os comentários hostis, misóginos e vazios encontrados nas redes sociais, revelando uma tentativa sistemática de descredibilizar a ativista.
Ainda que existam opiniões divergentes sobre o ativismo de Greta Thunberg, é inegável sua retidão, sua autenticidade e seu inabalável comprometimento com suas convicções. Mas, se há essa integridade e transparência, por que tamanha ira? Madalosso sugere que a ativista tanto fascina quanto assombra. Ela fascina por sua notável força, sua determinação inabalável e uma disposição para a ação que muitos de seus detratores – frequentemente acomodados em seus próprios espaços de conforto, crendo que mudam o mundo com meros comentários odiosos e repletos de fúria online – simplesmente não possuem. Sua capacidade de não se acuar, de não se deixar inibir pela persistente violência patriarcal e de não usar o próprio sofrimento (como o que possivelmente vivenciou durante sua prisão em Israel) para autopromoção é o que realmente captura a atenção e o respeito de muitos observadores ao redor do globo, distinguindo-a de outras figuras públicas.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Por outro lado, Greta assombra exatamente por essa inquebrantável lealdade ao que acredita e à causa que defende. Enquanto grande parte da sociedade se move em uma busca desesperada por sucesso, fama, aceitação social e os efêmeros “likes” em redes sociais, muitas vezes comprometendo valores por validação, Greta Thunberg mantém-se firmemente ancorada em seus princípios. Ela prossegue, mesmo que isso signifique enfrentar um certo ostracismo midiático, pois a fidelidade à causa precede a busca por popularidade. Ela é um contraste vivo para aqueles que trocam sua integridade por validação digital, como demonstram os “comentários miseráveis” que são amplamente proferidos. Seu compromisso genuíno e destemido com o combate à crise climática e à injustiça global a posiciona como uma voz potente e inflexível, que não se curva a pressões externas, a campanhas de difamação ou à busca por fama.
O impacto do ativismo de Greta Thunberg transcende as fronteiras do debate ambiental, servindo como um revelador das profundas raízes da misoginia na esfera pública e da dificuldade de certos setores em aceitar e valorizar o protagonismo feminino. Sua trajetória é uma demonstração palpável de como as vozes que questionam o status quo e defendem a urgência da mudança, especialmente quando são femininas, jovens e independentes, podem evocar reações violentas e desproporcionais, motivadas não por argumentação racional ou debate de ideias, mas por preconceitos enraizados e medos inconscientes de uma ordem social em transformação.
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Para concluir, a coluna de Giovana Madalosso lança luz sobre uma faceta preocupante do debate público contemporâneo: o desdém e o ódio visceral frequentemente direcionados a ativistas como Greta Thunberg. Mais do que criticar uma pauta específica, esses ataques revelam uma forte corrente misógina que busca sistematicamente silenciar e descredibilizar vozes femininas potentes na arena pública. Este padrão de agressão revela muito mais sobre os próprios críticos e suas fragilidades do que sobre a ativista em si. Continue acompanhando nossas análises aprofundadas sobre questões sociais e políticas em https://horadecomecar.com.br/analises/ativismo-e-resistencia-em-cenarios-complexos, explorando os desafios e nuances dos movimentos de resistência em um mundo em constante mudança.
Crédito da imagem: Tom Little – Reuters
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